quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (2:14-36)

O DISCURSO DE PEDRO: ADVERTÊNCIAS E EXPLICAÇÕES

14 ¶ Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras.

Finalmente, depois da manifestação desse grande milagre e do cumprimento da promessa de Jesus de enviar ao mundo seu Santo Espírito, após a manifestação desse Espírito sobre os crentes ali presentes, após o sinal dado por Deus aos homens, fazendo o Espírito Santo se manifestar nos crentes através de profecias e do dom de falar em outras línguas, Pedro assume a tribuna, exercendo seu papel de líder. Ele começa a explicar o que está acontecendo e a dissipar as dúvidas daqueles que estavam perplexos e indagando sobre o que estava acontecendo. Pedro combate a primeira "fake news" sobre esse espetáculo, refutando aqueles que estavam considerando tudo aquilo como um circo e acreditando que os crentes estavam embriagados.

15  Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.

Pedro não usa argumentos frágeis para afirmar que eles não estavam embriagados, dizendo: "São todos meus conhecidos, eu garanto a vocês que eles não estão embriagados." Não, Pedro utiliza um argumento que teria mais credibilidade para todos, ao mencionar o horário do dia para afirmar que dificilmente haveria pessoas embriagadas ali nas primeiras horas do dia. Alguns podem até pensar que Pedro estava falando à noite, por volta das 9 horas, já que os judeus começam um novo dia a partir do pôr do sol, ao contrário de nós, que começamos à meia-noite. Mas pelo contexto, as três primeiras horas do dia referem-se ao nascer do sol. Nem todos ali haviam almoçado, apesar de ser uma festa. Ainda era cedo para que as pessoas estivessem embriagadas, considerando a cultura local.

16  Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17  E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; 18  até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

O que estava acontecendo ali era, sim, o cumprimento da promessa feita por Jesus aos apóstolos, mas essa promessa não foi feita de última hora. Todo o plano de Deus já estava traçado; o que faltava era alguém executá-lo completamente, indo até o fim. Jesus foi aquele que venceu. Pergunto-me, Deus poderia ter perdido seu filho para Satanás? Tinha algo a se perder no plano que Deus fez? Ele entregaria Jesus para morrer em nosso lugar, mas e se Satanás conseguisse convencê-lo do contrário? Era possível? E se Satanás, quando tentou, tivesse tido êxito? Para Deus, a entrega de Jesus aos homens foi fácil porque tinha tudo "garantido"? Ele correu risco? Pois assim como o homem se corrompeu e se enganou com Satanás, assim como a terça parte dos anjos se enganou também, Jesus poderia também ter sido enganado? Mas Cristo triunfou. Ele venceu toda e qualquer tentação. Ele tem a honra de ter o nome sobre todo nome por causa da obra que fez naquela cruz. Glória a Deus por isso, por ter confiado o plano da salvação a Jesus, aquele que foi fiel até o fim. (Filipenses 2:9)

19  Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20  O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. 21  E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

Pedro termina com a citação da profecia em Joel. Percebam que ele citou a profecia sobre o que tinha acabado de acontecer, mas continuou a citar o restante da profecia, falando dos sinais que antecederiam o glorioso dia do Senhor (Atos 2:16-21).

Os sinais no céu se referem às estrelas caindo como figos de uma figueira sacudida, e os sinais embaixo da terra se referem a terremotos, não somente os mesmos que costumamos ver em países com esse histórico, mas terremotos em todas as partes da terra.

Sobre o sol se transformar em trevas e a lua em sangue, não quer dizer que literalmente vai acontecer isso, mas a lua ficará avermelhada na cor de sangue, e isso já é um fenômeno conhecido e batizado de lua sangrenta, que ocorre durante um eclipse lunar. Ou seja, o sol fica atrás da terra, e a lua fica pouco iluminada, dando a ela uma aparência avermelhada, especialmente durante uma superlua, que é a lua cheia mais próxima da terra. Outra situação em que a lua pode ficar avermelhada como sangue é quando os céus estão cheios de fumaça, causando pouca luminosidade, e tanto a lua quanto o sol podem parecer escurecidos por conta da fumaça. E que fumaça? A fumaça das cidades em chamas, como foi o caso de Sodoma e Gomorra.

