sexta-feira, 24 de outubro de 2025

EFÉSIOS 1:15-19

Oração de Paulo pela Igreja em Éfeso

Nas mensagens anteriores, vimos Paulo narrando como Deus preparou todo o plano da salvação, envolvendo a eleição e a predestinação, e como Jesus Cristo foi o agente que cumpriu esse plano perfeito, realizando a redenção e garantindo nossa herança eterna (Ef 1:3-14). Ao final desses versos, observamos também a atuação do Espírito Santo, o terceiro da Trindade, que continua agindo até hoje como o meio pelo qual somos alcançados pela graça de Deus. É Ele quem convence, transforma e sela os escolhidos, fazendo-os ouvir e crer na Palavra da verdade: o evangelho da salvação (Ef 1:13-14).

A gratidão e intercessão de Paulo

15 Por isso, também eu, tendo ouvido da fé que há entre vós no Senhor Jesus e do amor para com todos os santos, 16 não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações (Ef 1:15-16).

Paulo foi o fundador da igreja em Éfeso (At 19:1-10) e também de outras igrejas nas regiões próximas. Essas comunidades enfrentavam perseguições e dificuldades por causa da fé, o que certamente gerava entre alguns desânimo, especialmente por saberem que o próprio Paulo, seu fundador e líder espiritual, estava preso (Ef 3:1; 4:1; Fp 1:12-14).

Mesmo assim, Paulo recebeu boas notícias a respeito da fé e do amor dos efésios, fé no Senhor Jesus e amor para com todos os santos. Essa combinação é a marca dos verdadeiros crentes: fé em Cristo e amor fraternal (1Ts 1:3; Cl 1:4; Jo 13:35).

Esses frutos espirituais mostravam a Paulo que, de fato, aqueles irmãos eram os escolhidos de Deus, selados com o Espírito Santo (Ef 1:13). A fé genuína e o amor mútuo eram evidências de que o Espírito de Deus havia operado neles, garantindo que nada os poderia separar do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8:38-39).

Por isso, Paulo declara: “não cesso de dar graças por vós”. Isso não significa que ele passava o tempo todo orando apenas por eles, mas que, constantemente, ao lembrar-se dos efésios, dava graças a Deus por suas vidas (1Ts 5:17-18; Fp 1:3-5). Sua gratidão se expressava em oração intercessória contínua, mostrando o amor pastoral e a comunhão espiritual que mantinha com aquela igreja, mesmo estando preso.

O conteúdo da oração

Nos versos seguintes (Ef 1:17-19), Paulo revela o conteúdo dessa oração: ele pede que Deus conceda aos efésios espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento de Cristo, iluminando os olhos do coração para compreenderem a esperança, a riqueza e o poder que pertencem aos que creem.

Mas o ponto central aqui (vs. 15-16) é a gratidão perseverante de Paulo. Ele não se deixa abater pelas circunstâncias nem pelas prisões, mas continua servindo a Deus com alegria, intercedendo pelos irmãos e reconhecendo a obra do Espírito Santo neles.

Oração por sabedoria e revelação espiritual

17  para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele,

Nos versículos anteriores, Paulo expressou sua gratidão a Deus pela fé e amor dos irmãos em Éfeso (Ef 1:15-16). Agora, ele revela o conteúdo de sua oração: pede que Deus conceda aos cristãos espírito de sabedoria e de revelação para que cresçam no pleno conhecimento de Cristo.

O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo

Paulo inicia sua oração dizendo: “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória”.
É importante lembrar que Jesus Cristo é Deus verdadeiro e homem verdadeiro. Como Deus, Ele é um com o Pai (
Jo 10:30), mas como homem, sujeitou-se à vontade do Pai e, nessa condição, Deus Pai é o Deus de Jesus Cristo (Jo 20:17).

A expressão “Pai da glória” é uma forma hebraica de afirmar que Deus é o Pai supremo, cheio de glória e majestade, o Criador e sustentador de todas as coisas (Sl 24:10; 1Cr 29:11).

A prática da oração constante

Paulo está falando de oração (Ef 1:16-17). E o exemplo que ele dá tem uma aplicação prática para todos os cristãos: não há um local específico onde se deve orar.

