sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (1:15-26)

 “A Escolha de Matias: Decisões Coletivas na Formação da igreja”

15 ¶ Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos (ora, compunha-se a assembléia de umas cento e vinte pessoas) e disse:

Já eram cerca de 120 pessoas no grupo, certamente incluía ali a família dos 11 apóstolos, amigos próximos e mulheres que já participavam ativamente do ministério de Jesus.

Foi nesse contexto que Pedro demonstrou liderança, assumindo um papel de autoridade entre os irmãos. Entretanto, ao longo desta carta, perceberemos que a liderança era exercida de forma coletiva. Não vemos decisões sendo tomadas unilateralmente, mas sim em grupo. Principalmente, após a promessa do Espírito Santo ser cumprida, as decisões foram tomadas com a manifestação dele.

16  Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus, 

Observem como Pedro, um simples pescador, agora demonstra uma clara habilidade em citar as Escrituras antigas. Mais do que isso, ele possui domínio sobre elas, sendo capaz de compreender o que os registros bíblicos dizem. Esse entendimento não é fruto de esforço próprio; embora possamos adquirir conhecimento da Bíblia ao lê-la constantemente, o verdadeiro discernimento é concedido por uma razão específica:

"Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;" (Lucas 24:45 RA)

Jesus foi o responsável por permitir que os apóstolos compreendessem o que as Escrituras sagradas diziam e profetizavam sobre Ele mesmo. Não é à toa que os membros do conselho ficaram admirados ao ouvir Pedro e João falarem com coragem e autoridade sobre a Palavra de Deus.

17  porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério.

Judas fazia parte do grupo e foi escolhido para participar nas atividades dos apóstolos. Além de desempenhar as tarefas comuns compartilhadas por todos os apóstolos, como testemunhar os milagres de Jesus e divulgar seus ensinamentos, Judas também desempenhava o papel de tesoureiro no ministério. Ele tinha a responsabilidade de cuidar das ofertas e das despesas do grupo, como mencionado em João 13:29.

18  (Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram; 

Temos aqui um relato de que Judas comprou um terreno com o preço da iniquidade, ou seja, pelo preço de seu pecado, certamente referindo-se às próprias moedas da traição que recebeu. Nesse mesmo terreno, ele tirou sua própria vida, lançando-se de um precipício.

No entanto, ao analisarmos o trecho registrado por Mateus, o desfecho é diferente, Judas foi se enforcar logo após devolver as moedas:

"Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se." (Mateus 27:5 RA)

Esse breve trecho não afirma que a bíblia é mentirosa como alguns gostam de fazer, mas esse pequeno trecho pode nos ensinar muito sobre como devemos estudar as Escrituras. É importante compreender que, sendo inspiradas pelo Espírito Santo, as Escrituras foram escritas por homens inseridos em diversas culturas e classes sociais. As cartas e mensagens muitas vezes eram dirigidas a pessoas ou grupos específicos.

A possível contradição entre os desfechos da história de Judas pode ser explicada pelo fato de que Judas estava afastado dos apóstolos, e o que eles registraram posteriormente em seus evangelhos era o testemunho de algumas pessoas que viram ou ouviram falar. Daí a importância dos quatro evangelhos, cada um trazendo perspectivas distintas. Mesmo havendo outros evangelhos, foram preservados os quatro que conhecemos, e, entre eles, encontramos passagens específicas que apenas um autor relata (como o caso dos ladrões na cruz), enquanto outros não mencionam. No entanto, o testemunho e a mensagem principal sobre Jesus são impecáveis, o que comprova a veracidade das informações.

No caso de Judas, é possível que ele tenha voltado e recolhido as moedas, ou que alguém tenha feito isso por ele. Ele também pode ter deixado as moedas lá e adquirido o campo com o preço da iniquidade, não apenas pela traição, mas também pelos roubos que praticou durante o ministério, como mencionado em João 12:6. É possível também que, ao se enforcar, a corda tenha se rompido, resultando no desfecho que Pedro conhecia.

Enfim, o trágico desfecho de Judas foi a morte causada por um grande remorso. Se esse remorso fosse acompanhado de arrependimento e humildade, certamente seria perdoado por Jesus. No entanto, para os apóstolos, especialmente naquele tempo em que ainda não compreendiam plenamente a graça de Deus e a necessidade da morte de Jesus Cristo, é provável que não o perdoassem.

19  e isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue.)

