A carta aos efésios foi escrita por Paulo enquanto estava preso. Mesmo nessa condição, sua maior preocupação não era consigo, mas com a igreja em Éfeso, que se mostrava aflita quanto ao futuro diante da situação do apóstolo. Por isso, Paulo escreve para fortalecê-los na fé e lembrá-los de que tudo estava dentro do plano de Deus. Ele destaca que suas tribulações não eram motivo de desânimo, mas sim de glória, pois faziam parte da obra de Cristo entre os gentios.
“Portanto,
vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a
vossa glória.” (Efésios 3:13, RA)
Assim, a carta não apenas traz consolo, mas também revela
verdades profundas sobre a unidade da igreja em Cristo, a nova vida no Espírito
e a grandeza das bênçãos espirituais que temos n’Ele.
“1 ¶ Paulo, apóstolo de Cristo
Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo
Jesus, 2 graça a vós outros e paz, da
parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
PREDESTINAÇÃO
Na saudação
inicial, o apóstolo Paulo deixa claro que é “apóstolo por vontade de Deus”. Ele
reconhece a soberania divina em sua chamada e ministério, sabendo por
experiência própria que, se não fosse a intervenção de Deus, ainda seria Saulo,
perseguidor da Igreja (Atos 9:1-6).
Esse
reconhecimento aponta para a doutrina bíblica da predestinação, que, embora
muitas vezes considerada polêmica, é afirmada tanto por Paulo quanto por Pedro.
Paulo ensina que fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios
1:4-5; Romanos 8:29-30), e Pedro também escreve
sobre os eleitos “segundo a presciência de Deus Pai” (1
Pedro 1:1-2).
A doutrina da
predestinação é sim muito polêmica no meio cristão, mas ela é bíblica e
apóstolos como Pedro e o próprio Paulo acreditavam e pregavam sobre isso (Efésios
1:4-5; Romanos 8:29-30; 1 Pedro 1:1-2). Não somente
Pedro e Paulo, mas o próprio Jesus Cristo também ensinou sobre a escolha
soberana de Deus (João 6:44; João 15:16; Mateus 11:27), e essa doutrina atravessa toda a Escritura, desde o Antigo
Testamento até Apocalipse (Deuteronômio 7:7-8; Jeremias 1:5;
Malaquias 1:2-3; Tiago 1:18; 2 João 1:1; Apocalipse 17:14).
Assim, a própria
vida de Paulo é testemunho da graça soberana de Deus, que transforma um inimigo
da fé em um apóstolo de Cristo, mostrando que a escolha e o chamado pertencem
exclusivamente ao Senhor (Gálatas 1:15-16; 1 Coríntios 1:1).
SANTOS
Paulo estava
nesse momento já preso e envia uma carta aos santos que vivem em Éfeso. A
palavra “santos”, assim como em várias outras passagens bíblicas,
refere-se àqueles que foram santificados em Cristo Jesus (1 Coríntios 1:2). Ser santo significa ser separado, consagrado para Deus. Todo
aquele que pertence a Cristo é separado do mundo (João 15:19).
Não por acaso, a
Bíblia nos ensina que em Cristo somos novas criaturas (2 Coríntios 5:17), chamados a nos revestir do novo homem (Efésios 4:24), cobrindo nossa antiga nudez com a justiça de Deus. Além
disso, somos instruídos a buscar a santificação constantemente (Hebreus 12:14), ou seja, a nos aperfeiçoar na justiça e no caminho que Deus
nos mostra, para que nos tornemos cada vez mais semelhantes a seu Filho Jesus
Cristo (Romanos 8:29).
Logo, ser
santo é todo aquele temente a Deus, todo aquele que foi salvo mediante a fé em
Jesus Cristo (Efésios 2:8). Não se trata apenas daqueles que foram canonizados pela
Igreja Católica, mas sim de todo aquele que está separado por Deus e para Deus.
