terça-feira, 30 de setembro de 2025

A ORIGEM DE TUDO - A CRIAÇÃO DO HOMEM

4 ¶ Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou.  5  Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o SENHOR Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo.  6  Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.  7  Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.

Aqui podemos entrar em uma discussão polêmica: quanto tempo levou para Deus criar tudo? Será que foi realmente um período de 7 dias literais? Será que foram eras? Ou ainda períodos de mil anos cada dia?

No meio teológico, há diferentes correntes de pensamento:

  • Alguns acreditam que o período foi simbólico, e que Moisés apenas organizou a narrativa em dias semanais para maior clareza ao povo.
  • Outros defendem que a criação ocorreu em eras longas, harmonizando o relato bíblico com descobertas científicas. Essa visão é chamada de Criacionismo Progressivo, ou “dia-era”, que entende cada “dia” como um longo período.

Como apoio, são frequentemente citados textos como:

  • “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pedro 3:8).
  • “Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi, e como a vigília da noite” (Salmos 90:4).

Essas passagens mostram que o tempo de Deus é diferente do nosso, abrindo espaço para interpretações mais extensas.

Por outro lado, os conservadores e a grande maioria, assim como o autor deste estudo, creem que a terra e tudo o que existe foram criados em 7 dias literais de 24 horas. Mas em que podemos basear essa crença?

1.    A ordem da criação: Em Gênesis 2:5 vemos que, quando Deus formou o homem, ainda não havia plantas do campo brotadas. Ora, a vegetação já havia sido criada no terceiro dia (Gênesis 1:11-13). Isso mostra que não se tratava de longos períodos, mas de dias literais, pois se fossem eras, as plantas já deveriam estar estabelecidas antes da criação do homem.

2.    O descanso de Deus: Após os seis dias, Deus descansou no sétimo dia, santificando-o como memorial para a humanidade (Gênesis 2:2-3; Êxodo 20:11). O próprio mandamento do sábado se fundamenta na criação em dias literais.

3.    A expressão “tarde e manhã”: Cada dia da criação é descrito com a frase “Houve tarde e manhã, o primeiro dia... o segundo dia...” (Gênesis 1:5,8,13...). Essa linguagem aponta claramente para períodos de 24 horas.

4.    Testemunho bíblico posterior: Jesus e os apóstolos tratavam o relato da criação como histórico e literal (Mateus 19:4-5; Marcos 10:6; Hebreus 4:4). A Igreja Primitiva também entendia assim (1 Coríntios 15:47-48; Rm 5:12-14).

Apesar de ser um assunto polêmico, devemos confiar no que a Bíblia ensina literalmente. Caso contrário, ao abrir espaço para interpretações simbólicas em Gênesis, abre-se precedente para duvidar de outros milagres igualmente sobrenaturais, como:

  • o sol parando no tempo de Josué (Josué 10:12-14),
  • Jonas sendo engolido por um grande peixe (Jonas 1:17),
  • o mar Vermelho se abrindo (Êxodo 14:21-22),
  • as muralhas de Jericó caindo (Josué 6:20),
  • Jesus andando sobre as águas (Mateus 14:25),
  • a multiplicação dos pães (Mateus 14:19-21),
  • ou mesmo a ressurreição de Cristo (Mateus 28:6).

Voltando ao texto, em Gênesis 2:7 lemos que Deus formou o homem do pó da terra e lhe soprou o fôlego de vida, e assim o homem passou a ser alma vivente. Isso mostra que a vida humana é resultado direto da ação criadora de Deus, diferente de qualquer outro ser (Jó 33:4). Esse sopro de vida não é apenas oxigênio, mas o espírito que vem do próprio Deus, e esse mesmo espírito permanece em nós e é complementado pelo Espírito Santo, que nos guarda nEle (Efésios 2:1-5; João 20:22).

Além disso, o texto mostra o cuidado de Deus com sua criação. Antes mesmo das plantas brotarem, Ele já providenciava sustento por meio da neblina que regava a terra (Gênesis 2:6; Mateus 6:30-32). Isso revela sua previdência, sempre preparando o necessário antes de colocar o homem no jardim. Também vemos que Deus deseja a cooperação do homem, pois confiou a ele o lavrar e guardar a terra (Gênesis 2:15), tornando-o participante da preservação da criação.

Note que não havia ainda “erva do campo” porque não havia homem para lavrar o solo (Gênesis 2:5). Ou seja, ainda não havia o cultivo humano para manipular esses alimentos. Erra quem pensa que podemos encontrar, na natureza virgem, de forma espontânea, os principais alimentos que consumimos hoje. Ninguém perdido em uma floresta encontrará bananas como as dos supermercados, ou um pé de milho, trigo, alface, mandioca, arroz ou feijão. Esses alimentos, da forma como os conhecemos, são resultado de processos de domesticação e cultivo ao longo do tempo, dentro do propósito dado por Deus ao homem.