Pedro continua relatando sobre o desfecho trágico de Judas, afirmando que aquilo era conhecido por todos, a ponto de batizar aquela terra de Campo de Sangue. O que todos sabiam era do fato de terem encontrado Judas morto, com as entranhas à mostra, mas não como isso aconteceu. Quando alguém tira a própria vida, não comunica a ninguém, faz sozinho sem ninguém por perto, e assim foi com Judas. Esse é um dos motivos pelos quais existem diferentes versões sobre como ele se enforcou.

20  Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo. 

“Fique deserta a sua morada, e não haja quem habite as suas tendas.” (Salmos 69:25 RA)

Pedro cita um trecho de Salmos onde todo o contexto descreve os desejos de Davi contra seus inimigos, ou seja, Pedro e os outros apóstolos tratavam Judas como inimigo mortal:

“Os seus dias sejam poucos, e tome outro o seu encargo.” (Salmos 109:8 RA)

“Que o meu inimigo morra logo, e que outra pessoa faça o trabalho que ele fazia!” (Salmos 109:8 NTLH)

A nova versão já evidencia explicitamente tratar-se de um desejo contra inimigos. Davi também foi o autor desse salmo e expressou um desejo de vingança intensa contra seus inimigos. Isso ressalta o quão inconformados ainda estavam os apóstolos em relação a Judas. Implicitamente, revela que os apóstolos compreendiam pouco a necessidade da Cruz, indicando que, se fosse possível, teriam impedido e "salvado" Jesus da crucificação. Embora seja apenas uma especulação, o nível de revolta presente nos salmos de Davi, que eles citaram, sugere o quão amargurados estavam com Judas. Deixo aqui uma reflexão: caso Judas pedisse perdão a eles, será que o aceitariam de volta ao grupo?

21  É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós,  22  começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição.

Houve uma espécie de "filtro" para ajudar a determinar quem seria escolhido para ser o novo apóstolo no lugar de Judas: somente aquele que estivesse no grupo desde que Jesus foi batizado por João seria digno de ser chamado apóstolo.

A palavra "apóstolo" significa "mensageiro", ou seja, aquele que é enviado para anunciar e testemunhar a mensagem de Deus. Por anunciarem o evangelho, Paulo e Barnabé também foram chamados de apóstolos. O papel principal dos apóstolos, como o próprio nome indica, era testemunhar a ressurreição de Jesus Cristo. Inicialmente, começaram a anunciar apenas aos judeus, mas com o tempo, à medida que amadureciam em relação à graça, perceberam que a mensagem não era exclusiva ao povo judeu, mas se estendia também aos gentios, ou seja, a todos que não são judeus.

Mas o fato principal de terem que repor o decimo segundo apostolo é por causa da promessa que o próprio Cristo deu a eles:

“Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Mateus 19:28 RA)

Há uma promessa aqui de Jesus diretamente aos apóstolos, de que os 12 seriam líderes e julgariam as 12 tribos de Israel. Como vimos, outras pessoas também foram chamadas de apóstolos, mas por que elas não foram adicionadas e, em vez de 11, tornariam-se 13 ou mais? Isso ocorre porque havia um propósito específico na quantidade escolhida por Jesus:

“A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Apocalipse 21:14 RA)

Deus não removeria uma das tribos da história, nem daria a alguns dos apóstolos a responsabilidade sobre duas tribos. Havia, de fato, a necessidade de repor o serviço apostólico perdido com Judas. Acredito que, se Judas não tivesse tirado a própria vida, mas buscado o perdão do Senhor, sua posição estaria garantida. Seu pecado, assim como o de todos os outros apóstolos, teria sido perdoado. No entanto, em vez de buscar o arrependimento genuíno, ele se entregou à amargura e desespero. Em vez de confiar em Jesus para se livrar da terrível perseguição que sentia em seu espírito, optou por dar fim à sua vida.

Paulo também conviveu com a perseguição em seu íntimo, lembrando-se das atrocidades que cometeu contra os cristãos antes de se tornar servo de Jesus. Alguns estudiosos sugerem que o "espinho na carne" poderia ser esse sentimento horrível que o assombrava diariamente, acusando-o pelos erros passados. No entanto, ao contrário de Judas, em vez de tirar a própria vida, Paulo se empenhou ainda mais. Não buscava ganhar créditos com Deus para compensar os erros, mas sim demonstrar gratidão pelo perdão alcançado em Cristo Jesus.

Podemos questionar por que Paulo não foi considerado o décimo segundo apóstolo. Paulo prontamente abandonou a missão de evangelizar os judeus e se dedicou aos gentios, aos pagãos, a todos nós. Paulo é nossa testemunha de Jesus, nosso apóstolo. Para os judeus, havia, de fato, a necessidade de preencher a vaga deixada por Judas.

 23  Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias.