Todos os que foram predestinados para a salvação (Efésios 1:4-5) são santos, chamados e escolhidos por Ele, separados para
viver em comunhão com o Senhor.
3 ¶ Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção
espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
BENDITO
O termo “bendito”
é usado exclusivamente para Deus no Novo Testamento (Romanos 1:25; 2 Coríntios 1:3; 1 Pedro 1:3), para destacar que Ele é a fonte de todas as bênçãos e
digno de ser adorado. Trata-se de um louvor, um reconhecimento de que somente
Ele é a origem de toda dádiva.
Contudo, isso
não significa que apenas o Pai recebe adoração. Deus é trino: Pai, Filho e
Espírito Santo, compartilhando a mesma natureza divina. Assim:
- O
Pai é o autor do plano eterno de eleição e bênção (Efésios 1:4-5).
- O
Filho executa a redenção por meio de sua morte e ressurreição (Efésios 1:7).
- O
Espírito Santo aplica essas bênçãos aos crentes, sendo o selo da
promessa (Efésios
1:13-14).
Em termos de
adoração, o Pai, o Filho e o Espírito recebem a mesma glória, pois
compartilham a mesma essência divina (João 10:30; João 5:23). No céu, a
visão é clara: o mesmo louvor é dirigido tanto ao Pai quanto ao Cordeiro:
“Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro seja o louvor, e a honra, e
a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5:13).
Logo, reconhecer
Deus como bendito é render-Lhe louvor com entendimento. Ao adorarmos o Pai, o
Filho e o Espírito, adoramos o único Deus verdadeiro, que nos abençoou em
Cristo com toda sorte de bênçãos espirituais.
BENÇÃO
ESPIRITUAL
Quando Paulo
fala em “bênção espiritual”, ele não está se referindo a prosperidade, saúde ou
bens terrenos, perceba que ele também fala “nas regiões celestiais”, ou seja,
está relacionada às realidades concedidas pelo Espírito Santo, que são eternas
e ligadas à nossa comunhão com Deus.
Nos versículos
seguintes de Efésios 1, ele descreve algumas dessas bênçãos:
- Eleição
e predestinação: fomos escolhidos em Cristo antes da
fundação do mundo (Efésios
1:4-5).
- Redenção
e perdão: recebemos a salvação por meio do sangue
de Cristo (Efésios
1:7).
- Revelação
da vontade de Deus: conhecemos o mistério do Seu plano
divino (Efésios
1:9).
- Herança
eterna: temos direito à herança em Cristo (Efésios 1:11).
- O
Espírito Santo como selo: garantia de que
pertencemos a Deus e de que nossa salvação está segura (Efésios 1:13-14).
Paulo ensina que
“bênção espiritual” são todos os benefícios que Deus concede em Cristo, pelo
Espírito Santo, e que dizem respeito à nossa salvação, santificação e herança
eterna, muito além de bênçãos materiais. Para receber essas bênçãos, é
necessário estar unido a Cristo, pois elas só são possíveis nele. Fora
dEle não há salvação nem vida espiritual (João 14:6; Atos 4:12). Estar “em Cristo” significa estar ligado a Ele pela fé,
participando de Sua vida, morte e ressurreição (Romanos
6:3-5).
Assim, Paulo
mostra que o cristão não depende de circunstâncias terrenas para se considerar
abençoado, porque em Cristo já possui tudo o que é essencial para a vida
espiritual e para a eternidade (2 Pedro 1:3). Além disso, essas bênçãos não podem ser corrompidas pelo
tempo, pelas circunstâncias ou pelo mundo, pois são preservadas por Deus como
herança incorruptível (1 Pedro 1:3-4).
4 assim como nos escolheu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
Essa é a
primeira bênção espiritual que Paulo menciona: a eleição. Fomos escolhidos em
Cristo antes da fundação do mundo, de modo que ninguém possa dizer que essa
escolha se baseou em algo que faríamos ou deixaríamos de fazer (Romanos
9:11-12).
