segunda-feira, 30 de junho de 2025

Criados à imagem e semelhança de Deus: o que isso realmente quer dizer?

SE DEUS É ESPÍRITO, COMO PODEMOS SER IMAGEM E SEMELHANÇA DELE?

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... Criou Deus, pois, o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”(Gênesis 1:26-27, ARA)

Esse texto afirma que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Mas se Deus é espírito, invisível e imaterial, o que significa essa semelhança? Teria o homem uma aparência espiritual visível? Deus teria uma forma? A Bíblia responde a essas perguntas de maneira progressiva e reveladora.

1. A natureza de Deus: “Deus é espírito”

A Bíblia declara claramente que Deus é espírito: imaterial, eterno, invisível e não limitado por corpo ou forma física.

Versículos-chave:

  • João 4:24 : “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”
  • 1 Timóteo 1:17 : “Ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos.”
  • 1 Timóteo 6:16 : “...o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem nenhum jamais viu, nem é capaz de ver.”
  • Colossenses 1:15 : “[Cristo] é a imagem do Deus invisível...”

Portanto, a imagem de Deus no homem não se refere a forma física ou aparência externa, mas a algo mais profundo e essencial.

2. O que significa ser “imagem e semelhança” de Deus?

Ser igual a Deus em imagem e semelhança não quer dizer aparência física, pois Deus é espírito (João 4:24), mas significa que o homem foi criado com emoções, sentimentos, vontade, inteligência, capacidade de se relacionar e exercer domínio. Amor, afeto, satisfação, alegria: tudo isso o homem recebeu de Deus. E, além disso, o texto mostra que o homem teria domínio sobre todas as criaturas.

Logo a expressão "imagem e semelhança" aponta para atributos espirituais, morais, relacionais e funcionais que Deus compartilhou com o ser humano: não para uma forma corpórea.

Pense em uma estátua de um rei (imagem) e em alguém que vive como o rei vive (semelhança). Uma representa, a outra imita. O ser humano foi feito para representar Deus na criação e também para agir como Ele, como mordomo, governando com sabedoria e amor.

A imagem de Deus no homem envolve:

  • Racionalidade e moralidade: capacidade de pensar, julgar, tomar decisões, discernir o bem e o mal.
  • Afetividade e emoções santas: amor, alegria, compaixão, indignação justa.
  • Relacionamento: comunhão com Deus e com o próximo.
  • Criatividade e administração: reflexo do Criador na criação e cuidado da Terra.
  • Governo: autoridade e domínio sobre a criação (Gênesis 1:28; Salmo 8:4-6).
  • Livre-arbítrio e responsabilidade moral.

Ou seja, ser imagem de Deus é refletir Sua natureza invisível e gloriosa por meio de quem somos e de como vivemos. O ser humano é representante de Deus na criação.

3. O corpo humano: veículo da imagem espiritual de Deus

Embora a imagem de Deus no homem seja espiritual, o corpo humano foi intencionalmente criado como veículo ou instrumento visível para refletir essa imagem invisível.

O corpo serve como suporte físico para manifestar externamente atributos espirituais: mãos que trabalham, olhos que observam, boca que fala a verdade e o amor.

A postura ereta e a complexidade do corpo humano possibilitam relacionamento, domínio e expressão da imagem de Deus na criação.

Entretanto, o corpo é mortal, limitado e corruptível, diferente da essência espiritual da imagem divina.

A plena manifestação da imagem de Deus ocorrerá na eternidade, quando nossos corpos serão glorificados e incorruptíveis, semelhantes ao corpo glorificado de Cristo (Filipenses 3:21; 1 João 3:2).

“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.” (1 João 3:2 RA)

Assim, o corpo não é literalmente a imagem de Deus, mas o instrumento pelo qual a imagem espiritual é expressa no mundo material.

4. Passagens que sugerem forma física: antropomorfismos

A Bíblia fala da “mão de Deus”, “olhos”, “ouvidos”, “face”, e até menciona Deus andando (Gênesis 3:8). Essas expressões são figuras de linguagem chamadas antropomorfismos: formas humanas de descrever as ações e presença de Deus.

“Deus fala conosco de forma humana para que O entendamos com mente humana.”

