20 ¶ Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus. 21 Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom. 22 E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves. 23 Houve tarde e manhã, o quinto dia.
A criação dos seres aquáticos e das aves
O quinto dia é marcado pela criação das criaturas marinhas, dos
seres que se movem rente ao fundo das águas e das aves. O contexto é claramente
voltado aos ambientes aquáticos, portanto, os "seres que rastejam"
mencionados aqui não se referem aos répteis terrestres, que seriam criados no
sexto dia. Em vez disso, trata-se de animais marinhos que habitam e se deslocam
próximos ao fundo do mar, como moluscos (polvos, lulas), crustáceos
(caranguejos, camarões), equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços-do-mar) e peixes
bentônicos (como linguados e arraias).
A bênção da fecundidade
No quinto dia, Deus criou os animais marinhos e as aves, e logo
os abençoou com a capacidade de se reproduzirem. A frase “sede fecundos
e multiplicai-vos” não é apenas uma ordem, mas uma benção. Deus não
apenas mandou, mas capacitou esses seres a gerar vida.
Essa benção permitia que enchessem os mares e os céus com sua
descendência. Por isso, não se multiplicar seria ir contra a benção recebida,
pois significaria não cumprir o propósito que Deus lhes deu.
Em resumo: multiplicar-se era uma resposta natural à benção
divina, um sinal de que estavam vivendo conforme a vontade do Criador.
O sexto dia e a criação dos animais
terrestres
24 ¶
Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie:
animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E
assim se fez. 25 E fez Deus os animais selváticos, segundo a
sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os
répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.
No sexto dia, Deus criou os animais terrestres, todos a partir
da terra, conforme as suas espécies. Essa criação inclui os animais domésticos,
como o boi, a cabra, o carneiro e outros que poderiam viver próximos ao ser
humano; os répteis, como as tartarugas, jacarés, lagartos e serpentes, que se
movem rente ao chão; e os animais selváticos, como o leão, a onça, o elefante,
o cavalo selvagem e tantos outros que vivem livres na natureza.
Deus formou cada grupo com características próprias, respeitando
a diversidade entre as espécies, e ao final declarou que tudo isso era bom,
reconhecendo o valor e a perfeição de sua obra.
A inclusão dos insetos na criação
Mas alguém pode perguntar: e os insetos, quando foram criados? A
resposta está implícita quando Deus diz: “Produza a terra seres viventes”
(Gênesis 1:24), pois esse termo abrange toda forma de vida que habita e se move
sobre a terra, incluindo os insetos. Assim, é nesse momento que surgem as
formigas, abelhas, moscas, besouros, gafanhotos, pernilongos, sim, até o
“terrível” pernilongo também faz parte da criação divina e cumpre seu papel no
equilíbrio ecológico que Deus estabeleceu.
Perceba também que Deus finaliza a obra da criação dizendo
repetidamente que “isso era bom” e, ao concluir, declara que tudo era “muito
bom” (Gênesis 1:31),
aprovando Sua obra perfeita e harmoniosa. Isso nos ensina a olhar para a
criação com respeito e reverência, reconhecendo que tudo o que Deus fez é bom e
possui um propósito. Não devemos encarar a natureza como algo pertencente a
Satanás ou como um emaranhado de maldade, mas sim como a expressão do poder,
sabedoria e bondade divinos.
O papel dos insetos no plano original
Por exemplo, insetos como moscas e pernilongos fazem parte da
criação original de Deus, criada boa e funcional, mesmo que hoje muitos os
vejam como incômodos ou pragas. A Bíblia não menciona diretamente os
pernilongos, mas inclui insetos em geral como parte dos “seres viventes”
criados por Deus (Gênesis 1:24). No entanto, após a entrada do pecado no mundo, a criação
sofreu corrupção (Romanos
8:20-22), e fenômenos como doenças e pragas, entre
elas as moscas e os pernilongos, passaram a causar sofrimento e desconforto.