Assim, entendemos que no Éden Deus proveu imediatamente árvores frutíferas agradáveis e boas para alimento (Gênesis 2:9), mas também estabeleceu o trabalho humano de cultivar e desenvolver a terra (Gênesis 2:15). O relato, portanto, ensina tanto a nossa dependência de Deus, que é o provedor de todas as coisas (Atos 17:25), quanto a responsabilidade de correspondermos ao propósito para o qual fomos criados: trabalhar, cuidar da criação e viver em comunhão com Ele (Gênesis 1:28; 2:15).

8 ¶ E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado.  9  Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal.

Por não haver ainda “erva do campo” nem planta cultivada sobre a terra, pois não havia homem para lavrar o solo (Gênesis 2:5), Deus estabeleceu um lugar exclusivo e especial: o jardim do Éden. Ali, de forma imediata, o Senhor PLANTOU e fez brotar do solo toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento, incluindo a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). Diferente da terra em geral, que aguardava o cultivo humano, o jardim foi um espaço de provisão sobrenatural e completa, já preparado por Deus para ser a habitação inicial do homem.

A árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal

A árvore da vida mencionada no Éden era um elemento real, plantada por Deus como as demais árvores do jardim, que davam frutos apetitosos (Gn 2:8-9). O mesmo vale para a árvore do conhecimento do bem e do mal: ambas eram árvores físicas, visíveis e ao alcance de Adão, mas carregavam também um significado espiritual profundo.

No decorrer da Bíblia, não encontramos mais referências explícitas à árvore do conhecimento do bem e do mal; ela ficou restrita ao Éden, como memória do que nos afastou de Deus. Já a árvore da vida é citada várias vezes ao longo das Escrituras, especialmente em Provérbios, onde aparece em linguagem figurada, sendo associada ao bom proceder, à sabedoria e aos frutos da justiça:

  • “Ela é árvore de vida para os que a alcançam” (Pv 3:18).
  • “O fruto do justo é árvore de vida” (Pv 11:30).
  • “A esperança adiada faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida” (Pv 13:12).
  • “A língua apaziguadora é árvore de vida” (Pv 15:4).

No final da Escritura, em Apocalipse, a árvore da vida volta a ser mencionada, agora no meio da Nova Jerusalém (Ap 22:2). O texto descreve que ela produz um fruto por mês e que suas folhas servem para a cura das nações. Também é dito que os salvos terão direito de comer de seus frutos (Ap 2:7; Ap 22:14).

Essa linguagem é altamente simbólica, apontando para a vida eterna em Cristo. Portanto, a ideia de procurar a árvore da vida como se estivesse escondida em algum lugar físico, como costumamos ver em filmes, é irreal. Não é a árvore em si que, de forma mágica, concede vida eterna ao homem. Nem mesmo no Éden era assim, pois Adão, embora comesse da árvore, ao desobedecer e se afastar de Deus, experimentou a morte espiritual.

O mesmo princípio vale hoje: longe de Deus, ainda estamos espiritualmente mortos. Mas é Jesus quem nos dá vida, pois Ele é a verdadeira árvore da vida, que concede vida em abundância (Jo 10:10).

Assim, na graça, a vida eterna já não está ligada à árvore da vida em si, mas a Cristo Jesus, aquele que é a fonte verdadeira e eterna da vida:

  • “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
  • “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7:38).

Em Apocalipse, vemos também o rio da água da vida, claro como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22:1). Assim como Jesus é a água viva (Jo 4:14), a árvore da vida representa o poder de Deus em conceder a vida eterna. Não é a árvore que tem esse poder, mas sim o próprio Deus, que em Cristo nos dá a vida plena e eterna.

10  E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços.  11  O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro.  12  O ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix.  13  O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe.  14  O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates. 

Não sabemos ao certo por que Moisés registrou essas informações com tantos detalhes, mas provavelmente o fez para mostrar que, no jardim do Éden, Deus supria tudo em abundância. Os rios que se dividiam do Éden reforçam essa ideia. Na Escritura, rios muitas vezes simbolizam a provisão, a bênção e a abundância de Deus (Salmos 46:4; Isaías 41:18; João 7:38).

Percebe-se também que, embora ainda conheçamos dois desses rios (o Tigre e o Eufrates), os outros dois (Pisom e Giom) não são identificáveis atualmente. Isso mostra que o homem não conseguiria encontrar o Éden, e mesmo que fosse possível, havia querubins colocados por Deus para guardar o caminho da árvore da vida, impedindo que Adão retornasse (Gênesis 3:24).

Esse trecho ainda destaca que no interior do jardim havia substâncias e pedras preciosas (Gênesis 2:12). Moisés parece querer mostrar que Deus, em sua sabedoria, não utilizou materiais nobres como o ouro para criar o homem, mas o pó da terra, fora do jardim (Gênesis 2:7). Isso traz algumas implicações importantes:

1.    Nossa origem humilde – Não somos cidadãos legítimos do Éden; nascemos fora dele e não temos sua “cidadania”, por assim dizer. Isso nos lembra de nossa condição de criaturas dependentes de Deus.