Exemplos:

  • Gênesis 3:8 : “...ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim...”
  • Êxodo 33:20 : “...homem nenhum verá a minha face e viverá.”
  • Salmo 34:15 : “Os olhos do Senhor repousam sobre os justos...”

Essas expressões comunicam relacionamento, presença e ação, não uma forma literal de Deus.

5. Jesus Cristo: a imagem perfeita e visível do Deus invisível, distinta da imagem criada no homem

É importante entender que, ao criar o homem e a mulher, Deus os fez à sua imagem e semelhança de forma limitada e derivada. Ou seja, eles refletem certos aspectos de Deus, mas continuam sendo criaturas, distintas em essência do Criador.

Em contraste, Jesus Cristo não é uma criatura, mas o Filho eterno de Deus: a imagem perfeita e plena do Deus invisível. Ele possui a mesma natureza divina do Pai e nunca foi criado.

Jesus é descrito como “a imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15) e “Deus manifestado em carne”:

“Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.” (1 Timóteo 3:16 RA)

Ele é Deus eterno, coigual e coeterno com o Pai, e não apenas feito à imagem e semelhança.

Além disso, Jesus assumiu uma forma humana real e visível, tornando-se a perfeita expressão visível e substancial de quem Deus é. Em Cristo, Deus se revelou plenamente em corpo e forma compreensível.

  • “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós...” (João 1:14)
  • “Quem me vê a mim vê o Pai.” (João 14:9)

Após a ressurreição, Jesus assumiu um corpo glorificado, espiritual, visível e eterno, que permanece até hoje nos céus:

  • João 20:27 : Ele mostra suas mãos furadas a Tomé.
  • Lucas 24:39 : “Um espírito não tem carne nem ossos como vedes que eu tenho.”
  • Atos 1:11 : Ele subiu ao céu com esse corpo e voltará da mesma forma.
  • Apocalipse 1:14-16 : “Os seus olhos eram como chama de fogo, seus pés como bronze polido, e seu rosto brilhava como o sol...”
  • Apocalipse 19:11-16 : “Montado em um cavalo branco, com muitos diademas...”

Isso mostra que Jesus é a forma visível, perfeita e eterna da imagem de Deus, enquanto a imagem no homem criado é uma participação reflexa e limitada.

6. Na dimensão espiritual, os espíritos se veem

Mesmo sendo incorpóreos, os espíritos percebem, se reconhecem e se comunicam entre si:

  • Mateus 18:10 : Anjos veem o Pai nos céus.
  • 2 Reis 6:17 : Eliseu e seu servo veem carros e cavalos de fogo.
  • Mateus 17:3 : Moisés e Elias aparecem com Jesus.

Espíritos têm consciência, visão e identidade na dimensão espiritual. Eles mantêm individualidade e comunicação.

7. E os santos? Seremos semelhantes a Ele!

A Bíblia afirma que os salvos receberão corpos glorificados semelhantes ao de Cristo:

  • “Transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo da sua glória...” (Filipenses 3:21)
  • “Semeia-se corpo natural, ressuscita-se corpo espiritual...” (1 Coríntios 15:44)
  • “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele...” (1 João 3:2)

A imagem de Deus no homem será plenamente restaurada e glorificada, de modo que veremos a Deus em Cristo e seremos como Ele.

Conclusão

  • Deus é espírito, invisível e eterno.
  • A imagem de Deus no homem é espiritual, racional, moral e relacional.
  • O corpo humano foi criado como instrumento para manifestar essa imagem no mundo físico, servindo de veículo para expressar a essência divina invisível.
  • Jesus Cristo é a imagem perfeita, substancial e eterna de Deus, distinto do homem criado à Sua imagem.
  • Cristo permanece glorificado nos céus e é o padrão e fonte da imagem divina.
  • Na eternidade, seremos como Cristo, com corpos incorruptíveis e espirituais, a imagem gloriosa e eterna de Deus.

“E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.” (Efésios 4:24)

“Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; satisfar-me-ei da tua semelhança quando acordar.” (Salmo 17:15)

Na cultura hebraica, ver a face de Deus é símbolo de intimidade, aprovação e presença divina. Não se trata de ver fisicamente, mas de experimentar comunhão plena com Ele.

Hoje somos imagem de Deus em nossa essência, ainda que de forma limitada. Mas um dia, pela graça, essa imagem será plena, visível e gloriosa: como Cristo é.

 

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