quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

ATOS DOS APÓSTOLOS (2:14-36)

O DISCURSO DE PEDRO: ADVERTÊNCIAS E EXPLICAÇÕES

14 ¶ Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras.

Finalmente, depois da manifestação desse grande milagre e do cumprimento da promessa de Jesus de enviar ao mundo seu Santo Espírito, após a manifestação desse Espírito sobre os crentes ali presentes, após o sinal dado por Deus aos homens, fazendo o Espírito Santo se manifestar nos crentes através de profecias e do dom de falar em outras línguas, Pedro assume a tribuna, exercendo seu papel de líder. Ele começa a explicar o que está acontecendo e a dissipar as dúvidas daqueles que estavam perplexos e indagando sobre o que estava acontecendo. Pedro combate a primeira "fake news" sobre esse espetáculo, refutando aqueles que estavam considerando tudo aquilo como um circo e acreditando que os crentes estavam embriagados.

15  Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.

Pedro não usa argumentos frágeis para afirmar que eles não estavam embriagados, dizendo: "São todos meus conhecidos, eu garanto a vocês que eles não estão embriagados." Não, Pedro utiliza um argumento que teria mais credibilidade para todos, ao mencionar o horário do dia para afirmar que dificilmente haveria pessoas embriagadas ali nas primeiras horas do dia. Alguns podem até pensar que Pedro estava falando à noite, por volta das 9 horas, já que os judeus começam um novo dia a partir do pôr do sol, ao contrário de nós, que começamos à meia-noite. Mas pelo contexto, as três primeiras horas do dia referem-se ao nascer do sol. Nem todos ali haviam almoçado, apesar de ser uma festa. Ainda era cedo para que as pessoas estivessem embriagadas, considerando a cultura local.

16  Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: 17  E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; 18  até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

O que estava acontecendo ali era, sim, o cumprimento da promessa feita por Jesus aos apóstolos, mas essa promessa não foi feita de última hora. Todo o plano de Deus já estava traçado; o que faltava era alguém executá-lo completamente, indo até o fim. Jesus foi aquele que venceu. Pergunto-me, Deus poderia ter perdido seu filho para Satanás? Tinha algo a se perder no plano que Deus fez? Ele entregaria Jesus para morrer em nosso lugar, mas e se Satanás conseguisse convencê-lo do contrário? Era possível? E se Satanás, quando tentou, tivesse tido êxito? Para Deus, a entrega de Jesus aos homens foi fácil porque tinha tudo "garantido"? Ele correu risco? Pois assim como o homem se corrompeu e se enganou com Satanás, assim como a terça parte dos anjos se enganou também, Jesus poderia também ter sido enganado? Mas Cristo triunfou. Ele venceu toda e qualquer tentação. Ele tem a honra de ter o nome sobre todo nome por causa da obra que fez naquela cruz. Glória a Deus por isso, por ter confiado o plano da salvação a Jesus, aquele que foi fiel até o fim. (Filipenses 2:9)

19  Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. 20  O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. 21  E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

Pedro termina com a citação da profecia em Joel. Percebam que ele citou a profecia sobre o que tinha acabado de acontecer, mas continuou a citar o restante da profecia, falando dos sinais que antecederiam o glorioso dia do Senhor (Atos 2:16-21).

Os sinais no céu se referem às estrelas caindo como figos de uma figueira sacudida, e os sinais embaixo da terra se referem a terremotos, não somente os mesmos que costumamos ver em países com esse histórico, mas terremotos em todas as partes da terra.

Sobre o sol se transformar em trevas e a lua em sangue, não quer dizer que literalmente vai acontecer isso, mas a lua ficará avermelhada na cor de sangue, e isso já é um fenômeno conhecido e batizado de lua sangrenta, que ocorre durante um eclipse lunar. Ou seja, o sol fica atrás da terra, e a lua fica pouco iluminada, dando a ela uma aparência avermelhada, especialmente durante uma superlua, que é a lua cheia mais próxima da terra. Outra situação em que a lua pode ficar avermelhada como sangue é quando os céus estão cheios de fumaça, causando pouca luminosidade, e tanto a lua quanto o sol podem parecer escurecidos por conta da fumaça. E que fumaça? A fumaça das cidades em chamas, como foi o caso de Sodoma e Gomorra.

A escatologia dos fins do mundo narrada no Apocalipse oferece mais insights sobre esses eventos:

“12  Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, 13  as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, 14  e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. 15  Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes 16  e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, 17  porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Apocalipse 6:12-17 RA)

Percebam que primeiramente Pedro "aterrorizou" a todos com a profecia de Joel sobre como serão os finais do tempo, como será poderosa a mão de Deus sobre toda a terra, de como tudo e todos tentarão fugir da presença deles, mas agora ele começa a mostrar a eles a BOA NOTÍCIA, o verdadeiro evangelho. Após aterrorizá-los, Pedro fala a eles sobre aquele que pode salvá-los desse dia terrível:

22  Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis;

Todos ali conheciam a história de Jesus Cristo; a notícia corria rápido, de boca em boca. Pessoas eram trazidas de longe, ou vinham de longe para buscar a cura de suas enfermidades junto a Jesus. Quem de fato não cria nele, pelo menos ouvia falar no "tal" Jesus que andava sobre as águas (Mateus 14:25), ressuscitava mortos (João 11:43-44), curava leprosos (Mateus 8:2-3), e todos esses milagres que Jesus realizou perante aquelas pessoas eram prova de que o mesmo era aprovado por Deus.

