“Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos” (Atos 16:25-26 RA).
Aquele local
insalubre e terrível, com mau cheiro, somado às dores das feridas causadas
pelas chibatadas, não foi suficiente para manter Paulo e Silas com pensamentos
e atitudes vitimistas. Mesmo naquela situação desesperadora, eles louvaram a
Deus e deram graças a Ele, ainda que em meio às circunstâncias ruins (1
Tessalonicenses 5:18). Nada foi capaz de calar suas
vozes nem de abalar a fé que tinham; pelo contrário, encontraram forças para
orar e cantar hinos ao Senhor (Filipenses 4:6-7).
Isso nos leva à
reflexão central deste estudo: em que estamos nos alegrando?
Será que nossa
alegria está apenas em nossas finanças estarem bem? Será que só nos sentimos
motivados quando nossa saúde vai bem? Onde buscamos nossa alegria? Em um
esporte, torcendo por alguém ou por um time do coração? Ficamos alegres somente
quando compramos algo novo, como um celular, um carro, uma casa ou até mesmo
roupas novas? (E poderíamos acrescentar: uma viagem, uma promoção no trabalho,
ou o reconhecimento das pessoas.)
Mas, afinal,
onde está a nossa verdadeira fonte de alegria?
O fato é que,
quando nossa alegria está baseada nessas coisas passageiras, facilmente a
perderemos quando alguma delas nos faltar. A alegria do carro novo se esvai com
o tempo, o celular logo fica ultrapassado, a saúde pode falhar, as finanças
podem entrar em crise. Qualquer bem ou circunstância pode mudar de um dia para
o outro. Por isso, não podemos fundamentar nossa alegria em coisas que se
desgastam e desaparecem.
A Bíblia não
condena nos alegrarmos por essas bênçãos, mas o problema começa quando
dependemos delas para nos manter motivados e felizes. Hoje podemos tê-las, mas
amanhã podem nos faltar. Se nossa alegria estiver baseada somente nelas,
estaremos vulneráveis à tristeza, à frustração e até ao desânimo espiritual.
A Palavra de
Deus, porém, nos aponta para uma alegria diferente: aquela que está firmada em
nosso bem mais precioso, a salvação em Jesus Cristo (João
16:22; Habacuque 3:17-18).
Quando nossa
alegria está em Cristo, estamos preparados para enfrentar os desafios da vida e
até mesmo a escassez. Isso não significa “atrair coisas ruins” para nós, como
alguns pensam. Jesus mesmo nos alertou:
“No mundo, passais por
aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).
A vida cristã
não é isenta de lutas, mas é sustentada pela certeza da vitória em Cristo.
Estar consciente
de que dificuldades podem surgir não é pessimismo, mas fortalecimento na fé.
Assim, quando as tribulações chegarem, não nos vitimizaremos, nem colocaremos a
culpa em outros ou em Deus. Pelo contrário, faremos como Paulo e Silas: mesmo
em meio à dor e à injustiça, escolheremos louvar ao Senhor.
E foi justamente
essa atitude de fé e confiança que fez Deus se manifestar. Ele não apenas
libertou Paulo e Silas daquele lugar terrível, mas também alcançou, com sua
graça, toda a casa do carcereiro que os vigiava (Atos
16:30-34).
Que possamos
aprender com esse exemplo e firmar nossa alegria não em coisas que passam, mas
no Senhor que permanece para sempre (Salmos 16:11):
Alegrai-vos
sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos.” (Filipenses 4:4 RA)
A passagem acima
não é apenas uma sugestão ou recomendação, mas faz parte da doutrina da igreja
primitiva: é um mandamento, uma ordem. Paulo transmite essa instrução não
apenas como teoria ou reflexo dos ensinos de Jesus, mas como alguém que
realmente vivia essa verdade. Ele sabia o que era passar por fartura e também
por necessidade (Filipenses
4:11-12). Mais do que isso, Paulo escreve essas
palavras diretamente da prisão, e vimos no primeiro verso deste estudo que,
mesmo encarcerado, com o corpo ferido pelas agressões que sofreu dos soldados,
ele não se colocou na posição de vítima, mas escolheu louvar e adorar a Deus (Atos 16:25).
