Ao abrirmos as primeiras páginas da Bíblia, somos imediatamente
levados ao início de tudo: à origem do universo, da terra e da própria história
humana. O livro de Gênesis não começa com explicações científicas ou
filosóficas, mas com uma declaração poderosa e definitiva:
“No
princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1).
Esse versículo não apenas apresenta Deus como o Criador de todas
as coisas, mas também nos introduz a um relato repleto de propósito, ordem e
significado.
O objetivo deste estudo é mergulhar nos dois primeiros dias da
criação descritos em Gênesis 1. Observaremos como Deus, por Sua palavra e
poder, dá início à formação do universo, transformando o caos em ordem, a
escuridão em luz, o vazio em estrutura. Esses primeiros atos revelam verdades
profundas sobre o caráter de Deus, Sua soberania, e Sua natureza triúna, Pai,
Filho e Espírito Santo, agindo em perfeita unidade desde o princípio.
Além disso, exploraremos como esses eventos se relacionam com
outras passagens das Escrituras, mostrando a harmonia entre o Antigo e o Novo
Testamento, e destacando que Jesus, o Verbo eterno, estava presente e ativo na
criação. Ao compreendermos os dias iniciais da criação, não apenas reconhecemos
a origem do mundo físico, mas também somos levados a refletir sobre o plano
divino que culminaria na redenção por meio de Cristo, a verdadeira luz que veio
ao mundo.
Que este estudo nos ajude a contemplar com reverência o Deus
Criador e a perceber que, desde o princípio, tudo foi feito com propósito,
ordem e glória.
O dia
1 e 2 da criação
“1 ¶
No princípio, criou Deus os céus e a terra.
2 A terra, porém, estava sem
forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus
pairava por sobre as águas.
Neste trecho, tem início o relato da criação. Observa-se que
Deus criou "os céus" (no plural) e "a terra", indicando não
apenas o universo físico visível, mas também as regiões celestiais invisíveis
ao olhar humano, incluindo a dimensão espiritual, como vimos em Colossenses 1:16:
“porque,
nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as
invisíveis…”).
Logo após essa criação inicial, a terra ainda estava "sem
forma e vazia", um estado desordenado e inabitável. Nesse cenário, vemos
uma clara referência à Trindade já no princípio da criação: Deus está criando
(o Pai), e o Espírito de Deus está presente, pairando sobre as águas. Essa
presença ativa do Espírito indica que Ele é uma pessoa distinta, mas plenamente
divino (Salmos
104:30).
Embora o texto de Gênesis não mencione explicitamente o Filho, o
Novo Testamento esclarece que o próprio Jesus, o Verbo, estava presente na
criação:
“Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito
se fez” (João 1:1-3)
“Pois,
nele, foram criadas todas as coisas...” (Colossenses 1:16)
Assim, já nos primeiros versículos da Bíblia, percebemos a
atuação conjunta do Deus Triúno: o Pai que ordena, o Filho por meio de quem
tudo é criado, e o Espírito que dá forma e sustenta.
3 ¶
Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
4 E viu Deus que a luz era boa; e
fez separação entre a luz e as trevas. 5 Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite.
Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
Essa luz surgiu antes da criação do sol, da lua e das
estrelas, que só foram feitos no quarto dia (Gênesis 1:14-19). Portanto, essa luz não dependia de corpos celestes e
representa uma manifestação direta da ordem de Deus. É uma luz criada,
física, essencial para o início da organização do universo.
Ao separar a luz das trevas (Gênesis 1:4), Deus estabelece também um princípio simbólico
que aparece ao longo de toda a Escritura: a luz como símbolo do bem, da
verdade, da presença de Deus, e as trevas como símbolo do mal, da
ignorância e da separação de Deus.
Embora a Bíblia diga que Jesus é a Luz do mundo, não quer
dizer que essa luz criada era Ele, isso se refere à luz espiritual e eterna,
e não à luz física criada em Gênesis 1:
“Nele
estava a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e
as trevas não prevaleceram contra ela.” (João 1:4-5)
“Eu
sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da
vida.” (João 8:12)
Portanto, Jesus não foi criado nessa ocasião. Ele já existia
eternamente com o Pai e o Espírito Santo, como parte da Trindade. Ele não é
criatura, mas Criador:
“Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito
se fez.” (João 1:3)
“Pois,
nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra... tudo foi
criado por meio dele e para ele.” (Colossenses 1:16)
A luz criada em Gênesis 1:3 é uma criação física
essencial no primeiro ato da organização do universo. Já Jesus Cristo, chamado
de “luz do mundo”, é eterno, não criado, e estava ativo na criação,
como o agente por meio do qual Deus fez todas as coisas (Hebreus
1:2-3). Ele é a luz espiritual que liberta
o homem das trevas do pecado e o reconcilia com Deus.
6 ¶ E
disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e
águas. 7
Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do
firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez. 8 E
chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia.
Neste segundo dia da criação, Deus ordena que haja um firmamento
no meio das águas, criando uma separação entre as “águas de cima” e as “águas
de baixo”. O termo “firmamento”, do hebraico raqia, pode ser entendido
como uma expansão ou uma vasta extensão, aquilo que hoje chamamos de céu
visível, ou atmosfera.
Ao fazer essa separação, Deus organiza o caos descrito no
versículo 2, onde "a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a
face do abismo...”. Agora, Ele começa a
dar forma e ordem à criação, separando as águas e criando o espaço que chamamos
de céu.
A água que ficou abaixo do firmamento formaria os mares,
lagos e rios; a água que ficou acima do firmamento é interpretada por
muitos estudiosos como uma camada de vapor ou um reservatório celestial, algo
que foi "rompido" posteriormente no dilúvio (Gênesis
7:11).
É importante destacar que, no primeiro dia, Deus já havia
criado "os céus e a terra" (Gênesis 1:1). A expressão "céus", nesse contexto, pode se
referir aos céus celestiais, o mundo espiritual, onde habita Deus e onde
existem os seres celestiais (Salmos 148:2-5; Colossenses 1:16). Já no segundo dia, o "firmamento"
chamado de "céus" diz respeito ao céu físico, visível aos nossos
olhos, aquele onde vemos as nuvens e o espaço onde posteriormente foram
colocados o sol, a lua e as estrelas (Gênesis 1:14-19).
Portanto, podemos entender que:
- No
primeiro dia, Deus criou os céus (em sentido mais
amplo e espiritual) e a terra de forma geral.
- No
segundo dia, Deus organizou a criação ao formar o
firmamento, ou céu atmosférico, separando as águas e preparando o ambiente
terrestre.
Esse ato de separação revela o caráter de ordem e propósito na
criação divina. Nada foi feito ao acaso; tudo segue uma progressão lógica e
funcional para sustentar a vida que viria a ser criada nos dias seguintes.
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