26 ¶ Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. 27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gênesis 1:26-27, ARA)
Vemos aqui o relato da criação do homem e da mulher, como um
resumo. Mais adiante, no capítulo 2, teremos de forma mais detalhada a criação
do homem, mostrando que, diferente dos outros seres vivos, ele foi moldado
pelas mãos de Deus (Gênesis 2:7). No
sexto dia, Deus criou todos os animais terrestres e também o homem e a mulher (Gênesis
1:24-31).
Diferente dos animais, Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança. Notem que está no plural: “nossa semelhança”. E também a ordem dada
por Deus é “façamos”. Isso nos mostra que Deus não estava só na criação. Já
aqui vemos a atuação da Trindade desde o princípio, algo que seria revelado com
mais clareza no Novo Testamento (João 1:1-3; Colossenses
1:16-17). É como se Deus dissesse ao Filho: “Vamos
fazer o homem à nossa imagem e semelhança”.
Ser igual a Deus em imagem e semelhança não quer dizer aparência
física, pois Deus é espírito (João 4:24),
mas significa que o homem foi criado com emoções, sentimentos, vontade,
inteligência, capacidade de se relacionar e exercer domínio. Amor, afeto,
satisfação, alegria: tudo isso o homem recebeu de Deus. E, além disso, o texto
mostra que o homem teria domínio sobre todas as criaturas.
Ou seja, assim como Deus governa sobre tudo, deu ao homem essa
autoridade de dominar os seres vivos. Mas junto com esse domínio, veio também a
responsabilidade. Deus criou tudo e deu ao homem, mas para que ele cuidasse. O
homem foi encarregado de cuidar com amor de todas as criaturas que lhe foram
entregues.
A Bíblia mostra que Deus se importa com os animais e espera que
o homem também se importe. Há uma responsabilidade moral nisso:
“O justo atenta para a vida dos seus animais,
mas o coração dos perversos é cruel” (Provérbios 12:10, ARA).
Esse versículo mostra que o justo trata bem os animais, enquanto
o ímpio os maltrata. Isso quer dizer que o domínio que Deus deu ao homem sobre
os animais não é para ser exercido com crueldade, mas com sabedoria e
compaixão.
Portanto, o que Deus entregou ao homem não foi apenas o poder de
governar, mas a missão de cuidar de toda a criação com amor e responsabilidade.
O
PROPÓSITO DE MULTIPLICAR: UM PRINCÍPIO ESTABELECIDO POR DEUS
28 E
Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo
animal que rasteja pela terra. (Gênesis 1:28, ARA)
Essa é uma das primeiras declarações de propósito dadas por Deus
à humanidade. Muitos se perguntam: "Qual é o meu propósito de
vida?" ou "Por que eu existo, o que devo alcançar?”, e a
resposta, ao menos em parte, está desde o início da criação: Deus criou o homem
com a responsabilidade de dominar a criação, cuidar do que foi feito e,
especialmente, multiplicar-se.
Logicamente, esse não é o único propósito que temos nesta vida.
São vários os propósitos estabelecidos por Deus para todos nós:
- Glorificar
a Deus com nossa vida e atitudes (Isaías 43:7);
- Amar
a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos
(Marcos 12:30-31);
- Ser
semelhantes a Jesus Cristo, em caráter, atitude e obediência
(Romanos 8:29);
- Pregar
o evangelho e fazer novos discípulos (Mateus
28:19-20);
- Viver
separados do pecado, em santidade e integridade diante de Deus e dos
homens (1 Pedro 1:16);
- Praticar
boas obras que glorifiquem a Deus e abençoem o próximo
(Efésios 2:10);
- Buscar,
em primeiro lugar, o Reino de Deus, confiando que Ele cuidará do restante
(Mateus 6:33);
- Ser
o sal da terra e a luz do mundo, influenciando com verdade, justiça e amor
(Mateus 5:13-14);
- Servir
aos outros com os dons que Deus nos deu (1 Pedro 4:10).
Entre vários outros propósitos de vida, não estamos aqui apenas
de passagem, esperando a volta de Jesus. Temos objetivos bem concretos
enquanto aguardamos Aquele que nos prometeu a vida eterna (João
14:3).
Mas agora, focaremos no propósito inicial que Deus nos deu:
o de nos multiplicarmos.
Multiplicar-se
vai além de apenas ter filhos
Quando Deus ordena “multiplicai-vos”, Ele não está apenas
incentivando a reprodução, mas estabelecendo um princípio de continuidade e
crescimento da raça humana. Ter apenas um filho não representa
multiplicação, pois estatisticamente, com o tempo, isso levaria à extinção da
espécie.