Mesmo estando preso e acorrentado a um soldado romano (At 28:16, 30), Paulo não deixava de orar. Ele sabia que nunca estava sozinho, pois o Senhor estava com ele (2Tm 4:17). Assim, ensina-nos que não há desculpas para não orarmos, devemos orar em qualquer lugar e em qualquer circunstância (Fp 4:6; 1Ts 5:17).

Além disso, suas orações não se limitavam a pedidos pessoais. Ele intercedia por outras pessoas, agradecia por seus irmãos e orava em favor da igreja (Rm 1:9-10; Cl 1:9). Essa atitude mostra que a oração não é apenas um meio de pedir algo a Deus, mas uma forma de comunhão e serviço espiritual, em que também colocamos diante de Deus as necessidades dos outros.

A gratidão pelo que Deus faz na vida dos outros

A oração de Paulo nos ensina também a agradecer pelas bênçãos concedidas aos outros. Em vez de invejar ou lamentar o sucesso dos irmãos, devemos nos alegrar com eles, reconhecendo a graça de Deus em suas vidas (Rm 12:15; Fp 2:3).

Por exemplo, se Deus abençoa alguém com uma nova casa, um bom emprego ou prosperidade, nossa reação deve ser:

“Senhor, obrigado por abençoar meu irmão. Continue derramando tua graça sobre ele.”

Esse é o verdadeiro espírito cristão: considerar os outros superiores a nós mesmos e viver com humildade diante de Deus (Fp 2:3-4; Tg 4:6).

O pedido de Paulo: sabedoria e revelação

Depois de agradecer e interceder pelos irmãos, Paulo também faz um pedido específico:

Que Deus conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dEle” (Ef 1:17).

Note que Paulo não pede prosperidade, saúde ou livramentos, embora tudo isso seja importante, mas pede algo muito mais valioso: sabedoria para conhecer a Deus.

Aqui, “espírito de sabedoria” não se refere ao Espírito Santo (com letra maiúscula), mas a uma disposição espiritual, uma atitude mental e emocional guiada pelo Espírito de Deus, que leva o crente a viver com discernimento espiritual (Pv 2:6; Tg 1:5).

Esse espírito de sabedoria capacita o cristão a tomar decisões prudentes e bíblicas, não baseadas em impulsos, mas na verdade revelada nas Escrituras (Cl 1:9-10). Assim, mesmo alguém simples, mas cheio dessa sabedoria divina, pode ser mais sábio que os sábios deste mundo (1Co 1:20-25).

O verdadeiro sentido de “revelação”

O “espírito de revelação” que Paulo menciona não significa descobrir novas verdades ou receber novas revelações místicas, como muitas vezes se interpreta erroneamente.

Revelação aqui tem o sentido de compreender mais profundamente as verdades que já foram reveladas por Deus em Sua Palavra. Logo adiante, Paulo fala sobre “iluminação” (Ef 1:18), mostrando que se trata de clareza espiritual e entendimento das Escrituras, não de algo novo ou oculto.

As três fases da obra do Espírito Santo na revelação

A obra do Espírito Santo relacionada à revelação pode ser entendida em três fases:

1.    Revelação – É a ação do Espírito Santo em revelar o que estava oculto no plano de Deus. Foi assim com os profetas e apóstolos. Por exemplo, Isaías viu o Cristo crucificado e os novos céus e nova terra (Is 53; 65:17). Paulo e João também receberam revelações sobre o futuro (Gl 1:11-12; Ap 1:1).

2.    Inspiração – Depois de revelar, o Espírito Santo inspirou esses homens para registrarem fielmente a mensagem divina. Assim nasceram as Escrituras, escritas sem erro e com autoridade divina (2Tm 3:16; 2Pe 1:21).

3.    Iluminação – Hoje, já não há novas revelações ou inspirações infalíveis, pois tudo foi registrado na Bíblia. A função atual do Espírito Santo é iluminar o entendimento dos crentes para compreenderem e aplicarem as verdades já reveladas (Jo 14:26; Jo 16:13; 1Co 2:12).

