4 ¶ Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou. 5 Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o SENHOR Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo. 6 Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo. 7 Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.
Aqui podemos entrar em uma discussão polêmica: quanto tempo
levou para Deus criar tudo? Será que foi realmente um período de 7 dias
literais? Será que foram eras? Ou ainda períodos de mil anos cada dia?
No meio teológico, há diferentes correntes de pensamento:
- Alguns acreditam que o período foi simbólico, e que
Moisés apenas organizou a narrativa em dias semanais para maior clareza ao
povo.
- Outros defendem que a criação ocorreu em eras longas,
harmonizando o relato bíblico com descobertas científicas. Essa visão é
chamada de Criacionismo Progressivo, ou “dia-era”, que entende cada
“dia” como um longo período.
Como apoio, são frequentemente citados textos como:
- “Há,
todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor,
um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pedro 3:8).
- “Pois
mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi, e como a
vigília da noite” (Salmos 90:4).
Essas passagens mostram que o tempo de Deus é diferente do
nosso, abrindo espaço para interpretações mais extensas.
Por outro lado, os conservadores e a grande maioria, assim
como o autor deste estudo, creem que a terra e tudo o que existe foram criados
em 7 dias literais de 24 horas. Mas em que podemos basear essa crença?
1. A ordem da criação: Em Gênesis
2:5
vemos que, quando Deus formou o homem, ainda não
havia plantas do campo brotadas. Ora, a vegetação já havia sido criada no terceiro
dia (Gênesis 1:11-13). Isso
mostra que não se tratava de longos períodos, mas de dias literais, pois se
fossem eras, as plantas já deveriam estar estabelecidas antes da criação do
homem.
2. O descanso de Deus: Após os seis
dias, Deus descansou no sétimo dia, santificando-o como memorial para a
humanidade (Gênesis 2:2-3; Êxodo 20:11). O próprio mandamento do sábado se fundamenta na criação em
dias literais.
3. A expressão “tarde e manhã”: Cada
dia da criação é descrito com a frase “Houve tarde e manhã, o primeiro dia... o
segundo dia...” (Gênesis 1:5,8,13...). Essa linguagem aponta claramente para períodos de 24 horas.
4. Testemunho bíblico posterior: Jesus e
os apóstolos tratavam o relato da criação como histórico e literal (Mateus
19:4-5; Marcos 10:6; Hebreus 4:4). A Igreja
Primitiva também entendia assim (1 Coríntios 15:47-48; Rm
5:12-14).
Apesar de ser um assunto polêmico, devemos confiar no que a
Bíblia ensina literalmente. Caso contrário, ao abrir espaço para
interpretações simbólicas em Gênesis, abre-se precedente para duvidar de outros
milagres igualmente sobrenaturais, como:
- o sol parando no tempo de Josué (Josué 10:12-14),
- Jonas sendo engolido por um grande peixe (Jonas 1:17),
- o mar Vermelho se abrindo (Êxodo 14:21-22),
- as muralhas de Jericó caindo (Josué 6:20),
- Jesus andando sobre as águas (Mateus 14:25),
- a multiplicação dos pães (Mateus 14:19-21),
- ou mesmo a ressurreição de Cristo (Mateus 28:6).
Voltando ao texto, em Gênesis 2:7 lemos que Deus formou o homem do pó da terra e lhe soprou
o fôlego de vida, e assim o homem passou a ser alma vivente. Isso mostra que a
vida humana é resultado direto da ação criadora de Deus, diferente de qualquer
outro ser (Jó 33:4). Esse sopro de
vida não é apenas oxigênio, mas o espírito que vem do próprio Deus, e esse
mesmo espírito permanece em nós e é complementado pelo Espírito Santo, que nos
guarda nEle (Efésios 2:1-5; João 20:22).
Além disso, o texto mostra o cuidado de Deus com sua criação.
