segunda-feira, 30 de junho de 2025

Criados à imagem e semelhança de Deus: o que isso realmente quer dizer?

SE DEUS É ESPÍRITO, COMO PODEMOS SER IMAGEM E SEMELHANÇA DELE?

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... Criou Deus, pois, o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”(Gênesis 1:26-27, ARA)

Esse texto afirma que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Mas se Deus é espírito, invisível e imaterial, o que significa essa semelhança? Teria o homem uma aparência espiritual visível? Deus teria uma forma? A Bíblia responde a essas perguntas de maneira progressiva e reveladora.

1. A natureza de Deus: “Deus é espírito”

A Bíblia declara claramente que Deus é espírito: imaterial, eterno, invisível e não limitado por corpo ou forma física.

Versículos-chave:

  • João 4:24 : “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”
  • 1 Timóteo 1:17 : “Ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos.”
  • 1 Timóteo 6:16 : “...o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem nenhum jamais viu, nem é capaz de ver.”
  • Colossenses 1:15 : “[Cristo] é a imagem do Deus invisível...”

Portanto, a imagem de Deus no homem não se refere a forma física ou aparência externa, mas a algo mais profundo e essencial.

2. O que significa ser “imagem e semelhança” de Deus?

Ser igual a Deus em imagem e semelhança não quer dizer aparência física, pois Deus é espírito (João 4:24), mas significa que o homem foi criado com emoções, sentimentos, vontade, inteligência, capacidade de se relacionar e exercer domínio. Amor, afeto, satisfação, alegria: tudo isso o homem recebeu de Deus. E, além disso, o texto mostra que o homem teria domínio sobre todas as criaturas.

Logo a expressão "imagem e semelhança" aponta para atributos espirituais, morais, relacionais e funcionais que Deus compartilhou com o ser humano: não para uma forma corpórea.

Pense em uma estátua de um rei (imagem) e em alguém que vive como o rei vive (semelhança). Uma representa, a outra imita. O ser humano foi feito para representar Deus na criação e também para agir como Ele, como mordomo, governando com sabedoria e amor.

A imagem de Deus no homem envolve:

  • Racionalidade e moralidade: capacidade de pensar, julgar, tomar decisões, discernir o bem e o mal.
  • Afetividade e emoções santas: amor, alegria, compaixão, indignação justa.
  • Relacionamento: comunhão com Deus e com o próximo.
  • Criatividade e administração: reflexo do Criador na criação e cuidado da Terra.
  • Governo: autoridade e domínio sobre a criação (Gênesis 1:28; Salmo 8:4-6).
  • Livre-arbítrio e responsabilidade moral.

Ou seja, ser imagem de Deus é refletir Sua natureza invisível e gloriosa por meio de quem somos e de como vivemos. O ser humano é representante de Deus na criação.

3. O corpo humano: veículo da imagem espiritual de Deus

Embora a imagem de Deus no homem seja espiritual, o corpo humano foi intencionalmente criado como veículo ou instrumento visível para refletir essa imagem invisível.

O corpo serve como suporte físico para manifestar externamente atributos espirituais: mãos que trabalham, olhos que observam, boca que fala a verdade e o amor.

A postura ereta e a complexidade do corpo humano possibilitam relacionamento, domínio e expressão da imagem de Deus na criação.

Entretanto, o corpo é mortal, limitado e corruptível, diferente da essência espiritual da imagem divina.

A plena manifestação da imagem de Deus ocorrerá na eternidade, quando nossos corpos serão glorificados e incorruptíveis, semelhantes ao corpo glorificado de Cristo (Filipenses 3:21; 1 João 3:2).

“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.” (1 João 3:2 RA)

Assim, o corpo não é literalmente a imagem de Deus, mas o instrumento pelo qual a imagem espiritual é expressa no mundo material.

4. Passagens que sugerem forma física: antropomorfismos

A Bíblia fala da “mão de Deus”, “olhos”, “ouvidos”, “face”, e até menciona Deus andando (Gênesis 3:8). Essas expressões são figuras de linguagem chamadas antropomorfismos: formas humanas de descrever as ações e presença de Deus.