O pleno conhecimento de Deus

O objetivo de Paulo é que os crentes não fiquem satisfeitos com um conhecimento superficial de Deus, mas busquem o pleno conhecimento (Cl 1:9-10; 2Pe 3:18).

Esse pleno conhecimento não é condição para a salvação, nem é completamente alcançável nesta vida, mas é algo que todo cristão deve desejar e buscar, pois quanto mais conhecemos a Deus, mais o amamos, mais confiamos nEle e mais nos tornamos semelhantes a Cristo (Fp 3:10).

Conclusão

Em resumo, a oração de Paulo nos ensina a:

  • Orar constantemente, em qualquer lugar e circunstância (1Ts 5:17);
  • Agradecer a Deus pelas bênçãos derramadas sobre os outros;
  • Interceder pelos irmãos e pela igreja;
  • Pedir a Deus sabedoria e iluminação espiritual para conhecê-Lo mais profundamente.

Assim, crescemos em graça, fé e amor, refletindo o caráter de Cristo em nossas vidas.

18  iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos 19  e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder;

Iluminados os olhos do vosso coração

Depois de pedir que Deus concedesse espírito de sabedoria e de revelação, Paulo ora para que “os olhos do coração” dos cristãos sejam iluminados (Ef 1:18).

Mas o que significa isso?

A Bíblia muitas vezes descreve o coração como o centro do ser humano, o lugar onde residem o entendimento, a vontade, as emoções e a consciência (Pv 4:23; Mt 15:19; Hb 4:12). É com o coração que cremos (Rm 10:10) e é por ele que compreendemos as coisas espirituais.

Porém, o pecado cegou o coração humano. O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus (1Co 2:14). Por isso, Paulo pede a Deus que ilumine os olhos do coração, para que o cristão possa enxergar claramente as verdades espirituais e alcançar o pleno conhecimento de Deus.

Observe que os crentes de Éfeso já eram salvos, selados com o Espírito Santo (Ef 1:13) e batizados em Cristo, mas ainda assim Paulo ora para que cresçam no entendimento espiritual. Isso mostra que a vida cristã não termina na conversão, ela é um processo de crescimento contínuo, e devemos buscar cada vez mais o conhecimento e a profundidade em Deus (Cl 1:9-10; 2Pe 3:18).

As três verdades que Paulo deseja que compreendamos

Paulo destaca três aspectos fundamentais que dependem dessa iluminação espiritual:

1.    A esperança do seu chamamento

2.    A riqueza da glória da sua herança nos santos

3.    A suprema grandeza do seu poder para com os que creem

1. A esperança do seu chamamento

Paulo ora para que saibamos “qual é a esperança do seu chamamento” (Ef 1:18).

Deus não apenas convida, Ele chama eficazmente (Rm 8:30; 2Tm 1:9). Seu chamado é irresistível, pois procede de Sua vontade eterna.

No início de Efésios 1, aprendemos que Deus elegeu (Ef 1:4), predestinou (Ef 1:5) e planejou toda a salvação em Cristo. Jesus, o Filho, cumpriu o plano, redimindo o povo escolhido (Ef 1:7), e o Espírito Santo selou esse povo como propriedade de Deus (Ef 1:13-14).

Quando Paulo fala da “esperança do chamamento”, ele se refere à certeza de que Deus cumprirá todas as Suas promessas. O chamado divino traz esperança, porque quem chama é fiel para completar a boa obra (Fp 1:6).

Fomos chamados das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2:9); fomos libertos da escravidão do pecado e tornados filhos de Deus (Jo 8:34-36; Rm 8:15). Essa é a nossa esperança, a certeza de que Aquele que nos chamou também nos conduzirá até o fim, dando-nos a vida eterna (Jo 10:28-29).

2. A riqueza da glória da sua herança nos santos

Paulo também ora para que entendamos “qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18).

Aqui, ele não está falando da nossa herança, mas da herança de Deus.

Nós somos a herança de Deus (Dt 32:9; Ef 1:11). O povo que Ele salvou e redimiu é Sua posse preciosa, o tesouro pelo qual Cristo morreu (Tt 2:14).