O propósito da
eleição é que sejamos santos e irrepreensíveis. Isso significa que fomos
escolhidos para viver em santidade, e não para usar a predestinação como
desculpa para a negligência espiritual ou para alegar que, por já termos sido
escolhidos, não precisamos nos preocupar com a vida cristã (1
Pedro 1:15-16). A verdadeira segurança da
eleição está no fruto da santidade.
Não somos
perfeitos, mas, em meio a um mundo caído, somos chamados a ser diferentes,
retos e obedientes a Deus (Filipenses 2:15; Colossenses 1:22). Ele nos escolheu para sermos santos, e é esse testemunho que
confirma em nós a certeza da predestinação (2 Pedro 1:10).
5 nos predestinou para ele, para a adoção de
filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
A segunda bênção
espiritual que Paulo apresenta é a predestinação. Muitos podem pensar
que há injustiça em Deus ao escolher alguns e não outros, mas a Escritura nos
mostra que a eleição e a predestinação são atos de misericórdia, e não de
injustiça. Afinal, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Romanos
3:23), e, portanto, todos merecem a condenação. Porém, Deus, em Seu
amor, escolheu para Si um povo para ser santo e irrepreensível (Romanos
9:14-16).
A eleição (Efésios
1:4) é o ato de escolher, e a predestinação é a garantia de que
aqueles escolhidos alcançarão o chamado de Deus. É um ato de amor, não de
arbitrariedade. Ele poderia condenar toda a humanidade, mas, em vez disso,
decidiu salvar, por graça, um povo exclusivo para Si (1
Pedro 2:9).
Paulo também
destaca que fomos predestinados para a adoção de filhos. Ninguém nasce
filho de Deus; pelo contrário, nascemos como filhos da desobediência e filhos
da ira (Efésios 2:2-3). Mas, por meio
de Jesus Cristo, recebemos o privilégio da adoção e podemos ser chamados filhos
de Deus (João 1:12-13; Gálatas 4:4-5; Romanos 8:15-17).
Tudo isso
acontece “segundo o beneplácito de Sua vontade”, isto é, porque Deus quis. Ele
é soberano e plenamente livre em Suas decisões (Daniel
4:35; Salmos 115:3). Contudo, não devemos ter
receio disso, pois a natureza de Deus é santa, justa e misericordiosa (Salmos
145:17; Tiago 1:17). Ele jamais agirá por tirania
ou injustiça, mas sempre de acordo com o Seu caráter perfeito e amoroso.
6 para louvor da glória de sua graça, que ele
nos concedeu gratuitamente no Amado, 7
no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça,
Paulo continua
mostrando as bênçãos espirituais em Cristo e destaca agora a graça. Essa
graça é gratuita, abundante e imerecida (Romanos 3:24; Tito 3:5-7). Tudo o que Deus fez, desde a eleição até a redenção, tem um
propósito: “para louvor da glória de Sua graça”. Isso significa que a
salvação não tem como objetivo central exaltar o homem, mas glorificar a Deus.
A graça recebida nos leva a engrandecer a Deus, reconhecendo que tudo vem
d’Ele, é realizado por Ele e existe para Ele (Romanos 11:36; 1
Coríntios 1:29-31).
Aqui, Paulo
“muda a câmera” da contemplação do Pai para o Filho. Ele O chama de o Amado,
pois Jesus ocupa um lugar especial no coração do Pai (Mateus
3:17; João 17:24). É por meio d’Ele que o plano
divino é executado.
Porém, havia um
problema: embora escolhidos e predestinados, ainda estávamos em pecado. Como
poderíamos ser recebidos como filhos de Deus? A resposta está em Cristo: nele
temos a redenção. A redenção significa libertação mediante pagamento de
preço, e esse preço foi o sangue de Jesus (1 Pedro 1:18-19;
Hebreus 9:12,22).