“Deus fala conosco de forma humana para que O entendamos com mente humana.”

Exemplos:

  • Gênesis 3:8 : “...ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim...”
  • Êxodo 33:20 : “...homem nenhum verá a minha face e viverá.”
  • Salmo 34:15 : “Os olhos do Senhor repousam sobre os justos...”

Essas expressões comunicam relacionamento, presença e ação, não uma forma literal de Deus.

5. Jesus Cristo: a imagem perfeita e visível do Deus invisível, distinta da imagem criada no homem

É importante entender que, ao criar o homem e a mulher, Deus os fez à sua imagem e semelhança de forma limitada e derivada. Ou seja, eles refletem certos aspectos de Deus, mas continuam sendo criaturas, distintas em essência do Criador.

Em contraste, Jesus Cristo não é uma criatura, mas o Filho eterno de Deus: a imagem perfeita e plena do Deus invisível. Ele possui a mesma natureza divina do Pai e nunca foi criado.

Jesus é descrito como “a imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15) e “Deus manifestado em carne”:

“Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.” (1 Timóteo 3:16 RA)

Ele é Deus eterno, coigual e coeterno com o Pai, e não apenas feito à imagem e semelhança.

Além disso, Jesus assumiu uma forma humana real e visível, tornando-se a perfeita expressão visível e substancial de quem Deus é. Em Cristo, Deus se revelou plenamente em corpo e forma compreensível.

  • “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós...” (João 1:14)
  • “Quem me vê a mim vê o Pai.” (João 14:9)

Após a ressurreição, Jesus assumiu um corpo glorificado, espiritual, visível e eterno, que permanece até hoje nos céus:

  • João 20:27 : Ele mostra suas mãos furadas a Tomé.
  • Lucas 24:39 : “Um espírito não tem carne nem ossos como vedes que eu tenho.”
  • Atos 1:11 : Ele subiu ao céu com esse corpo e voltará da mesma forma.
  • Apocalipse 1:14-16 : “Os seus olhos eram como chama de fogo, seus pés como bronze polido, e seu rosto brilhava como o sol...”
  • Apocalipse 19:11-16 : “Montado em um cavalo branco, com muitos diademas...”

Isso mostra que Jesus é a forma visível, perfeita e eterna da imagem de Deus, enquanto a imagem no homem criado é uma participação reflexa e limitada.

6. Na dimensão espiritual, os espíritos se veem

Mesmo sendo incorpóreos, os espíritos percebem, se reconhecem e se comunicam entre si:

  • Mateus 18:10 : Anjos veem o Pai nos céus.
  • 2 Reis 6:17 : Eliseu e seu servo veem carros e cavalos de fogo.
  • Mateus 17:3 : Moisés e Elias aparecem com Jesus.

Espíritos têm consciência, visão e identidade na dimensão espiritual. Eles mantêm individualidade e comunicação.

7. E os santos? Seremos semelhantes a Ele!

A Bíblia afirma que os salvos receberão corpos glorificados semelhantes ao de Cristo:

  • “Transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo da sua glória...” (Filipenses 3:21)
  • “Semeia-se corpo natural, ressuscita-se corpo espiritual...” (1 Coríntios 15:44)
  • “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele...” (1 João 3:2)

A imagem de Deus no homem será plenamente restaurada e glorificada, de modo que veremos a Deus em Cristo e seremos como Ele.

Conclusão

  • Deus é espírito, invisível e eterno.
  • A imagem de Deus no homem é espiritual, racional, moral e relacional.
  • O corpo humano foi criado como instrumento para manifestar essa imagem no mundo físico, servindo de veículo para expressar a essência divina invisível.
  • Jesus Cristo é a imagem perfeita, substancial e eterna de Deus, distinto do homem criado à Sua imagem.
  • Cristo permanece glorificado nos céus e é o padrão e fonte da imagem divina.
  • Na eternidade, seremos como Cristo, com corpos incorruptíveis e espirituais, a imagem gloriosa e eterna de Deus.