A escatologia dos fins do mundo narrada no Apocalipse oferece mais insights sobre esses eventos:

“12  Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, 13  as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, 14  e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. 15  Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes 16  e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, 17  porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Apocalipse 6:12-17 RA)

Percebam que primeiramente Pedro "aterrorizou" a todos com a profecia de Joel sobre como serão os finais do tempo, como será poderosa a mão de Deus sobre toda a terra, de como tudo e todos tentarão fugir da presença deles, mas agora ele começa a mostrar a eles a BOA NOTÍCIA, o verdadeiro evangelho. Após aterrorizá-los, Pedro fala a eles sobre aquele que pode salvá-los desse dia terrível:

22  Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis;

Todos ali conheciam a história de Jesus Cristo; a notícia corria rápido, de boca em boca. Pessoas eram trazidas de longe, ou vinham de longe para buscar a cura de suas enfermidades junto a Jesus. Quem de fato não cria nele, pelo menos ouvia falar no "tal" Jesus que andava sobre as águas (Mateus 14:25), ressuscitava mortos (João 11:43-44), curava leprosos (Mateus 8:2-3), e todos esses milagres que Jesus realizou perante aquelas pessoas eram prova de que o mesmo era aprovado por Deus.

23  sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;

Pela presciência de Deus (1 Pedro 1:2), Presciência é a capacidade de prever o futuro, isso prova que todo o plano da salvação não foi se desdobrando e acontecendo conforme a história ia avançando, não, tudo foi planejado, e Cristo foi aquele que cumpriu tudo, foi fiel até o fim. Não foi somente aqui em que algum personagem bíblico declara Deus com essa capacidade de prever o futuro. O próprio Pedro, lá na frente em uma de suas cartas diz:

“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1 Pedro 1:2 RA)

A nossa eleição parte de Deus, e não de nós, isso entra na área de predestinação, ou seja, fomos criados e predestinados a sermos salvos por Cristo (Efésios 1:4), mas é uma área muito polêmica e não quero entrar em detalhes ainda sobre esse tema.

24  ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela.

Após Pedro ter "aterrorizado" a todos com a profecia de Joel, ele finalmente começa a falar de Jesus, mencionando Sua ressurreição e como a morte seria incapaz de mantê-Lo morto. Pedro segue explicando, desta vez citando Davi. Davi era e ainda é um ancestral muito importante para os judeus. Veja uma das promessas (profecias):

“6  Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; 7  para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6-7 RA)

“5  Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. 6  Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.” (Jeremias 23:5-6 RA)

Os judeus aguardavam sim um descendente de Davi, mas ficaram de certa forma frustrados porque aquele que fez sinais milagrosos na frente deles morreu, e não reinou como eles esperavam, não assumiu o trono ou a "presidência" imediatamente e começou a fazer justiça como as profecias previam. Isso explica porque os apóstolos questionaram Jesus se aquela hora, a hora em que permaneceu com ele 40 dias, seria o momento em que tornaria Israel novamente uma nação soberana, achavam que Jesus já tinha voltado para cumprir com a profecia (Atos 1:6), mas como vimos, ainda não era tempo para isso, e Cristo trabalha até hoje ainda restaurando tudo para quando voltar, aí sim estabeler o seu reino aqui na terra.

25  Porque a respeito dele diz Davi: Diante de mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado. 26  Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha própria carne repousará em esperança, 27  porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. 28  Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença.

O texto diz aqui que o próprio Davi profetizou sobre a ressurreição, e aqui está a explicação de que a morte não poderia deter Cristo, pois já estava profetizado de que o próprio Deus não deixaria a alma dEle na morte, não permitiria que o TEU SANTO VEJA CORRUPÇÃO. Mas tem um probleminha nessa profecia. Da forma que está escrita, os judeus interpretavam que Davi estava falando dele mesmo, e o texto frio dá sim exatamente essa interpretação, mas Pedro agora dá a todos o real entendimento desta passagem, e como foi possível Pedro entender isso? Lembram, Cristo deu a eles o entendimento das escrituras sagradas (Lucas 24:45).

29  Irmãos, seja-me permitido dizer-vos claramente a respeito do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo permanece entre nós até hoje. 30  Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, 31  prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.

Diferentemente do que se referia o texto, a profecia de Davi não era a ele mesmo, mas sim sobre Jesus Cristo. Davi foi sepultado e ainda permanece em seu túmulo até os dias de hoje, mas, diferentemente, Cristo foi ressuscitado, ELE VIVE, não experimentou a morte e seu corpo não sofreu corrupção, ou seja, não foi degradado com o tempo. Não ficou apenas em ossos; em apenas três dias, seu corpo já viraria incorruptível e ressuscitaria em glória eterna.

O próprio Cristo já havia ensinado aos fariseus que estavam enganados quanto às profecias de Davi, e uma delas podemos encontrar no verso abaixo:

“41 ¶ Reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus: 42  Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe eles: De Davi. 43  Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: 44  Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? 45  Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho?” (Mateus 22:41-45 RA)

O próprio Cristo aqui nos ensina que, apesar de ter nascido de Maria, descendente de Davi, e seu pai adotivo José ser também descendente, Ele era sim descendente de Davi, mas não filho. Ele é filho do Deus Altíssimo. Vimos já no primeiro verso do Novo Testamento Jesus sendo anunciado como filho de Davi e filho de Abraão (Mateus 1:1). Vimos pessoas clamando a ele e o chamando de filho de Davi, mas apenas para cumprir as Escrituras e mostrar ao povo de Israel que já nasceu o Salvador. A espera por outro será em vão e catastrófica para quem assim o fizer. Jesus é filho de Deus, e por isso Cristo os corrigiu.