Antes mesmo das plantas brotarem, Ele já providenciava sustento por meio da
neblina que regava a terra (Gênesis 2:6; Mateus 6:30-32). Isso revela sua previdência, sempre preparando o necessário
antes de colocar o homem no jardim. Também vemos que Deus deseja a cooperação
do homem, pois confiou a ele o lavrar e guardar a terra (Gênesis
2:15), tornando-o participante da preservação da criação.
Note que não havia ainda “erva do campo” porque não havia homem
para lavrar o solo (Gênesis 2:5). Ou
seja, ainda não havia o cultivo humano para manipular esses alimentos. Erra
quem pensa que podemos encontrar, na natureza virgem, de forma espontânea, os
principais alimentos que consumimos hoje. Ninguém perdido em uma floresta
encontrará bananas como as dos supermercados, ou um pé de milho, trigo, alface,
mandioca, arroz ou feijão. Esses alimentos, da forma como os conhecemos, são
resultado de processos de domesticação e cultivo ao longo do tempo, dentro do
propósito dado por Deus ao homem.
Assim, entendemos que no Éden Deus proveu imediatamente árvores
frutíferas agradáveis e boas para alimento (Gênesis 2:9), mas também estabeleceu o trabalho humano de cultivar e
desenvolver a terra (Gênesis 2:15). O
relato, portanto, ensina tanto a nossa dependência de Deus, que é o provedor de
todas as coisas (Atos 17:25), quanto
a responsabilidade de correspondermos ao propósito para o qual fomos criados:
trabalhar, cuidar da criação e viver em comunhão com Ele (Gênesis
1:28; 2:15).
8 ¶ E
plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o
homem que havia formado. 9 Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte
de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida
no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Por não haver ainda “erva do campo” nem planta cultivada sobre a
terra, pois não havia homem para lavrar o solo (Gênesis 2:5), Deus estabeleceu um lugar exclusivo e especial: o
jardim do Éden. Ali, de forma imediata, o Senhor PLANTOU e fez brotar do solo
toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento, incluindo a
árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). Diferente da terra em geral, que aguardava o cultivo
humano, o jardim foi um espaço de provisão sobrenatural e completa, já preparado
por Deus para ser a habitação inicial do homem.
A árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal
A árvore da vida mencionada no Éden era um elemento
real, plantada por Deus como as demais árvores do jardim, que davam frutos
apetitosos (Gn 2:8-9). O mesmo vale para a árvore
do conhecimento do bem e do mal: ambas eram árvores físicas,
visíveis e ao alcance de Adão, mas carregavam também um significado
espiritual profundo.
No decorrer da Bíblia, não encontramos mais referências
explícitas à árvore do conhecimento do bem e do mal; ela ficou restrita ao
Éden, como memória do que nos afastou de Deus. Já a árvore da vida é citada
várias vezes ao longo das Escrituras, especialmente em Provérbios, onde aparece
em linguagem figurada, sendo associada ao bom proceder, à sabedoria e aos
frutos da justiça:
- “Ela
é árvore de vida para os que a alcançam” (Pv 3:18).
- “O
fruto do justo é árvore de vida” (Pv 11:30).
- “A
esperança adiada faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de
vida” (Pv 13:12).
- “A
língua apaziguadora é árvore de vida” (Pv 15:4).
No final da Escritura, em Apocalipse, a árvore da vida
volta a ser mencionada, agora no meio da Nova Jerusalém (Ap
22:2). O texto descreve que ela produz um fruto por mês e que suas
folhas servem para a cura das nações. Também é dito que os salvos terão direito
de comer de seus frutos (Ap 2:7; Ap 22:14).
Essa linguagem é altamente simbólica, apontando para a vida
eterna em Cristo. Portanto, a ideia de procurar a árvore da vida como se
estivesse escondida em algum lugar físico, como costumamos ver em filmes, é
irreal. Não é a árvore em si que, de forma mágica, concede vida eterna ao
homem. Nem mesmo no Éden era assim, pois Adão, embora comesse da árvore, ao
desobedecer e se afastar de Deus, experimentou a morte espiritual.