“E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.” (Efésios 4:24)

“Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; satisfar-me-ei da tua semelhança quando acordar.” (Salmo 17:15)

Na cultura hebraica, ver a face de Deus é símbolo de intimidade, aprovação e presença divina. Não se trata de ver fisicamente, mas de experimentar comunhão plena com Ele.

Hoje somos imagem de Deus em nossa essência, ainda que de forma limitada. Mas um dia, pela graça, essa imagem será plena, visível e gloriosa: como Cristo é.

 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

DEUS PODE SALVAR PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL?

Compreendendo a Deficiência Intelectual

Uma pessoa com deficiência intelectual é alguém que tem mais dificuldade para aprender certas coisas, entender ideias ou lidar com situações do dia a dia. Ela pode demorar mais para aprender a falar, ler, escrever ou até cuidar de si mesma. Às vezes, também precisa de ajuda para se comunicar, fazer amizades ou entender regras simples.

Algumas pessoas com deficiência intelectual têm um grau mais leve, conseguindo aprender e fazer muitas coisas com alguma ajuda. Outras, porém, têm uma deficiência mais profunda, o que significa que têm limitações severas, como:

  • não conseguem falar ou entender frases simples;
  • não reconhecem pessoas da família;
  • não controlam os próprios movimentos ou reações;
  • dependem totalmente de outras pessoas para comer, se vestir, se comunicar e viver o dia a dia.

Essas pessoas geralmente têm um comprometimento intelectual e funcional tão grande que não conseguem exercer a fé de forma consciente, como crer, entender a Bíblia ou responder a um apelo do evangelho. Diante dessas limitações, muitos cristãos sinceros se perguntam: essas pessoas podem ser salvas?

A Dúvida: Elas Podem Ser Salvas?

Isso levanta uma questão: será que essas pessoas podem ser salvas pela fé? Como elas podem entender a mensagem do evangelho e crer naquele que se entregou por nós? Sabemos que a fé é uma condição para a salvação. Como, então, uma pessoa com entendimento limitado poderia aceitá-la?

Essa é uma pergunta sincera, mas parte de um pressuposto equivocado, pois TODOS nós temos a incapacidade de entender e aceitar a salvação por nós mesmos. TODOS NÓS TEMOS A INCAPACIDADE DE SERMOS SALVOS POR NOSSA PRÓPRIA VONTADE!

A NECESSIDADE DA FÉ E A SOBERANIA DE DEUS

Deus é soberano na salvação

A Bíblia afirma que, por natureza, todos os seres humanos estão mortos espiritualmente — e morto não pode fazer nada: não pode andar, correr, dizer “sim” ou “não”. Ou seja, somos incapazes de buscar a Deus por nós mesmos:

"Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados... Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça sois salvos" (Efésios 2:1,4-5).

"Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer" (João 6:44).

Não somos nós que escolhemos a Deus. Éramos escravos do pecado (Rm 6:6). O escravo tem liberdade para alguma coisa?

Não somos nós que seguramos a mão de Deus — é Ele quem nos segura. Se dependesse de nós, soltaríamos a mão dEle. Mas a misericórdia de Deus é tão grande que Ele nos segura e nos protege até mesmo de nós mesmos.

Se nossa salvação dependesse de apenas 1% do nosso esforço e 99% do sacrifício de Jesus Cristo, esse 1% nos levaria à condenação eterna.

Alguns argumentam com base no livre-arbítrio, mas a Bíblia mostra que o poder decisivo para a salvação está nas mãos de Deus, não nas nossas, ou o livre-arbítrio estaria acima da soberania divina?

"Logo, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia" (Romanos 9:16).