Essa herança é gloriosa e rica, pois consiste na comunhão dos santos, a Igreja. Quando entendemos que fazemos parte dessa herança, passamos a valorizar mais o corpo de Cristo (1Co 12:27), a comunhão dos irmãos e o privilégio de congregar (Hb 10:24-25).

Em vez de sermos críticos, distantes ou desigrejados, passamos a reconhecer que a Igreja, mesmo com suas imperfeições humanas, é o povo glorioso de Deus, comprado pelo sangue de Cristo (At 20:28).

3. A suprema grandeza do seu poder para com os que creem

Por fim, Paulo deseja que compreendamos “a suprema grandeza do seu poder para com os que creem”, segundo “a eficácia da força do seu poder” (Ef 1:19).

Esse poder é o mesmo poder que Deus exerceu em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos (Ef 1:20).

Deus agiu com poder para realizar o Seu plano. Paulo mostra, logo no início do capítulo 2 de Efésios, o tamanho desse poder ao descrever a nossa antiga condição espiritual:

“Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2:1-3).

Ou seja, antes da ação poderosa de Deus, estávamos completamente perdidos, espiritualmente mortos, escravizados pelo pecado, submissos às paixões carnais e à influência de Satanás. Não havia em nós capacidade ou vontade de buscar a Deus, vivíamos segundo o curso deste mundo, afastados da vida que vem de Deus (Romanos 3:10-12; Efésios 4:18).

Mas é nesse cenário de total miséria espiritual que se manifesta “a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos” (Efésios 1:19). Pois “Deus, sendo rico em misericórdia, e por causa do grande amor com que nos amou, estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos” (Efésios 2:4-5).

Esse é o PODER que Paulo deseja que conheçamos, o poder que vivifica os mortos espirituais, que tira o homem das trevas e o transporta para o reino do Filho do Seu amor (Colossenses 1:13). É o poder que muda a natureza humana, que gera fé onde havia incredulidade, e que sustenta os crentes até o fim.

O fato de crermos, permanecermos firmes e continuarmos sendo transformados é resultado direto da eficácia da força desse poder. É por isso que nossa salvação não depende da nossa força, mas da fidelidade de Deus, que “há de completar a boa obra que começou em nós até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6).

Nada pode impedir o cumprimento do plano de Deus, e é nesse poder irresistível e eficaz que se baseia nossa segurança eterna.

Nada além do supremo poder de Deus poderia tirar o homem da morte espiritual e torná-lo participante da herança dos santos na luz (Cl 1:12-13).

Esse mesmo poder é o que nos sustenta na fé até o fim (1Pe 1:5). Por isso, cremos na segurança eterna do crente: quem foi chamado e salvo pelo poder de Deus não pode ser perdido, pois é Deus quem preserva o que Ele mesmo regenerou (Rm 8:38-39; Jo 6:37-39).

Aplicações práticas

1.    Tenha uma vida de oração constante, como Paulo, pedindo a Deus iluminação espiritual e crescimento no conhecimento dEle (Cl 1:9).

2.    Tire os olhos das circunstâncias e contemple a suprema eficácia do poder de Deus, que atua em sua vida.

3.    Se ainda luta contra pecados persistentes, lembre-se: não há nada que o poder de Deus não possa vencer em você.

4.    Busque revelação no sentido correto, não de segredos místicos, mas de iluminação para compreender a profundidade das Escrituras (Sl 119:18; Jo 16:13).

5.    Reflita: se você é crente há anos, quando foi a última vez que aprendeu algo novo sobre Deus? Que o Senhor ilumine os olhos do seu coração para crescer cada dia mais no conhecimento e na graça de Cristo (2Pe 3:18).

Conclusão

A oração de Paulo é uma das mais belas expressões da vida espiritual madura:

  • Ele ora por iluminação e não por bens materiais;
  • Busca o pleno conhecimento de Deus, não o conforto terreno;
  • E nos ensina que a verdadeira sabedoria está em ver com os olhos do coração, guiados pelo Espírito Santo.

Que essa seja também a nossa oração diária:

“Senhor, ilumina os olhos do meu coração, para que eu conheça a esperança do teu chamamento, a riqueza da tua herança e a grandeza do teu poder.”

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