As pessoas ali reunidas, cerca de 120, não chegaram a um consenso e escolheram dois representantes, Barsabás, de sobrenome Justo, e Matias.

 24  E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido  25  para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar.  26  E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.”

Pedro, notadamente, assume a liderança em diversas discussões, desempenhando, sem dúvida, uma posição de autoridade nos grupos que integra. No entanto, nas escrituras, não encontramos Pedro tomando decisões unilaterais que reflitam seus próprios desejos em detrimento dos do grupo. Pelo contrário, as decisões são sempre tomadas de forma coletiva, envolvendo oração e a participação do Espírito Santo após a sua vinda.

Todos os apóstolos colaboravam em conjunto, cada um demonstrando diferentes níveis de submissão e impulsividade. A realidade é que todos eram colaboradores de Cristo. Apesar da existência de uma liderança, as decisões eram alcançadas por meio de reuniões, votações e até mesmo por sorteio, como evidenciado no verso anterior.

Abaixo, seguem mais referências de como eram geridas as igrejas primitivas:

 “24  “Soubemos que alguns do nosso grupo foram até aí e disseram coisas que criaram problemas para vocês. Porém não foi com a nossa autorização que eles fizeram isso. 25  Portanto, nós todos resolvemos, sem nenhum voto contra, escolher alguns homens e mandá-los a vocês. Eles vão com os nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo, 26  que têm arriscado a sua vida a serviço do nosso Senhor Jesus Cristo. 27  Estamos enviando, então, Judas e Silas para falarem pessoalmente com vocês sobre estas coisas que estamos escrevendo. 28  Porque o Espírito Santo e nós mesmos resolvemos não pôr nenhuma carga sobre vocês, a não ser estas proibições que são, de fato, necessárias:” (Atos 15:24-28 NTLH)

“2  Aconselho que cuidem bem do rebanho que Deus lhes deu e façam isso de boa vontade, como Deus quer, e não de má vontade. Não façam o seu trabalho para ganhar dinheiro, mas com o verdadeiro desejo de servir. 3  Não procurem dominar os que foram entregues aos cuidados de vocês, mas sejam um exemplo para o rebanho.” (1 Pedro 5:2-3 NTLH)

Resumo: QUER SER O MAIOR? ENTÃO FAÇA O QUE O MENOR FARIA. Nosso VERDADEIRO PASTOR, exemplificando seus ensinamentos, lavou os pés de seus servos. Ele instruiu aqueles que almejam grandeza a serem os menores entre todos, evitando arrogância. Há inúmeros exemplos de como a soberba antecede a queda, inclusive em parábolas (Lucas 14:7-14), retratando indivíduos que assumiram posições de destaque por se considerarem importantes e que, posteriormente, foram envergonhados por aqueles que verdadeiramente detêm autoridade.

ATOS DOS APÓSTOLOS (1:12-14)

“Reunião no Cenáculo: Oração Unânime e a Presença de Maria”

12 ¶ Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado.

A lei estava tão profundamente enraizada na mente e nos corações das pessoas que o próprio autor, ao referir-se a unidades de medida, mencionou o sábado. De acordo com a antiga aliança, durante o sábado, era permitido caminhar apenas uma distância de quase 1 km. Em vez de indicar que o monte Olival estava a 2000 côvados, medida utilizada naquela época, ele prontamente citou a lei que todos conheciam. Não é à toa que, até hoje, o sábado é equivocadamente venerado por grupos religiosos, a ponto de existirem igrejas batizadas com esse nome.

13 Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago.

Cenáculo era um salão ou sala construído em cima do andar térreo de uma casa. Subiram todos e se reuniram ali. Observem como era comum o uso de nomes idênticos; parecia que, naquela época, os pais não tinham tanta criatividade para dar nomes a seus filhos (contém ironia). Contudo, ao longo desta carta, notaremos a presença de diversos e significativos personagens com nomes semelhantes, os quais são frequentemente identificados por outros meios, seja através de seus sobrenomes, apelidos ou até mesmo por um nome especial conferido por pessoas, comunidade, igreja, ou até mesmo por Jesus Cristo, como ocorreu com Simão Pedro.

 14  Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.

Estudar a formação da igreja primitiva é importante para quem busca estabelecer um ministério fundamentado nas escrituras sagradas. Podemos observar práticas que eram inicialmente adotadas pela igreja e que perduraram ao longo do tempo. Algumas práticas foram deixadas de lado à medida que a igreja amadureceu espiritualmente, evoluindo em seu processo e abandonando antigas tradições da antiga aliança. No entanto, certas práticas, como as orações em grupo, continuam sendo usadas até hoje.