Através de Seu
sangue, experimentamos a remissão dos pecados, isto é, o perdão
completo, o cancelamento da dívida que nos separava de Deus (Colossenses
2:13-14). Esse perdão só é possível porque Aquele
que é 100% Deus se fez 100% homem (João 1:14; Filipenses 2:6-8), derramando Seu sangue na cruz para nos purificar (1 João
1:7).
Tudo isso é
resultado da imensurável riqueza da graça de Deus, que age de forma abundante,
misericordiosa e gratuita sobre nós (Efésios 2:7-9). Assim, não há espaço para vanglória humana, mas apenas para
reconhecer e proclamar o louvor da glória da Sua graça.
8 que Deus derramou abundantemente sobre nós em
toda a sabedoria e prudência, 9
desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que
propusera em Cristo,
De fato, o
apóstolo Paulo deixa claro que o “mistério” outrora oculto foi plenamente
revelado em Cristo. Ele escreve que Deus “nos desvendou o mistério da
sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (Ef 1:9). Esse mistério consiste em “fazer convergir
nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu
como as da terra” (Ef 1:10).
Em outras
palavras, tudo o que estava encoberto nas antigas alianças, nas profecias e nas
sombras da Lei, agora foi revelado em Cristo. O plano eterno de Deus era reunir
todas as coisas sob o governo e a autoridade de Seu Filho. Assim, não há mais
um mistério oculto a ser revelado: Cristo é a plena revelação de Deus aos
homens.
Paulo reforça
essa verdade em outras cartas: “o mistério que esteve
oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus
santos, aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste
mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl
1:26-27).
Desse modo, o
mistério da vontade de Deus foi revelado não apenas como um conhecimento
intelectual, mas como uma realidade espiritual que une judeus e gentios em um
só corpo (Ef 3:6), mostrando que
todas as promessas e propósitos divinos convergem em Cristo (2Co
1:20).
10 de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;
O versículo 10
mostra o propósito supremo do plano divino: fazer convergir em Cristo todas as
coisas, tanto as do céu como as da terra. Isso significa que toda a criação, espiritual
e material, será reunida e harmonizada sob o governo de Cristo, que é o centro
e o alvo de toda a obra de Deus.
Paulo chama esse
tempo de “a dispensação da plenitude dos tempos”, ou seja, o momento
determinado por Deus em que Seu plano de redenção se cumpre plenamente em
Cristo (Gl 4:4). Tudo o que foi fragmentado pelo pecado será restaurado, e
Cristo reinará sobre todas as coisas (Fp 2:9-11).
O objetivo final
de tudo isso é “para louvor da sua glória” (Ef 1:12). Toda a criação existe para
refletir a majestade e a perfeição de Deus. O homem, como parte da criação,
encontra seu verdadeiro sentido e propósito quando vive para glorificar o
Criador. Assim, o fim último da história não é o homem, mas Deus, que será
exaltado em tudo o que criou e redimiu por meio de Cristo.
11 nele, digo, no qual fomos também feitos
herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
conforme o conselho da sua vontade,
Deus predestinou
todas as coisas de acordo com a sua própria vontade. Ou seja, se a pergunta
for: “Por que é assim?” ou “Por que tem que ser assim?”, a resposta é: por
causa da vontade de Deus. Ele é o único ser verdadeiramente livre; toma as
decisões conforme o que lhe apraz, de acordo com o que Ele considera bom ou
não. Ninguém é capaz de aconselhá-lo, pois Ele está acima de tudo e de todos (Romanos 11:34; Isaías 40:13).
Somos predestinados
segundo o conselho da Sua vontade. Quando Deus realiza algo, Ele não consulta
anjos, nem homens, consulta apenas a Sua própria vontade. E isso não torna Deus
tirano ou injusto; pelo contrário: Sua natureza é boa, santa e justa; logo, Sua
vontade também é boa, santa, justa, verdadeira e repleta de amor e misericórdia
(Salmos 145:17; Deuteronômio 32:4).