O mesmo princípio vale hoje: longe de Deus, ainda estamos
espiritualmente mortos. Mas é Jesus quem nos dá vida, pois Ele é a
verdadeira árvore da vida, que concede vida em abundância (Jo
10:10).
Assim, na graça, a vida eterna já não está ligada à árvore da
vida em si, mas a Cristo Jesus, aquele que é a fonte verdadeira e eterna
da vida:
- “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
- “Quem
crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água
viva” (Jo 7:38).
Em Apocalipse, vemos também o rio da água da vida, claro como
cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro (Ap
22:1). Assim como Jesus é a água viva (Jo
4:14), a árvore da vida representa o poder de Deus em conceder a
vida eterna. Não é a árvore que tem esse poder, mas sim o próprio Deus,
que em Cristo nos dá a vida plena e eterna.
10 E saía um rio do Éden para regar o jardim e
dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. 11 O
primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro. 12 O
ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix. 13 O
segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe. 14 O
nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto
é o Eufrates.
Não sabemos ao certo por que Moisés registrou essas informações
com tantos detalhes, mas provavelmente o fez para mostrar que, no jardim do
Éden, Deus supria tudo em abundância. Os rios que se dividiam do Éden reforçam
essa ideia. Na Escritura, rios muitas vezes simbolizam a provisão, a bênção e a
abundância de Deus (Salmos 46:4; Isaías 41:18; João 7:38).
Percebe-se também que, embora ainda conheçamos dois desses rios
(o Tigre e o Eufrates), os outros dois (Pisom e Giom) não são identificáveis
atualmente. Isso mostra que o homem não conseguiria encontrar o Éden, e mesmo
que fosse possível, havia querubins colocados por Deus para guardar o caminho
da árvore da vida, impedindo que Adão retornasse (Gênesis
3:24).
Esse trecho ainda destaca que no interior do jardim havia
substâncias e pedras preciosas (Gênesis 2:12). Moisés parece querer mostrar que Deus, em sua
sabedoria, não utilizou materiais nobres como o ouro para criar o homem, mas o
pó da terra, fora do jardim (Gênesis 2:7).
Isso traz algumas implicações importantes:
1. Nossa origem humilde – Não somos
cidadãos legítimos do Éden; nascemos fora dele e não temos sua “cidadania”, por
assim dizer. Isso nos lembra de nossa condição de criaturas dependentes de
Deus.
2. Nosso valor está em Deus – O homem tem
valor, mas não por ser feito de ouro ou pedras preciosas, e sim por ter sido
criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:26-27). Por causa da redenção, nos tornamos a herança de
Cristo, a recompensa pelo Seu sacrifício na cruz (Efésios 1:18;
Isaías 53:11).
3. Não somos deuses – Ao contrário
do pensamento de antigas civilizações que retratavam o homem como um ser
místico e quase divino, a Bíblia ensina que somos pó (Salmos
103:14), criaturas feitas humildemente do lado de
fora do jardim. Isso nos leva a reconhecer que, embora criados à imagem de
Deus, estamos sob a Sua autoridade e não somos iguais a Ele (Isaías
45:9; Romanos 9:20-21).
Assim, esse relato bíblico nos ensina tanto sobre a abundância
de Deus em Sua criação, quanto sobre a verdadeira identidade e posição do homem
diante do Criador: criaturas amadas, mas dependentes, chamadas à humildade e à
obediência.
15 Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o
colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.
O trabalho foi instituído por Deus desde a criação. Não fomos
criados para a ociosidade, mas para a responsabilidade e para o serviço. É
importante notar que o trabalho não é consequência do pecado, nem parte da lei
mosaica, mas sim uma atividade prazerosa e honrosa, dada por Deus ao homem
antes da queda.