O trecho acima ilustra o cenário inicial, onde as pessoas se reuniam para orar e eram unânimes em suas preces. Essa unanimidade reflete o fato de que todos compartilhavam o mesmo modo de pensar, anseios e graças. Nesse contexto, as pessoas compartilhavam tudo e estavam alinhadas em suas orações.

Este pequeno trecho também destaca a influência de Maria, a mãe de Jesus. Sem dúvida, ela foi uma grande serva de Deus, equiparável ou até superior a várias outras mulheres notáveis registradas na Bíblia. No entanto, é importante não confundi-la como igual ou superior a Jesus Cristo, pois foi Ele quem morreu e é Ele quem intercede por nós.

Atualmente, especialmente pela igreja católica, Maria é considerada virgem mesmo após o nascimento de Jesus. No entanto, a presença dos irmãos de Jesus na mesma ocasião coloca em dúvida essa virgindade posterior. Por outro lado, os textos bíblicos não indicam claramente que Maria deixou de ser virgem e teve outros filhos com José após o nascimento de Jesus.

O texto destaca que esses irmãos são mencionados como "irmãos de Jesus" e não como "outros filhos de Maria". Embora seja possível que esses irmãos se refiram à prole de José, ou até mesmos a “primos” de Jesus, não podemos afirmar com certeza. Mesmo que Maria e José tenham optado por abster-se de relações após o nascimento de Jesus, isso, para alguns, pode enfatizar sua grandeza entre as mulheres, mas nunca a coloca acima de Cristo.

ATOS DOS APÓSTOLOS (1:6-11)

 “A Ascensão de Jesus e a Missão Impulsionada pelo Espírito Santo”

 6 ¶ Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?

Podemos compreender por que os judeus não aceitavam Jesus como o seu Messias prometido. De maneira equivocada, esperavam por alguém dotado de poder militar capaz de libertá-los do jugo dos romanos e restaurar a nação à sua soberania. No entanto, o Messias veio para reorganizar tudo, mas não da maneira que esperavam. De maneira até frustrante para os desinformados, o Messias acabou por morrer, algo que não deveria, em sua perspectiva, fazer parte do plano.

Ainda determinados a buscar a independência de Israel e se livrar da opressão romana, agora entusiasmados com a ressurreição de Jesus, retomaram a crença de que tudo o que antes acreditavam, antes da morte de Jesus, seria possível com o envio do Espírito Santo. Contudo, a resposta que receberam foi, de certa forma, frustrante do ponto de vista deles. No entanto, trarei uma perspectiva que supera essa visão desapontada.

 7  Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade;

Aqui, assim como em outras passagens escatológicas que abordam eventos nos últimos dias, Jesus reafirma que não lhe cabe conhecer as datas em que esses eventos ocorrerão. Ele enfatiza que essa prerrogativa é exclusiva da autoridade de Seu Pai, nosso Pai e nosso Deus.

 8  mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.

Jesus revela que as datas e épocas da restauração por parte de Deus não eram importantes no momento. No entanto, Ele destaca a relevância do poder que os discípulos receberiam, o poder do Espírito Santo. Este seria crucial, pois através dele, eles se tornariam testemunhas em Jerusalém, nas cidades próximas e não se limitariam apenas a essas localidades, mas alcançariam os confins da terra. Em outras palavras, o Espírito Santo agiria através dos cristãos para disseminar a mensagem da salvação a todos os eleitos de Deus em todo o mundo.

Nos capítulos subsequentes, veremos que os apóstolos permaneceram em Jerusalém. Foi necessário um evento extraordinário para dispersá-los e, assim, cumprir a vontade de Deus de espalhar o evangelho não apenas entre os judeus, mas a todos os seres humanos.

9  Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos.

Após Jesus falar sobre o poder que seus seguidores receberiam por meio do Espírito Santo, foi elevado às alturas de maneira sobrenatural, como um espetáculo visível a todos. Uma nuvem o envolveu e, após esse acontecimento, aqueles presentes não o viram mais.

10  E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles  11  e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.

A presença de anjos será constante nesta carta. Veremos como Deus frequentemente utiliza esses servos para nos auxiliar. Nos capítulos subsequentes, teremos informações mais aprofundadas sobre esses seres celestiais, entendendo como eles agem e continuam a servir nos dias atuais.