Resumindo todo o
plano da salvação de forma simples e didática, poderíamos imaginar algo assim:
Deus dizendo ao Filho — “Quero um povo para o meu nome, para louvor e glória,
santo e irrepreensível.”
Mas esse povo é pecador. Então Jesus responde: “Eu irei resgatar esse povo para
Ti com o meu sangue.”
E o Pai, por sua vez, declara: “Em troca, Eu te darei esse povo como herança.”
(João 6:37-39; João 17:6, 9, 24; Tito 2:14).
Assim, somos
a herança de Jesus Cristo. Mesmo que, humanamente, não “valêssemos nada”,
Deus não pensou assim. Ele nos escolheu e nos fez herança para o Seu Filho
(Efésios 1:18; Colossenses 1:12).
O salário, ou a
recompensa, pelo Calvário que Cristo passou, a recompensa pela Sua
morte, e morte de cruz, a recompensa pela Sua humilhação e sofrimento,
é: eu e você.
Isso mesmo, a recompensa por tudo o que Ele fez é eu e você (Filipenses 2:8-9; Isaías 53:11; Hebreus 12:2).
Por isso, nos
cabe ainda mais viver de modo digno dessa chamada, apresentando-nos a Ele
santos e irrepreensíveis no dia em que Deus colocará todas as coisas
debaixo do domínio de Seu Filho Jesus (Efésios 1:10, 22; Colossenses 1:22).
12 a fim de sermos para louvor da sua glória,
nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13
em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o
Santo Espírito da promessa;
Tudo isso é para
sermos o louvor da sua glória.
Os que de antemão esperavam em Cristo eram, como Paulo, os judeus,
que aguardavam o Messias prometido nas Escrituras. Eles esperavam o cumprimento
das promessas de Deus, e agora, em Cristo, essa promessa se cumpre não apenas
para eles, mas também para os gentios, que igualmente ouviram a palavra
da verdade, isto é, o evangelho da salvação, e, crendo, foram selados
com o Espírito Santo da promessa (Romanos 1:16; Gálatas 3:14; Atos 10:45).
Aqui o apóstolo
começa a destacar a atuação da terceira pessoa da Trindade: o Espírito Santo.
Mas como é possível que, mesmo dois mil anos após o sacrifício de Cristo,
ainda sejamos tocados e salvos pela graça de Deus? A resposta é simples: Graças
ao agir do Espírito Santo por meio da pregação do evangelho (Romanos 10:14-17).
Deus não apenas
escolheu e predestinou, Ele também determinou os meios pelos quais os
eleitos seriam alcançados. O Espírito Santo atua mediante a pregação da
Palavra, chamando o povo de Deus, regenerando os corações e selando-os
com a promessa divina (João 16:8-13; Tito 3:5).
O Espírito é
chamado de “Espírito da promessa” porque já havia sido prometido no
Antigo Testamento, conforme as palavras dos profetas Isaías, Ezequiel e
Joel:
“Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus
estatutos” (Ezequiel
36:27);
“O Espírito do Senhor repousará sobre Ele” (Isaías 11:2);
“Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Joel 2:28).
O Espírito
Santo sela o nosso coração. É como se, após crermos em Cristo, essa fé
fosse impressa dentro de nós de forma definitiva, um selo que não pode ser
rompido. Esse selo é a marca que confirma a nossa pertença a Deus (2 Coríntios 1:22; Efésios 4:30).
Há um texto que
diz: “Se possível fora,
enganariam até os escolhidos” (Mateus 24:24). Isso mostra que o selo do Espírito Santo impede que os
verdadeiros filhos de Deus sejam enganados. O crente genuíno pode até ser
confundido por um momento, mas o Espírito que nele habita o conduz à verdade.