No Éden, a tarefa de Adão era cultivar e guardar o jardim. Isso
mostra que o trabalho era, em sua origem, algo nobre: cuidar daquilo que
pertence a Deus e administrar a criação como mordomo do Criador (Salmos
8:6-8). O “cultivar” envolvia desenvolver, manter
e promover a vida no jardim, enquanto o “guardar” significava proteger,
preservar e vigiar. Ou seja, Adão deveria exercer domínio responsável sobre as
plantas, os animais e todo o ambiente, refletindo o caráter de Deus como Senhor
da criação (Gênesis 1:28-29).
O trabalho, portanto, tinha como propósito glorificar a Deus e
trazer realização ao homem. Ele foi criado para ser útil, ativo e participante
da obra divina. Mais tarde, com a queda, o trabalho continuou sendo parte da
vida humana, mas tornou-se árduo, acompanhado de fadiga e suor (Gênesis
3:17-19). Mesmo assim, em Cristo, o trabalho
recupera seu sentido original: servir ao Senhor em tudo o que fazemos (Colossenses
3:23).
Assim, vemos que o trabalho é um dom de Deus, parte do plano
perfeito da criação, uma forma de expressar a imagem e semelhança dEle em nós
por meio do cuidado, da responsabilidade e da frutificação.
16 ¶ E
o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás
livremente, 17 mas da árvore do conhecimento do bem e do mal
não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
Neste trecho, Deus estabelece o primeiro mandamento direto ao
homem. O jardim do Éden era um lugar de abundância, generosidade e provisão
divina. Deus havia concedido a Adão liberdade plena para comer de toda árvore
do jardim, mostrando Seu cuidado e generosidade (Gênesis
2:9; Salmos 104:28). Apenas uma restrição foi dada:
não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
A “árvore do conhecimento do bem e do mal” não era má em si
mesma, mas servia como instrumento de ensino. Ela representava que Deus é o
determinador do certo e do errado, e que a verdadeira distinção moral está
naquilo que Ele estabelece, não no que o homem descobre por si mesmo (Isaías
5:20). O Senhor é o Deus da distinção: Ele separou a luz das trevas
(Gênesis
1:4), o céu da terra (Gênesis 1:6-8), o homem dos animais (Gênesis 1:26), e agora também o bem do mal.
Isso nos ensina que, desde o princípio, certo e errado não eram
definidos pela experiência humana, mas pela palavra de Deus (Deuteronômio
30:15-16; João 17:17). O pecado, portanto, tem um
peso enorme: é a desobediência direta a Deus e traz consequências de morte
espiritual e, posteriormente, física (Romanos 6:23).
Esse estudo também mostra que não é possível conciliar
plenamente a ciência naturalista, que busca explicar a vida sem Deus, com o
relato bíblico da criação, pois desde o início a Escritura apresenta um Deus
pessoal que dá ordem, estabelece limites e define propósito (Hebreus
11:3).
Assim, esse texto revela quatro verdades fundamentais:
1. Deus é um Deus de abundância e generosidade – Ele concedeu ao homem tudo o que era necessário para a vida e
satisfação, retendo apenas uma árvore (Gênesis 1:29; Salmos 34:10).
2. Deus é o determinador do certo e do errado – Não cabe ao homem decidir o que é moralmente bom ou mau; isso
pertence a Deus (Isaías 45:19).
3. O peso do pecado – A
desobediência à ordem divina traz a morte e rompe o relacionamento com o
Criador (Romanos 5:12; Tiago 1:15), o que
fez Adão ser afastado do paraíso de Deus.
4. Não há conciliação entre o relato da criação e as explicações
humanas contrárias – A fé bíblica exige reconhecer
Deus como Criador e Legislador (Hebreus 11:6).
Portanto, a ordem de Deus a Adão não foi apenas um limite, mas
uma lição: a verdadeira liberdade só existe dentro da obediência a Deus, e a
vida plena só se encontra em submeter-se à Sua vontade.