32  A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.

Todos aqueles que ali estavam profetizado em outras línguas eram testemunhas de que Cristo ressuscitou dos mortos.

33  Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. 34  Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, 35  até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. 36  Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.

Agora Pedro cita a mesma referência que Cristo anteriormente havia explicado aos fariseus (Mateus 22:41-46). A passagem que Cristo ensina sobre as profecias de Davi sobre o messias era conhecida de muitos ali, as palavras daquele que fez sinais e maravilhas eram conhecidas de muitos, e quando Pedro relembra-os que Cristo já os havia chamado a atenção sobre o verdadeiro entendimento das escrituras sagradas, reconheceram que tinham crucificado o verdadeiro messias prometido (continua no próximo estudo (Atos 2:37-41)).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (2:5-13)

PENTECOSTES: UM EVENTO MULTICULTURAL - O IMPACTO DO DOM DAS LÍNGUAS

5 ¶ Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu.

A depender do contexto, quando se refere a judeu, o autor do livro estará se referindo a moradores da Judéia. Os israelitas que voltaram do cativeiro para a província da Judéia e seus descendentes passaram a ser chamados de judeus porque a maioria deles era da tribo de Judá (Ed 4.12; Ne 1.2). No Novo Testamento, o termo também é usado para aqueles que seguiam o judaísmo e que, às vezes, atacavam a fé cristã, chegando a perseguir os cristãos.

A festa de Pentecostes era comemorada por judeus. O autor do texto menciona que em Jerusalém habitavam judeus piedosos, ou seja, homens religiosos. Esses judeus não necessariamente eram nativos, pois o texto deixa claro que havia judeus ali reunidos cuja nacionalidade materna pertencia a todas as nações debaixo da terra. Podemos até nos perguntar se ali viviam argentinos, colombianos, chilenos, norte-americanos, brasileiros, mas devemos lembrar que isso ocorreu quase 2 mil anos atrás. Nossa América viria a ser descoberta cerca de 1500 anos após o evento de Pentecostes. Não havia representantes das nacionalidades americanas naquele momento. Para o autor, o "mundo" se limitava à Europa, Ásia e África.

6  Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua.

Todos os que estavam ali presentes, fossem de qualquer parte do mundo, ouviram em sua própria língua materna o que os galileus, inspirados pelo Espírito Santo, falavam. Essa informação é importante para lembrarmos durante o estudo de Atos que as línguas estranhas eram estranhas somente para aqueles que não as entendiam. Para quem conhecia outros idiomas, ouvir algum desses galileus falar significava entender o que ele dizia. Em outras palavras, para quem não conhecia o idioma egípcio, soava como uma língua estranha, mas para quem era natural de lá, conseguia entender o que diziam. Língua estranha não era uma linguagem indecifrável ou mesmo o idioma de anjos; eram idiomas humanos diversos.

 7  Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando?

Quando o Espírito Santo desceu sobre as pessoas, ele não caiu sobre todos os que estavam presentes. Percebemos que os judeus que estavam lá apenas ouviam os galileus profetizarem. Lembrem-se do que os anjos disseram quando eles ainda estavam olhando para o céu, após Jesus ter sido elevado aos céus:

“e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.” (Atos 1:11 RA)

O Espírito Santo só foi derramado sobre aqueles que tinham fé em Jesus Cristo; não se manifestou sobre aqueles que não O conheciam. Isso sempre foi assim, desde o início, mesmo no Antigo Testamento, agindo apenas naqueles que eram tementes a Deus e O obedeciam. E continua sendo assim: o Espírito Santo batiza somente através da fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É somente a partir do momento em que a pessoa crê em Jesus que o Espírito Santo batiza. Essas pessoas, os galileus, tanto os apóstolos como as mais de 120 pessoas que andavam com eles, todos criam em Cristo, e todos estavam aguardando a promessa que o próprio Cristo lhes fez 10 dias atrás.

8  E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?

Os judeus que ali viviam e que estavam celebrando o Pentecostes pertenciam a vários outros povos; muitos dos presentes eram judeus estrangeiros, ou seja, nasceram e/ou vieram de outra nação. Sua origem é de uma outra nacionalidade, mas tornaram-se judeus. O Judaísmo é uma prática religiosa, e qualquer pessoa que deseje praticá-lo pode fazê-lo através das leis judaicas, podendo converter-se a essa fé (Êx 12:48). Qualquer ser humano, de qualquer raça, pode tornar-se judeu.