Ele desconfia, examina as Escrituras e permanece firme na verdade (João 16:13; 1 João 2:27).
Diante disso, como
continuar acreditando que podemos perder a salvação?
Paulo afirma que
fomos escolhidos, predestinados e selados, tudo pela soberania e poder
de Deus, e tudo segundo a Sua vontade (Efésios 1:4-5; Romanos 8:29-30).
Se a salvação não
depende de mérito humano, mas é obra completa de Deus, como poderia
ser perdida?
Como o próprio
apóstolo declara:
“Porque estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem
principados, nem poderes, nem coisas do presente, nem do porvir, nem altura,
nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38-39).
Nada pode nos
separar do amor de Deus, porque aquele que começou boa obra em nós há de
completá-la até o dia de Cristo Jesus (Filipenses 1:6).
14 o qual é o penhor da nossa herança, ao
resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.
O apóstolo Paulo
nos ensina que o Espírito Santo é o penhor da nossa herança. A palavra
“penhor” significa garantia.
Por exemplo:
quando alguém está sem dinheiro, mas possui um bem valioso, como um relógio,
pode penhorá-lo como garantia de que cumprirá o compromisso assumido. Assim
também, o Espírito Santo é a garantia de Deus de que Ele cumprirá tudo o
que prometeu aos seus filhos (2 Coríntios 1:22; 2 Coríntios
5:5).
O Espírito Santo
é o sinal visível e presente de que Deus já iniciou a obra da salvação em nós e
de que a levará até o fim (Filipenses 1:6; Romanos 8:30). Enquanto vivemos neste mundo, já podemos experimentar a
presença do Espírito Santo quando sentimos a comunhão entre os santos, a
santidade, a alegria e o amor que vêm de Deus (Romanos
14:17; Gálatas 5:22-23). Mas tudo isso é apenas o
penhor, uma amostra do que ainda virá. O melhor ainda está por vir, quando
Cristo vier nos resgatar completamente e consumar a nossa redenção (Romanos
8:23; 1 Tessalonicenses 4:16-17; Apocalipse 21:3-4).
Concluindo, não
pense que doutrinas como eleição, predestinação e perseverança dos santos são
invenções humanas ou ideias modernas. Como vimos ao longo deste estudo, elas
são doutrinas bíblicas, reveladas nas próprias Escrituras (Efésios
1:4-5,11; Romanos 8:29-30; João 6:37-39).
É verdade que
muitos reconhecem que esses ensinos estão na Bíblia, mas admitem não
compreendê-los plenamente, e isso é normal. A salvação não depende de
compreender todos os mistérios da eleição, mas sim de crer de coração em Jesus
Cristo como Senhor e Salvador (Romanos 10:9-10).
Nosso papel é
orar e buscar entendimento em Deus, para que possamos defender a verdade contra
aqueles que colocam o homem como o centro da salvação, como se tudo dependesse
da vontade humana, quando, na realidade, tudo depende do Deus soberano (João
1:12-13; Romanos 9:15-16).
E longe de ser
uma doutrina desanimadora, essa é uma mensagem de esperança e confiança. Quando
missionários deixam suas casas e viajam para os lugares mais remotos, como o
interior da selva amazônica, fazem isso com a convicção de que há ali um povo
eleito, predestinado por Deus, que será alcançado pelo meio estabelecido por
Ele: a pregação do evangelho (Marcos 16:15; Romanos 10:14-15).
Aqueles que
crerem nesse evangelho serão selados pelo Espírito Santo da promessa, que é a
garantia da sua salvação, até o dia em que o Senhor Jesus vier em glória para
buscar todos aqueles que o Pai lhe deu (João 17:6, 9, 24;
Efésios 4:30).
Tudo isso
acontece para o louvor da Sua glória, pois a salvação, do início ao fim,
pertence unicamente a Deus (Jonas 2:9; Apocalipse 7:10).
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