Assim,
entendemos que a alegria cristã não depende das circunstâncias nem do que
acontece no dia a dia. A felicidade do crente tem um alvo e a alegria deve ter
um foco: Jesus Cristo. É nEle que devemos nos alegrar.
O Deus da
restituição
Muitas vezes nos
damos desculpas, pensando: “Eu até já fui feliz, alegre, de bem com a vida,
mas tudo isso me foi roubado. O inimigo tirou tudo o que eu tinha de bom e o
que me restou foi apenas sofrimento, dor, perda, desânimo e infelicidade.”
Mas para quem
pensa assim, a Bíblia nos apresenta histórias que renovam nossa esperança. Em 1
Samuel 30, Davi e seus homens enfrentaram um grande
roubo e perda em Ziclague: suas casas foram saqueadas, seus bens levados, e até
suas mulheres e filhos foram capturados. No entanto, Davi não ficou paralisado,
remoendo a tragédia. Ele buscou ao Senhor e perguntou se deveria perseguir os
inimigos, e Deus lhe respondeu que sim, garantindo a vitória e a restituição. O
relato bíblico nos mostra o resultado:
“Assim Davi salvou tudo quanto
haviam tomado os amalequitas; também as suas duas mulheres salvou” (1 Samuel
30:18 RA).
Deus é o mesmo
hoje, e Ele pode restaurar aquilo que foi roubado, inclusive a sua alegria.
Nosso Deus é o Deus da restituição, e a própria Escritura confirma isso:
- “Restituir-vos-ei os anos consumidos...”
(Joel 2:25-26 RA).
- “Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este
orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes
possuíra” (Jó 42:10 RA).
- “Em lugar da vossa vergonha tereis dupla
honra...” (Isaías 61:7 RA).
Assim como Davi
recuperou sua alegria pela mão de Deus, Ele também pode devolver a sua. E mais:
perceba que o Senhor nunca restitui apenas como era antes, mas devolve com
abundância, com acréscimos, muito mais do que se tinha anteriormente.
Ladrões da
alegria
Na mesma carta
em que recebemos o mandamento de nos alegrarmos no Senhor, também encontramos
várias advertências sobre aquilo que pode roubar a nossa alegria. Conhecendo
esses perigos, podemos nos proteger e estar preparados para enfrentar os
ladrões da alegria:
1º Ladrão: as
circunstâncias
(Filipenses 1:12)
- Quando a alegria está presa às situações,
ela é instável.
- Mas Paulo mostra que até na prisão Deus
trabalhava a favor dele e não contra (Romanos 8:28).
2º Ladrão: as
pessoas
(Filipenses 2:3-5)
- Muitas vezes sofremos mais por causa das
pessoas do que por circunstâncias.
- A chave é aprender a perdoar e
imitar a humildade de Cristo.
3º Ladrão: a
preocupação com dinheiro
(Filipenses 3:19)
- O apego às coisas materiais rouba a
alegria.
- Quando o coração está voltado apenas para
as coisas terrenas, a ansiedade e a frustração dominam.
4º Ladrão: a
ansiedade
(Filipenses 4:6-7)
- Paulo nos ensina a apresentar tudo a Deus
em oração e súplica com ações de graças.
- A ansiedade é, no fundo, incredulidade:
deixamos de confiar no Senhor e nos voltamos ao medo.
- A cura para a ansiedade é a adoração,
pois quando adoramos, reconhecemos quem está no controle.
Conclusão
A verdadeira
alegria não está nas circunstâncias, nem nas pessoas, nem no dinheiro, nem no
controle da vida. A verdadeira alegria é Cristo. Se Ele é nossa fonte, nenhum
ladrão poderá roubá-la, porque Jesus prometeu:
“...a vossa alegria ninguém poderá tirar” (João 16:22).
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