Da mesma forma, ter apenas dois filhos também não garante
multiplicação, apenas mantém a população no mesmo nível, e isso considerando um
cenário ideal, onde não há mortes prematuras, infertilidade ou outros fatores
impeditivos. No entanto, mesmo com três filhos por casal, ainda não se pode
considerar uma multiplicação expressiva, pois fatores como doenças, acidentes,
infertilidade ou mortes precoces podem impedir que todos eles se reproduzam, o
que estatisticamente tende apenas a manter a população estável, sem um
crescimento significativo. A multiplicação real começa a partir de quatro
filhos por casal: dois substituem o pai e a mãe, o terceiro representa um
possível crescimento, e o quarto confirma uma tendência de multiplicação da
raça.
Mas
por que não funciona com apenas um filho?
Alguns podem pensar: “Mesmo com um filho, minha linhagem
continuará: ele terá um filho, meu neto terá outro filho e assim por diante.”
No entanto, essa lógica ignora um fator essencial: cada filho que nasce
precisa de um cônjuge para se reproduzir, e esse cônjuge também vem de
outro casal. Se todos os casais tiverem apenas um filho, em poucas gerações a
população entra em colapso.
Veja o raciocínio:
- Um
filho precisa de outro para formar um novo casal;
- Um
neto requer a união de dois descendentes;
- Para
um bisneto nascer, são necessários ainda mais descendentes de outros
casais;
- E
assim por diante, formando uma progressão descendente.
A
imagem abaixo ilustra esse conceito
Na figura, mostro como a reprodução humana seria insustentável
se cada casal tivesse apenas um filho. A árvore genealógica afunila a cada
geração, mostrando que, com o tempo, não haveria pessoas suficientes para
formar novos casais.
A imagem ilustra de forma clara e objetiva o que acontece quando
casais têm apenas um filho: a extinção gradual da população.
No exemplo, temos quatro casais (oito pessoas) na primeira
geração. Cada casal tem apenas um filho, totalizando quatro filhos. Se esses
filhos se agruparem em casais (dois casais), e cada um desses novos casais
também tiver apenas um filho, a terceira geração contará com apenas duas
pessoas.
Na sequência, se essas duas últimas pessoas (homem e mulher) se
casarem e tiverem apenas um filho, a quarta geração terá apenas uma única
pessoa. Nesse ponto, a linhagem termina, pois um indivíduo sozinho não pode
formar casal nem gerar descendência.
Esse exemplo mostra que, mesmo com condições ideais, ou seja,
todos os filhos sobrevivendo e formando casais com parceiros do sexo oposto,
ter apenas um filho por casal leva à extinção em apenas três gerações. Isso
evidencia que não há multiplicação, nem mesmo manutenção da população, mas sim
um declínio acelerado.
Portanto, fica claro que a escolha por ter apenas um filho
contribui diretamente para a diminuição e possível extinção da raça humana ao
longo das gerações.
O
PROPÓSITO DE MULTIPLICAR AINDA É VÁLIDO?
Atualmente, existem inúmeras desculpas para que casais não
tenham filhos ou, quando muito, optem por ter apenas um. No entanto, podemos
perceber que até nisso o inimigo tem agido, levando o ser humano a se comportar
de forma contrária à vontade de Deus.
Uma das justificativas apresentadas é a de que essa “ordem” ou
bênção de se multiplicar era apenas para o tempo da criação. Mas, se adotarmos
essa lógica, corremos o sério risco de relativizar outras passagens bíblicas,
como, por exemplo, considerar que as cartas de Paulo serviram somente para os
cristãos daquela época, ou que a ordem de fazer discípulos se limitava àquele
grupo de pessoas que conviveram com Jesus (Mateus 28:19-20). Isso comprometeria
todo o fundamento da fé cristã, pois estaríamos decidindo, de forma subjetiva,
quais mandamentos ainda valem ou não.
A verdade é que não há argumento bíblico válido que anule a
ordem de multiplicar-se. Pelo contrário, há evidências bíblicas de que
esse princípio continua atual, pois ele se fundamenta na criação e no
propósito inicial de Deus para a humanidade (Gênesis 1:28).
Desculpas
comuns para evitar filhos
Entre os argumentos mais comuns, está a questão financeira.
Muitos casais temem não conseguir sustentar adequadamente uma criança ou acham
que os custos de criação são altos demais. No entanto, na maioria dos casos,
esse argumento esconde uma motivação egoísta: o verdadeiro medo não é passar
necessidade, mas abrir mão do conforto pessoal e dos prazeres supérfluos.
A dificuldade não está em sustentar um filho, mas em manter o padrão de consumo
desejado, como as viagens de férias, o carro com roda estilosa, os jantares
frequentes e o estilo de vida livre de grandes responsabilidades. Assim,
evita-se o peso e o compromisso da paternidade ou maternidade para preservar
uma liberdade pessoal baseada no prazer momentâneo.
Outro argumento recorrente é o sofrimento: há quem diga que
colocar um filho neste mundo é expô-lo à dor e ao mal, como se a vida fosse
apenas sofrimento. Contudo, ao agir assim, também estaríamos privando essa nova
vida das alegrias, dos propósitos e, principalmente, da esperança eterna que há
em Cristo Jesus.