Os primeiros judeus são israelitas, e o Judaísmo tem suas raízes lá, mas isso não significa que todo israelita seja judeu; muito pelo contrário. Embora o Judaísmo seja atualmente a religião predominante, o Islamismo também é amplamente praticado, e o Cristianismo, embora em menor escala. Nos tempos de Jesus, os samaritanos competiam com os judeus; eram um povo étnico e religioso frequentemente mencionado nas escrituras como rivais ou oponentes do ensino judaico (Lucas 9:51-56). No entanto, Jesus demonstrou grande misericórdia para com eles, como evidenciado principalmente na parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37).

 9  Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, 10  da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, 11  tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?

Como mencionado anteriormente, o continente americano foi descoberto em 1492 d.C., enquanto o continente mais recentemente descoberto, a Antártida, foi avistado por volta de 1800 d.C. Nesta lista, não estão citados os povos da Oceania, hoje conhecidos principalmente como australianos ou os habitantes das ilhas Fiji. Entretanto, há dois mil anos, viviam nessas ilhas uma variedade de povos indígenas, assim como na América. A tribo mais conhecida que habitava a Oceania dois mil anos atrás, acredito que sejam os Aborígenes australianos.

Em relação aos outros três continentes, podemos citar exemplos como Roma na Europa e o Egito na África. No continente Asiático, há várias referências, como os Partos e os Medos. Naquela época, a divisão dos continentes que conhecemos hoje era muito diferente; o que o autor chama de Ásia antigamente engloba vários outros povos que foram mencionados.

É fato que todas essas regiões possuíam idiomas distintos, o que levava os judeus a perguntarem: "Como podemos ouvi-los em nossa própria língua materna?" Cada região tinha seu próprio idioma local, então imagina como era para os judeus ouvirem mais de 120 pessoas falando ao mesmo tempo em diferentes línguas.

 12  Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? 13  Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!

Logicamente, quando alguns judeus estrangeiros ouviram um galileu falar em sua própria língua materna, ficaram espantados e perplexos, indagando o que isso significaria. O que Pedro fez, então, foi exatamente isso: explicar o que significava (Atos 2:7-12). No entanto, para os judeus nativos, o que parecia era um show de horrores; parecia-lhes que um monte de gente louca, ou mesmo bêbada, estava falando coisas sem sentido e sem coerência, principalmente sem compreensão. Podem ter certeza de que, assim como hoje existem pessoas que copiam comportamentos de outras, por exemplo, se alguém em uma determinada igreja ouve outra pessoa falar em uma língua "estranha" e é "aplaudida", a mesma pessoa também vai querer fazer o mesmo e aprender a "falar estranhamente". Foi isso que aconteceu, e os judeus começaram a fazer imitações desses sons que para eles eram estranhos, mas que para outros eram sua própria língua materna. Não à toa, Paulo, mais adiante, tenta frear essa prática que claramente estava causando confusão nas igrejas (1 Coríntios 14:23-25).

Mais adiante, Paulo repreende os irmãos que estão agindo "feito loucos" e inicia a pregação sobre o amor. Muitos homens sérios falam em línguas estranhas; é sim bíblico, mas sem um "fundamento" (1 Coríntios 14:26-33). Estão copiando um comportamento bíblico, mas um comportamento equivocado. No entanto, não devemos julgá-los, lembra? Fazemos parte de um corpo, mas temos uma missão em comum: EVANGELIZAR.

Pregar o evangelho às pessoas pode ser resumido em quatro pontos. É importante notar que esses pontos são orientativos e não são uma regra definitiva; evangelização não se limita apenas a isso. No entanto, esses pontos podem ajudar a manter foco e objetividade ao compartilhar a mensagem:

1-   Deus criou todas as coisas, tudo é puro e magnifico;

Quando Deus criou todas as coisas, tudo era perfeito e bom, todas as coisas inclusive o ser humano (Gênesis 1:31).

2-   O homem rejeita a Deus, o pecado domina tudo e contamina tudo e todos;

Quando Adão peca contra Deus, quando ele o desobedece e dá ouvidos a Satanás, o pecado começa a destruir todas as obras boas de Deus (Romanos 5:12). Por isso, o mundo está cheio de doenças, desgraças, tragédias, injustiças, depressão, tristezas, angústia e dor (Romanos 8:22). O mundo todo ficou mal, não porque Deus abandonou o homem, mas porque o homem abandonou a Deus. O homem se desligou de Deus. Somos criaturas merecedoras do castigo e da condenação (Romanos 3:23). Somos seres desprezíveis, sem glória alguma, fracos e dominados pelo pecado, escravizados por ele (Romanos 6:20).