Assim, as moscas, que aparecem como pragas em passagens como as
pragas do Egito (Êxodo 8:21-24), não foram criadas originalmente para ser agentes de aflição,
mas se tornaram instrumentos usados por Deus em Seu juízo, decorrentes da
contaminação que o pecado trouxe para a criação. Portanto, o mal e o sofrimento
presentes no mundo não refletem a intenção original de Deus, mas sim a
consequência da queda da humanidade.
O plano alimentar original: uma criação sem
morte
Essa realidade também se aplica à alimentação dos animais e do
próprio ser humano. No plano original de Deus, não havia consumo de carne.
Tanto os homens quanto os animais foram criados para se alimentarem de
vegetais. Em Gênesis
1:29-30, Deus declara:
“Eis que vos tenho dado todas as ervas que
dão semente, e se acham na superfície de toda a terra, e todas as árvores em
que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os
animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todo réptil da terra em que
há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.”
Esse era o plano perfeito: um mundo sem morte, onde nenhum ser
vivo precisava matar outro para viver. Isso incluía os animais selvagens, que
originalmente também se alimentavam de plantas. O comportamento predatório e a
cadeia alimentar baseada na morte não eram naturais, mas vieram após o
pecado.
A permissão para comer carne após o dilúvio
Com a queda do homem e a corrupção da criação (Romanos 8:20-22), a
harmonia foi quebrada. E após o dilúvio, a situação da terra era ainda mais
crítica: tudo havia sido submerso, e a vegetação, embora pudesse
rebrotar, não estava disponível imediatamente para sustento. É nesse
contexto que Deus concede ao homem a permissão para comer carne.
Em Gênesis 9:3, Deus diz a Noé:
“Tudo o que se move e vive vos servirá de
alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora.”
Ou seja, Deus permitiu que Noé e sua família comessem carne como
um meio de sobrevivência, já que não havia frutas nem ervas disponíveis
logo após o dilúvio.
Provisão e sabedoria divina para a
sobrevivência
Essa concessão não foi feita sem planejamento. Antes mesmo do
dilúvio, Deus providenciou sete casais de alguns tipos de animais, em
vez de apenas um casal como os demais. Em Gênesis 7:2-3, Deus ordena:
“De todo animal limpo levarás contigo sete
casais, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são limpos, um casal, o
macho e sua fêmea. Também das aves dos céus, sete casais, macho e fêmea, para
se conservar em vida a semente sobre a face de toda a terra.”
Esses animais limpos seriam usados tanto para sacrifícios
(Gênesis 8:20) quanto
para alimentação, sem colocar em risco a preservação da espécie. Deus,
em Sua sabedoria, já havia providenciado o necessário para o sustento de Noé
após o dilúvio.
Carnivorismo e consumo de carne:
consequências da queda
Tanto a agressividade entre os animais (carnivorismo) quanto o
consumo de carne pelos seres humanos não eram naturais no plano original de
Deus, mas surgiram como resultado da queda e da degradação da criação.
A esperança da restauração futura
A esperança da restauração futura, inclusive, aponta para um
tempo em que a harmonia será restaurada:
“O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo
se deitará com o cabrito [...] o leão comerá palha como o boi” (Isaías 11:6-7), sinalizando um retorno à paz e à não-violência entre as
criaturas, como no princípio.
Portanto, comer carne não era o plano original de Deus,
mas sim uma concessão temporária para a sobrevivência em um mundo
afetado pela queda e pela devastação do dilúvio. Com isso, aprendemos que o
pecado comprometeu a criação perfeita de Deus, o comportamento violento dos
animais, o sofrimento e até mesmo a morte passaram a fazer parte do mundo por
causa da desobediência humana (Gênesis
3:17-19). Ainda assim, mesmo em meio ao juízo, Deus mostra cuidado,
preservando a vida e provendo o necessário para que o homem vivesse.
A criação continua sendo boa
Esse entendimento também nos ensina a olhar para a criação
com respeito, como uma obra originalmente perfeita e boa, que reflete a
sabedoria de Deus. Dizer que tudo pertence a Satanás é negar a verdade de
Gênesis, onde Deus, após criar todas as coisas, afirma:
“E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era
muito bom” (Gênesis 1:31 RA).
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