Além disso, também é crescente a influência de ideologias
modernas, como o movimento feminista contemporâneo, que contribui para a
rejeição da maternidade como vocação. Ao valorizar a autonomia individual acima
de tudo e ao criticar o papel tradicional da mulher como esposa e mãe, muitas
mulheres passam a enxergar os filhos como um “empecilho” à realização profissional,
à liberdade ou ao prazer pessoal. Essa mentalidade, aliada ao individualismo e
ao hedonismo (viver só para o prazer) da sociedade atual, tem afastado muitos
casais do propósito divino de frutificar e multiplicar, trocando a
responsabilidade da geração de vidas pela busca de conforto, status e liberdade
pessoal.
Quando pensamos apenas no sofrimento presente, esquecemos que há
uma glória futura que será revelada aos filhos de Deus (Romanos
8:18), e que o plano eterno de Deus é restaurar
todas as coisas, permitindo-nos viver eternamente com o Pai e com o Filho (Apocalipse
21:3-4). Ao evitarmos ter filhos com base nesses
argumentos, privamos potenciais novas vidas da oportunidade de conhecerem a
salvação em Cristo e, consequentemente, de desfrutarem da vida eterna.
Assim, até mesmo o propósito de fazer novos discípulos se perde dentro de
nossa própria casa.
Discípulos
dentro do lar
Um dos propósitos mais claros na Bíblia é o de fazer novos
discípulos (Mateus 28:19).
Quando limitamos a quantidade de filhos ou optamos por não os ter, também
estamos limitando a possibilidade de formar discípulos no seio da nossa
própria família.
Logicamente, sabemos que a salvação é individual (veja esse estudo bíblico aqui), mas a influência
espiritual dos pais é poderosa. Um filho criado sob a orientação da Palavra
de Deus, com ensino e exemplo piedoso dos pais, dificilmente se afastará do
caminho da fé. É o que a Bíblia ensina:
“Ensina
a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho, não se
desviará dele.” (Provérbios 22:6)
Portanto, ao considerarmos a multiplicação como parte do
propósito divino, compreendemos que ela não se resume apenas ao crescimento
populacional, mas também ao crescimento espiritual. Gerar filhos é também
uma forma de gerar discípulos, influenciar eternamente outras vidas e
cooperar com os planos redentores de Deus neste mundo.
Além disso, o mandamento de “fazer discípulos de todas as
nações” (Mateus 28:19) é uma das
evidências de que o plano original da multiplicação permanece válido, e não
o contrário, como alguns argumentam. A ordem de multiplicar-se dada em Gênesis
não foi revogada, mas ampliada com um significado ainda mais profundo em
Cristo: agora, além de multiplicar fisicamente, somos chamados a multiplicar
espiritualmente, gerando filhos na fé. Portanto, limitar ou negar esse
propósito, seja por medo, insegurança ou por argumentos contrários às
Escrituras, é ir na direção oposta à vontade expressa de Deus desde o
princípio.
29 ¶ E
disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se
acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê
semente; isso vos será para mantimento.
30 E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos
os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para
mantimento. E assim se fez. 31 ¶ Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era
muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.” (Gênesis 1:1-31 RA)
No princípio, não havia carnivorismo. Não havia consumo de carne, nem havia a permissão de Deus para
que o homem comesse animais, tampouco para que os animais devorassem uns aos
outros. Esse era o plano alimentar original: tanto os seres humanos quanto
os animais se alimentavam exclusivamente de vegetais. Não havia doenças,
nem pragas aflitivas como moscas ou pernilongos com os propósitos prejudiciais
que conhecemos hoje. Embora esses seres já existissem, sua atuação não era
danosa, pois tudo cooperava para um ambiente que agradava a Deus e era
livre de aflições, tudo “era muito bom”.
A permissão para o consumo de carne veio somente após
o dilúvio, quando as plantas e os frutos da terra foram destruídos ou
ficaram inacessíveis sob lama e água. Nesse contexto, Deus disse a Noé:
“Tudo
o que se move e vive vos servirá de alimento; como vos dei a erva verde, tudo
vos dou agora” (Gênesis 9:3, RA). (Veja mais sobre esse tema nesse estudo)
Isso não significa que hoje somos proibidos de comer carne, a
permissão ainda permanece válida. O próprio Senhor Jesus comeu peixe
após a ressurreição (Lucas
24:42–43, João 21:9–13). Além disso, em outra ocasião, Jesus participou da multiplicação
de peixes para alimentar a multidão (Mateus 14:17–20).
Embora o ideal original fosse um mundo sem morte, sofrimento ou
carnivorismo, a realidade atual é diferente devido à queda (Gênesis
3). Contudo, isso não anula a graça e a provisão de Deus, que,
mesmo em um mundo corrompido, continua a cuidar do sustento dos seres humanos.
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