3-   Jesus vence o pecado naquela cruz, inicia-se a restauração de tudo e todos.

Jesus acabou com o pecado naquela cruz. Ele foi crucificado junto com o pecado de todos naquela cruz, onde o pecado ficou pregado. No entanto, Jesus ressuscitou ao terceiro dia, iniciando uma nova aliança entre Deus e os homens. Jesus é o mediador que nos permite nos religarmos a Deus. Religião significa exatamente isso: religar-se a Deus. Religar é voltar a estar ligado. Adão e Eva estavam ligados a Deus no início, mas o pecado os separou de Deus. Jesus nos reconcilia com Deus através da graça, e para aqueles que estão em Cristo Jesus, não há condenação. Aqueles que permanecem na lei estão sob a maldição da lei (Romanos 8:1; Gálatas 3:10). O pecado é simplesmente a desobediência a Deus; Adão desobedeceu primeiro, e nós continuamos a desobedecer. Mas, pela misericórdia de Deus, hoje podemos escolher obedecer novamente, não através da lei, mas através de Cristo. A Bíblia afirma que Deus amou o mundo de tal maneira que entregou seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). Podemos ser obedientes hoje e aceitar que Jesus é nosso Senhor e Salvador, reconhecendo que não é por nosso esforço, mas pela obra que Cristo já realizou por nós naquela cruz. Quando cremos que Jesus é o Senhor e Salvador de nossas almas, somos novamente reconciliados com Deus, e essa ligação é impossível de ser quebrada. Jesus é a cola que nos une. Ele é o segundo ser mais poderoso do universo e restaurará tudo perfeito como era no princípio diante de Deus (Colossenses 1:20). Este é o quarto e último ponto do que significa evangelizar.

4-   Jesus volta de forma triunfante para finalizar e entregar tudo a Deus como era no princípio.

Você se pergunta: por que Jesus fez a obra na cruz e o mundo ainda permanece mal? Jesus iniciou o processo de restauração de tudo naquela cruz. O mais importante para nós ele já fez: nos reconciliou com Deus, pagando pelos nossos pecados. Ele continuou trabalhando após sua ascensão aos céus e, pouco tempo depois, enviou-nos o seu Espírito Santo, que nos sela e nos mantém ligados a Deus perpetuamente. É Ele quem nos dirige, guia, ensina, repreende e nos concede a paz, não a paz que o mundo oferece, mas a paz com Deus (João 14:26; Efésios 1:13; João 16:33).

Salvos em Cristo Jesus, temos a certeza de que estaremos eternamente desfrutando da presença de Deus. O que nos resta é aguardar a volta de nosso Senhor e Salvador para restaurar tudo como era no princípio. Ainda estamos neste mundo mal; ainda teremos aflições, tristezas, dores; ainda nem tudo foi restaurado. Mas temos o conforto de saber que Cristo já venceu este mundo, e é apenas uma questão de tempo até que Ele retorne triunfante. Ele não voltará como servo, como veio anteriormente, para ser submisso; Ele voltará para o julgamento final (Apocalipse 22:12). Todos aqueles que o aguardam morarão com Ele na nova Jerusalém, onde definitivamente não haverá mais choro nem dor (Apocalipse 21:4).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (2:1-4)

ATOS DOS APÓSTOLOS (2:1-4)

No capítulo anterior, Cristo da as últimas ordens e mandamentos aos apóstolos antes de subir aos céus, e ordena aos apóstolos que esperem em Jerusalém o Espírito Santo prometido. Após subir aos céus, dois anjos aparecem ao grupo e são avisados para se preocupar com a segunda vinda de Cristo, pois nada acabou, da mesma forma que Ele subiu aos céus, ele voltaria. Retornando a cidade, após orarem, escolheram um novo substituto para Judas, que abandonou a missão e ministério de apostolado.

Já no capítulo dois, o tão aguardado Espírito Santo é recebido, os batizados por ele falam em várias línguas, são admirados por alguns e ridicularizados por outros. Pedro, em processo de amadurecimento pela nova aliança, batiza várias pessoas, a igreja prospera, cresce muito em número, vários milagres são operados pelos apóstolos e as pessoas permanecem em comunhão, devoção e amor.

PENTECOSTES E O DOM DO ESPÍRITO SANTO: UMA FONTE DE PODER E RENOVAÇÃO.

“1 ¶ Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;

Pentecostes já era uma data comemorada anteriormente, não foi um novo evento criado por conta do maravilhoso sinal que receberam (Espírito Santo sobre todos em forma de língua).