Dois anjos, aparecendo como varões, ou seja, com uma aparência idêntica à de homens, surgiram para transmitir uma mensagem: "Por que vocês ainda estão olhando para o céu? Da mesma maneira que Jesus subiu aos céus, Ele descerá." Essa comunicação ocorreu sem a necessidade de interpretação, dirigindo-se aos galileus na linguagem galileia, que, nesse contexto, era o grego. É notável que, ao longo da história bíblica, quando anjos trazem mensagens divinas, eles se expressam na língua compreendida por seus ouvintes, sem recorrer a idiomas estrangeiros. Embora seja possível que exista uma linguagem exclusiva para os anjos, eles nunca se apresentaram dessa maneira.

Quanto à volta de Jesus da mesma forma como foi elevado, a Bíblia contém considerável conteúdo escatológico que descreve esse evento, especialmente o que o precede, sendo este um tema propício para um estudo mais detalhado.

ATOS DOS APÓSTOLOS (1:1-5)

“Atos dos Apóstolos: Continuação da Obra de Jesus”

    1 ¶ Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar 2 até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas.

O autor do Livro de Atos dos Apóstolos é o mesmo do Evangelho de Lucas, tornando-o assim uma continuação daquele evangelho escrito por Lucas. Apesar do livro se chamar "Atos dos Apóstolos", observamos que os atos descritos se concentram principalmente nos "Atos de Pedro e Paulo". É claro que todos os apóstolos colaboravam em prol do evangelho, alguns mais nos "bastidores" e outros mais em evidência. No entanto, o nome do livro que realmente caracteriza os diversos acontecimentos seria "ATOS DO ESPÍRITO SANTO", apresentado logo no capítulo 2 de Atos.

A identidade de Teófilo não é confirmada. Alguns o consideram como um indivíduo real que patrocinou a redação dos relatos, enquanto outros o veem como um símbolo, endereçando a carta a todos os interessados em buscar a Deus, uma vez que o nome Teófilo significa "amigo de Deus"

Lucas cita que Jesus antes de ser elevado as alturas deixa alguns mandamentos, vamos recordar:

“44  A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. 45  Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; 46  e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia 47  e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. 48  Vós sois testemunhas destas coisas. 49  Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. (Lucas 24:44-49 RA)

No texto, observamos uma ordem clara: permanecer em Jerusalém até que a promessa do Espírito Santo seja cumprida. Contudo, a principal instrução, o mandamento primordial dado às TESTEMUNHAS de Jesus, era que pregassem o arrependimento para o perdão de pecados a todas as nações. O evangelho é mais que isso, mas a principal característica que descreve o evangelho é proclamar as boas novas, a boa notícia: que nossos pecados foram perdoados através da morte de Jesus naquela cruz, e isso se inicia pregando o arrependimento.

 3  A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.

Depois de Jesus ter sido morto na cruz, ele ressuscitou e apareceu a todos os apóstolos de forma incontestável, ou seja, não havia dúvidas que fosse Ele, não era alguém muito parecido com Ele, ou algum anjo, era Jesus, e durante quarenta dias ficou com eles ensinando muitas coisas em relação ao reino de Deus.

 4  E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes.

Da mesma forma que ocorreu no final de alguns evangelhos, Lucas aqui relembra o que Jesus fez antes de ser elevado às alturas: pediu a todos que permanecessem em Jerusalém aguardando a promessa de Deus. Essa promessa referia-se ao envio do Espírito Santo, o qual era o espírito de seu próprio filho, Jesus.

5  Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.

Não seria necessário um estudo mais profundo sobre o batismo com água para compreendermos que esse tipo de batismo era meramente simbólico do que estava por vir: o batismo pelo Espírito Santo. Contudo, uma análise mais aprofundada estará disponível nos capítulos subsequentes, nos quais surgirão situações em que as pessoas ainda são batizadas pela água. Ao longo do estudo da carta dos Atos dos Apóstolos, testemunharemos uma progressão, um amadurecimento, à medida que as pessoas passam por um processo de compreensão mais profunda da verdadeira graça de Deus.

Nesse processo, muitas doutrinas e crenças antigas, especialmente as relacionadas à lei, como a circuncisão, serão deixadas para trás para dar lugar ao verdadeiro e puro evangelho, à nova aliança. Nessa nova aliança, não dependemos mais de nossos esforços para alcançar a salvação, mas dependemos exclusivamente de Jesus, mediante a fé.

Um ponto relevante é que Jesus anunciou que isso aconteceria não muitos dias após sua conversa com os apóstolos, evidenciando que em certas áreas Ele estava alinhado com Deus, conhecendo os planos de Seu Pai, mas não em tudo. Isso é destacado em algumas passagens escatológicas, nas quais Jesus aponta que Ele, como Filho de Deus, não conhece certas datas, sendo esse conhecimento exclusivo de Deus Pai (Mateus 24:36).