2.    Nosso valor está em Deus – O homem tem valor, mas não por ser feito de ouro ou pedras preciosas, e sim por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27). Por causa da redenção, nos tornamos a herança de Cristo, a recompensa pelo Seu sacrifício na cruz (Efésios 1:18; Isaías 53:11).

3.    Não somos deuses – Ao contrário do pensamento de antigas civilizações que retratavam o homem como um ser místico e quase divino, a Bíblia ensina que somos pó (Salmos 103:14), criaturas feitas humildemente do lado de fora do jardim. Isso nos leva a reconhecer que, embora criados à imagem de Deus, estamos sob a Sua autoridade e não somos iguais a Ele (Isaías 45:9; Romanos 9:20-21).

Assim, esse relato bíblico nos ensina tanto sobre a abundância de Deus em Sua criação, quanto sobre a verdadeira identidade e posição do homem diante do Criador: criaturas amadas, mas dependentes, chamadas à humildade e à obediência.

15  Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.

O trabalho foi instituído por Deus desde a criação. Não fomos criados para a ociosidade, mas para a responsabilidade e para o serviço. É importante notar que o trabalho não é consequência do pecado, nem parte da lei mosaica, mas sim uma atividade prazerosa e honrosa, dada por Deus ao homem antes da queda.

No Éden, a tarefa de Adão era cultivar e guardar o jardim. Isso mostra que o trabalho era, em sua origem, algo nobre: cuidar daquilo que pertence a Deus e administrar a criação como mordomo do Criador (Salmos 8:6-8). O “cultivar” envolvia desenvolver, manter e promover a vida no jardim, enquanto o “guardar” significava proteger, preservar e vigiar. Ou seja, Adão deveria exercer domínio responsável sobre as plantas, os animais e todo o ambiente, refletindo o caráter de Deus como Senhor da criação (Gênesis 1:28-29).

O trabalho, portanto, tinha como propósito glorificar a Deus e trazer realização ao homem. Ele foi criado para ser útil, ativo e participante da obra divina. Mais tarde, com a queda, o trabalho continuou sendo parte da vida humana, mas tornou-se árduo, acompanhado de fadiga e suor (Gênesis 3:17-19). Mesmo assim, em Cristo, o trabalho recupera seu sentido original: servir ao Senhor em tudo o que fazemos (Colossenses 3:23).

Assim, vemos que o trabalho é um dom de Deus, parte do plano perfeito da criação, uma forma de expressar a imagem e semelhança dEle em nós por meio do cuidado, da responsabilidade e da frutificação.

16 ¶ E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente,  17  mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

Neste trecho, Deus estabelece o primeiro mandamento direto ao homem. O jardim do Éden era um lugar de abundância, generosidade e provisão divina. Deus havia concedido a Adão liberdade plena para comer de toda árvore do jardim, mostrando Seu cuidado e generosidade (Gênesis 2:9; Salmos 104:28). Apenas uma restrição foi dada: não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

A “árvore do conhecimento do bem e do mal” não era má em si mesma, mas servia como instrumento de ensino. Ela representava que Deus é o determinador do certo e do errado, e que a verdadeira distinção moral está naquilo que Ele estabelece, não no que o homem descobre por si mesmo (Isaías 5:20). O Senhor é o Deus da distinção: Ele separou a luz das trevas (Gênesis 1:4), o céu da terra (Gênesis 1:6-8), o homem dos animais (Gênesis 1:26), e agora também o bem do mal.

Isso nos ensina que, desde o princípio, certo e errado não eram definidos pela experiência humana, mas pela palavra de Deus (Deuteronômio 30:15-16; João 17:17). O pecado, portanto, tem um peso enorme: é a desobediência direta a Deus e traz consequências de morte espiritual e, posteriormente, física (Romanos 6:23).

Esse estudo também mostra que não é possível conciliar plenamente a ciência naturalista, que busca explicar a vida sem Deus, com o relato bíblico da criação, pois desde o início a Escritura apresenta um Deus pessoal que dá ordem, estabelece limites e define propósito (Hebreus 11:3).

Assim, esse texto revela quatro verdades fundamentais:

1.    Deus é um Deus de abundância e generosidade – Ele concedeu ao homem tudo o que era necessário para a vida e satisfação, retendo apenas uma árvore (Gênesis 1:29; Salmos 34:10).

2.    Deus é o determinador do certo e do errado – Não cabe ao homem decidir o que é moralmente bom ou mau; isso pertence a Deus (Isaías 45:19).

3.    O peso do pecado – A desobediência à ordem divina traz a morte e rompe o relacionamento com o Criador (Romanos 5:12; Tiago 1:15), o que fez Adão ser afastado do paraíso de Deus.

4.    Não há conciliação entre o relato da criação e as explicações humanas contrárias – A fé bíblica exige reconhecer Deus como Criador e Legislador (Hebreus 11:6).

Portanto, a ordem de Deus a Adão não foi apenas um limite, mas uma lição: a verdadeira liberdade só existe dentro da obediência a Deus, e a vida plena só se encontra em submeter-se à Sua vontade.

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