A palavra Pentecostes é grega e significa quinquagésimo, essa era uma festa da colheita, comemorada 50 dias após a páscoa. Vimos anteriormente no capítulo 1, verso 3 que Jesus após ressuscitado permaneceu com eles 40 dias antes da ascensão aos céus, ou seja, a promessa foi cumprida uns 10 dias após sua ascensão.

2  de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. 3  E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. 4  Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.

Há alguns pontos a se observar aqui: como se manifesta o Espírito Santo ao batizar alguém? O que significa estar cheio do Espírito? Podemos nos esvaziar dele? E quais outras línguas eles falavam? A dos anjos?

1-   EM RELAÇÃO À MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM ALGUÉM:

Não é garantido que sempre que o Espírito Santo se manifestar, ocorrerão eventos como ventanias, como no episódio mencionado anteriormente, ou terremotos, como na prisão onde Paulo e Silas estavam. Há um processo envolvido. Inicialmente, foi necessária uma manifestação clara do Espírito Santo para demonstrar aos apóstolos e ao mundo o cumprimento da promessa feita em Joel (Atos 2:16). Em seguida, através da imposição das mãos, esse dom de ser batizado pelo Espírito Santo foi transmitido entre os apóstolos. Houve até mesmo alguém que tentou comprar esse poder (Atos 8:18-19), mas tudo isso foi parte de um processo. O resultado final continua o mesmo até hoje: o batismo pelo Espírito Santo ocorre através da pregação da fé.

“Então, Ananias foi e, entrando na casa, impôs as mãos sobre ele, dizendo: ‘Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou para que recuperes a vista e sejas cheio do Espírito Santo.’ Imediatamente, algo como escamas caiu dos olhos de Saulo, e ele recuperou a visão. Então, levantou-se e foi batizado.” (Atos 9:17-18 RA)

Aqui, podemos observar que o Espírito Santo não se manifestou através de vento, terremoto ou qualquer outra forma dramática. Foi uma manifestação mais sutil; as escamas que cobriam os olhos de Paulo foram removidas. Isso não foi simbólico; as escamas realmente caíram dos olhos de Paulo, restaurando sua visão física, e simbolizaram a remoção da venda espiritual que o impedia de ver a verdade sobre sua antiga religião, dando-lhe um novo entendimento, que continuou a se aprimorar ao longo do tempo.

“Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gálatas 3:2 RA)

Anteriormente, vimos o Espírito Santo sendo transmitido através da imposição de mãos. Agora, já em um estágio mais aprimorado, e testemunhando claramente esses acontecimentos, o Espírito Santo é transmitido através da pregação da fé. Pela fé em Jesus, as pessoas são batizadas pelo Espírito Santo.

“Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio do seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados. Enquanto Pedro ainda falava estas palavras, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra.” (Atos 10:43-44 RA)

Enquanto Pedro ainda falava se manifestou o Espírito Santo. Note a última palavra proferida por Pedro antes da manifestação do Espírito Santo, demonstrando claramente qual é o processo do batismo pelo Espírito Santo: "TODO AQUELE QUE NELE CRÊ RECEBE REMISSÃO DE PECADOS". As pessoas que estavam presentes, ao ouvirem Pedro afirmar que é pela fé em Jesus que seus pecados são perdoados, aceitaram isso de coração, sem proferir uma declaração, sem usar palavras, sem mergulhar em águas; o Espírito Santo desceu sobre todos ali, indicando que TODOS CRERAM EM CRISTO JESUS.


Percebam também que todos que OUVIRAM a palavra de Pedro creram e foram batizados. A salvação é pela pregação, e se havia alguém ali que não estava prestando atenção, comparando aos dias atuais, distraído com o celular, fazendo compras online ou conversando em redes sociais, essa pessoa não estava realmente ouvindo a palavra de Pedro e, portanto, não poderia crer nela e ser batizada através dela.

2-   AGORA, SOBRE A QUESTÃO DE FICAR CHEIO DO ESPÍRITO SANTO:

Encher-se do Espírito Santo significa dar evidência a Ele. Significa entregar o controle de nossos atos cotidianos a Deus, estar transbordando da palavra de Deus, orar constantemente, agradecer constantemente e permanecer conectado com as coisas espirituais. Podemos nos perguntar: como podemos nos encher do Espírito, ou voltar a ser cheios Dele, da mesma forma que fomos no início quando recebemos o batismo?