23  sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;

Pela presciência de Deus (1 Pedro 1:2), Presciência é a capacidade de prever o futuro, isso prova que todo o plano da salvação não foi se desdobrando e acontecendo conforme a história ia avançando, não, tudo foi planejado, e Cristo foi aquele que cumpriu tudo, foi fiel até o fim. Não foi somente aqui em que algum personagem bíblico declara Deus com essa capacidade de prever o futuro. O próprio Pedro, lá na frente em uma de suas cartas diz:

“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.” (1 Pedro 1:2 RA)

A nossa eleição parte de Deus, e não de nós, isso entra na área de predestinação, ou seja, fomos criados e predestinados a sermos salvos por Cristo (Efésios 1:4), mas é uma área muito polêmica e não quero entrar em detalhes ainda sobre esse tema.

24  ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela.

Após Pedro ter "aterrorizado" a todos com a profecia de Joel, ele finalmente começa a falar de Jesus, mencionando Sua ressurreição e como a morte seria incapaz de mantê-Lo morto. Pedro segue explicando, desta vez citando Davi. Davi era e ainda é um ancestral muito importante para os judeus. Veja uma das promessas (profecias):

“6  Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; 7  para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6-7 RA)

“5  Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. 6  Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa.” (Jeremias 23:5-6 RA)

Os judeus aguardavam sim um descendente de Davi, mas ficaram de certa forma frustrados porque aquele que fez sinais milagrosos na frente deles morreu, e não reinou como eles esperavam, não assumiu o trono ou a "presidência" imediatamente e começou a fazer justiça como as profecias previam. Isso explica porque os apóstolos questionaram Jesus se aquela hora, a hora em que permaneceu com ele 40 dias, seria o momento em que tornaria Israel novamente uma nação soberana, achavam que Jesus já tinha voltado para cumprir com a profecia (Atos 1:6), mas como vimos, ainda não era tempo para isso, e Cristo trabalha até hoje ainda restaurando tudo para quando voltar, aí sim estabeler o seu reino aqui na terra.

25  Porque a respeito dele diz Davi: Diante de mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado. 26  Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha própria carne repousará em esperança, 27  porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. 28  Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença.

O texto diz aqui que o próprio Davi profetizou sobre a ressurreição, e aqui está a explicação de que a morte não poderia deter Cristo, pois já estava profetizado de que o próprio Deus não deixaria a alma dEle na morte, não permitiria que o TEU SANTO VEJA CORRUPÇÃO. Mas tem um probleminha nessa profecia. Da forma que está escrita, os judeus interpretavam que Davi estava falando dele mesmo, e o texto frio dá sim exatamente essa interpretação, mas Pedro agora dá a todos o real entendimento desta passagem, e como foi possível Pedro entender isso? Lembram, Cristo deu a eles o entendimento das escrituras sagradas (Lucas 24:45).

29  Irmãos, seja-me permitido dizer-vos claramente a respeito do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo permanece entre nós até hoje. 30  Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, 31  prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção.

Diferentemente do que se referia o texto, a profecia de Davi não era a ele mesmo, mas sim sobre Jesus Cristo. Davi foi sepultado e ainda permanece em seu túmulo até os dias de hoje, mas, diferentemente, Cristo foi ressuscitado, ELE VIVE, não experimentou a morte e seu corpo não sofreu corrupção, ou seja, não foi degradado com o tempo. Não ficou apenas em ossos; em apenas três dias, seu corpo já viraria incorruptível e ressuscitaria em glória eterna.

O próprio Cristo já havia ensinado aos fariseus que estavam enganados quanto às profecias de Davi, e uma delas podemos encontrar no verso abaixo:

“41 ¶ Reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus: 42  Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe eles: De Davi. 43  Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: 44  Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? 45  Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho?” (Mateus 22:41-45 RA)

O próprio Cristo aqui nos ensina que, apesar de ter nascido de Maria, descendente de Davi, e seu pai adotivo José ser também descendente, Ele era sim descendente de Davi, mas não filho. Ele é filho do Deus Altíssimo. Vimos já no primeiro verso do Novo Testamento Jesus sendo anunciado como filho de Davi e filho de Abraão (Mateus 1:1). Vimos pessoas clamando a ele e o chamando de filho de Davi, mas apenas para cumprir as Escrituras e mostrar ao povo de Israel que já nasceu o Salvador. A espera por outro será em vão e catastrófica para quem assim o fizer. Jesus é filho de Deus, e por isso Cristo os corrigiu.

32  A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.

Todos aqueles que ali estavam profetizado em outras línguas eram testemunhas de que Cristo ressuscitou dos mortos.

33  Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. 34  Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, 35  até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. 36  Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.

Agora Pedro cita a mesma referência que Cristo anteriormente havia explicado aos fariseus (Mateus 22:41-46). A passagem que Cristo ensina sobre as profecias de Davi sobre o messias era conhecida de muitos ali, as palavras daquele que fez sinais e maravilhas eram conhecidas de muitos, e quando Pedro relembra-os que Cristo já os havia chamado a atenção sobre o verdadeiro entendimento das escrituras sagradas, reconheceram que tinham crucificado o verdadeiro messias prometido (continua no próximo estudo (Atos 2:37-41)).

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