“18  E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, 19  falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, 20  dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,” (Efésios 5:18-20 RA)

“13  e quando em uníssono, a um tempo, tocaram as trombetas e cantaram para se fazerem ouvir, para louvarem o SENHOR e render-lhe graças; e quando levantaram eles a voz com trombetas, címbalos e outros instrumentos músicos para louvarem o SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre, então, sucedeu que a casa, a saber, a Casa do SENHOR, se encheu de uma nuvem; 14  de maneira que os sacerdotes não podiam estar ali para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR encheu a Casa de Deus.” (2 Crônicas 5:13-14 RA)

 

Uma das referências acima nos diz o óbvio: estar embriagado não nos deixa cheios do Espírito. Mas a chave principal que essas referências trazem se diz respeito aos louvores em honra e glória a Deus.

Nas Escrituras, encontramos referências à importância dos cânticos e salmos em louvor a Deus, que nos permitem ser cheios do Espírito Santo. Ao cantarem e louvarem a Deus, a igreja experimentou a plenitude de Sua presença. Da mesma forma, quando louvamos a Deus, nossos corações se enchem da Sua presença. Quando as Escrituras mencionam louvores a Deus, referem-se a louvores Cristocêntricos e Teocêntricos, mas não a louvores antropocêntricos. Estes últimos, que têm o homem como centro, não estão em conformidade com o que as Escrituras ensinam (Salmo 115:1, Lucas 18:11-12). Em vez de nos enchermos do Espírito Santo de Deus, esses louvores apenas nos tornam mais egoístas, vaidosos e egocêntricos, pois representam uma forma de idolatria e uma falsa teologia que alimenta o orgulho espiritual.

Mas além de louvores, há também outras formas que nos ensinam a como ficar dominado pelo Espírito Santo de Deus:

-Orar;

-Estudar e meditar na Palavra de Deus;

-Render-se a Deus e sua vontade: estar cheio do Espírito é abrir mão do controle próprio e entregar tudo ao controle Dele, isso requer humildade, submissão e disposição para obedecer a Sua vontade;

-Cultivar relacionamentos saudáveis entre os irmãos, encorajando-os, compartilhando e testemunhando experiências de fé entre crentes.

Outra maneira de estarmos cheios do Espírito Santo é EVITAR INTRISTECE-LO:

“Não “apagueis” o Espírito.” (1 Ts 5:19 RA)

Essa palavra no original grego significa sufocar, suprimir, abafar.

“E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.” (Efésios 4:30 RA)

Uma forma de manter nosso Espírito Santo atuante e forte é não entristecê-lo, é não buscar satisfazer os desejos da nossa carne. Lembrem-se, o Espírito Santo vive em constante luta com nossa carne. Mantê-lo mais forte significa mantê-lo dominante sobre nossos desejos carnais. O inverso é proporcional: manter como prioridade em nossas vidas os desejos carnais e as rotinas diárias, em detrimento dos divinos, não faz com que Deus arranque o Espírito Santo de nós, mas faz com que a carne fique mais forte e abafe a chama ardente do Espírito Santo de Deus:

“16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. 17  Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gálatas 5:16-17 RA)

Ainda sobre a questão de ficar cheio do Espírito Santo:

“1 ¶ Aconteceu que, estando Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, 2  perguntou-lhes: Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes? Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo. 3  Então, Paulo perguntou: Em que, pois, fostes batizados? Responderam: No batismo de João. 4  Disse-lhes Paulo: João realizou batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que vinha depois dele, a saber, em Jesus. 5  Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. 6  E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam.” (Atos 19:1-6 RA)

Percebam nessa referência e nas outras possíveis referencias cruzadas que o dom do Espírito Santo recebido não deixava as pessoas iguais como eram antes; havia uma clara mudança. O que mais marcou ou mostrou as pessoas fazendo após receberem o Espírito Santo foi falar em línguas e profetizar. E podem ter certeza de que o que elas falavam em línguas eram profecias, ou seja, não pode alguém possuir o Espírito Santo e permanecer como era antes.

E sobre a questão de profecias, seria esse dom a habilidade que a pessoa teria para dar “pitaco” em tudo e para todos?

No grego antigo, a palavra “PROFETIZAR”, a depender do contexto, significa:

a) proclamar por inspirações divinas, predizer;

b) profetizar, com a idéia de prever eventos futuro que pertencem esp. ao reino de Deus;

c) proclamar, declarar, algo que pode apenas ser conhecido por revelação divina;

d) irromper sob impulso repentino em discurso ou louvor sublime dos conselhos divinos;

e) sob tal impulso, ensinar, refutar, reprovar, admoestar, confortar outros;

f) agir como um profeta, cumprir o ofício profético.

Lembra de Estevão? O que ele estava fazendo? Ele estava profetizando, de forma sublime, cativante, entusiasmado, falando para os que posteriormente o apedrejaram sobre o reino de Deus, sobre Jesus, e ainda o viu em pé ao lado de Deus (Atos 7:55-56). Isso é uma das formas de profetizar. Outra ainda que é corriqueiro nas igrejas é a segunda assinalada, onde diz que profetizar é ensinar, refutar, reprovar, admoestar, confortar, testemunhar, evangelizar, etc.. (1 Coríntios 14:3).

Vemos inúmeras passagens de Paulo ensinando, repreendendo, refutando, seja em sinédrio, em Éfeso, em Atenas, nas prisões, nas cartas (Atos 17:17; Atos 19:8-10; Atos 17:22-31; Filipenses 1:12-14). Estamos vendo agora nesse capítulo o próprio Pedro assumindo seu papel de líder e esclarecendo a todos o que significa essa manifestação única de pessoas falando em línguas estranhas (Atos 2:14-21). Isso também é profetizar, temos que tirar da cabeça essa ideia de que profetizar é apenas prever o futuro (1 Coríntios 14:3).

Acontece e muito em meio evangélico a sede por esse dom, o dom da profecia, como se quem a tivesse fosse mais espiritual que outros, mas na verdade, quase que por maioria absoluta (e isso por impressão minha) não passa de um exibicionismo religioso, vaidade: “VOU DAR PITACO EM TUDO PARA QUANDO ACERTAR DIZER 'EU DISSE!!!'” (Mateus 6:1-6). Irmãos, até relógio quebrado acerta a hora duas vezes por dia.

“Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele.” (Deuteronômio 18:22 RA)

“7  Não vedes visão de vaidade e não falais adivinhação mentirosa, quando dizeis: O SENHOR diz, sendo que eu [tal] não falei? 8  Portanto, assim diz o Senhor JEOVÁ: Como falais vaidade e vedes a mentira, portanto, eis que eu [sou] contra vós, diz o Senhor JEOVÁ.” (Ezequiel 13:7-8 RC)

Em relação à 'futurologia', um dos dons preferidos da profecia, porque querem sim o dom da profecia apenas para prever o futuro, mas não pedem esse dom para poder evangelizar com mais autoridade (1 Coríntios 14:3). O que mais tem por aí é profetada furada, ou seja, vaidade de quem não tem respaldo de Deus sobre o que está prevendo (Jeremias 23:16). Mas vamos ver um caso exemplar de um personagem muito famoso que foi extremamente mimado, egocêntrico e vaidoso com o dom poderoso que tinha:

“Deus viu o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos. Então mudou de idéia e não castigou a cidade como tinha dito que faria.” (Jonas 3:10 NTLH)

“1 ¶ Por causa disso, Jonas ficou com raiva e muito aborrecido. 2  Então orou assim: —Ó SENHOR Deus, eu não disse, antes de deixar a minha terra, que era isso mesmo que ias fazer? Foi por isso que fiz tudo para fugir para a Espanha! Eu sabia que és Deus que tem compaixão e misericórdia. Sabia que és sempre paciente e bondoso e que estás sempre pronto a mudar de idéia e não castigar.” (Jonas 4:1-2 NTLH)

Vamos voltar um pouco nessa história e entender o que aconteceu anteriormente:

“Jonas entrou na cidade, andou um dia inteiro e então começou a anunciar: —Dentro de quarenta dias, Nínive será destruída!” (Jonas 3:4 NTLH)

A missão que Deus deu a Jonas foi: Dizer à cidade que ela seria destruída em 40 dias. Jonas foi extremamente vaidoso a ponto de fugir de Deus e da missão que Deus deu a ele de profetizar contra a cidade de Nínive.

Desde o início, ele sabia que o que faltava para aquele povo era alguém falar sobre o pecado; estavam confortáveis pecando contra Deus sem ressentimento, precisavam de alguém para alertá-los e mostrá-los o quão desalinhados estavam da vontade de Deus.

Jonas sabia isso de forma tão clara que preferiu fugir da missão dada por Deus. Ele sabia que o povo de Nínive se arrependeria de seus pecados e sabia que Deus seria misericordioso e os perdoaria depois que se arrependessem.

Mas lembram o que dizem as Escrituras sobre as profecias que não se cumprem? Jonas estava preocupado com o seu ego, com o que iriam pensar dele, não estava nem aí para a conversão dos pecados daquela cidade, mas sim com o cumprimento da palavra que ele anunciava.

Enfim, a profecia é, de fato, um dom maravilhoso, assim como vários outros (João 3:16). No entanto, raramente vemos alguém orar para receber o dom de ofertar mais, ou de ter o dom de ajudar pessoas deficientes e idosas (Mateus 25:35-40). A esmagadora maioria ora pelo dom da profecia, não pelo dom completo que envolve servir de maneira abrangente, como estudamos acima, mas apenas pela capacidade de prever o futuro, muitas vezes para satisfazer seu próprio ego e vaidade (1 Coríntios 14:1; 1 Pedro 4:10).