A Eleição e Chamada na Bíblia

Mesmo que a doutrina da predestinação seja controversa, ela é bíblica. A seguir, algumas passagens que mostram que é Deus quem nos escolhe:

Eleição e chamada antes do nascimento

  • Jeremias 1:5; Isaías 49:1,5; Gálatas 1:15-16

Escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo

  • Efésios 1:4; Romanos 8:29; 1 Pedro 1:2

Escolha divina em meio ao mundo

  • João 15:16,19; 1 Coríntios 1:27-28; Tiago 2:5

Chamados e dados ao Filho

  • João 6:37,39,44,65; João 17:2,6,9,24; João 10:28

Salvação pela graça, não por obras

  • Efésios 2:4-10; Marcos 13:20; Filipenses 1:29; 2 Tessalonicenses 2:13

Deus conhece os corações

Como vimos anteriormente, a salvação não parte de nós, mas exclusivamente de Deus. A limitação intelectual de uma pessoa não limita a graça divina. Deus é capaz de salvar mesmo quando não há plena capacidade de resposta racional. Ele olha para o coração e age com justiça e misericórdia:

"O Senhor vê, não como vê o homem. O homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1 Samuel 16:7).

A salvação não depende da compreensão plena

A salvação é obra de Deus. Se fosse necessário um nível mínimo de entendimento humano, estaríamos diante de uma salvação baseada na inteligência ou capacidade, e não na graça. Mesmo crianças pequenas podem ser salvas (Lucas 18:16-17), e o mesmo princípio se aplica às pessoas com deficiência intelectual profunda.

A fé é necessária e também é dom de Deus

Sim, a salvação, embora venha exclusivamente de Deus, é recebida mediante a fé:

"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus" (Efésios 2:8).

Também lemos:

"Quem crer e for batizado será salvo" (Marcos 16:16).

A fé, portanto, é condição necessária, mas não é uma obra humana meritória. Ela é concedida por Deus para que o ser humano possa crer. Somos salvos porque cremos em Jesus, mas cremos nEle porque Deus quis e nos escolheu para isso. Para quem ainda não aceita Deus como soberano sobre nossas vidas, vale estudar o texto em que Paulo explica de forma clara e direta que o Criador pode fazer o que quiser com sua criação (Rm 9:10-24).

A fé pode se manifestar de formas simples

Algumas pessoas com deficiência intelectual, embora não compreendam conceitos teológicos complexos, podem demonstrar confiança, afeto e reverência a Deus de maneira sincera. Deus pode operar nelas uma fé real, ainda que não plenamente articulada.

Onde não há capacidade, há graça

A Bíblia nos dá motivos para crer que Deus é misericordioso com aqueles que nunca puderam exercer uma fé consciente (Mateus 18:3-6), como no caso de crianças que morrem pequenas (2 Samuel 12:23). Ele julga com retidão e graça. Cremos que o mesmo princípio se aplica às pessoas com deficiência intelectual profunda:

"O Senhor conhece os que lhe pertencem" (2 Timóteo 2:19).

O equilíbrio bíblico

A salvação pertence ao Senhor (Jonas 2:9), mas ela se manifesta na história por meio da fé. Deus dá a fé, e o homem crê. Como disse Agostinho: "Ordena o que queres, e dá o que ordenas."

O chamado eficaz do Espírito transforma o coração, concedendo tanto o arrependimento quanto a fé (2 Timóteo 2:25; Atos 11:18; Filipenses 1:29).

Conclusão

Deus é soberano e concede fé àqueles que quer salvar. A fé é necessária, mas é Ele quem a concede. E onde não há capacidade para exercer fé consciente, como no caso de algumas pessoas com deficiência intelectual, cremos que Deus, em sua misericórdia, pode salvar soberanamente, à parte de uma resposta racional visível.

A salvação continua sendo pela graça, por meio da fé — mas essa fé, como tudo o mais, é dom de Deus (Efésios 2:8-9).

Confiamos em um Deus justo e misericordioso, que não se limita pela nossa incapacidade, mas salva para a glória do Seu nome aqueles que escolheu, inclusive entre os que o mundo considera fracos (1 Co 1:27).

AUTOCONTROLE

Autocontrole é a virtude de alguém que domina seus desejos e paixões. É a capacidade que uma pessoa tem de controlar seus impulsos, emoções, desejos e comportamentos, especialmente em situações difíceis ou tentadoras. Envolve a habilidade de pensar antes de agir, manter a calma diante de provocações e escolher fazer o que é certo, mesmo quando isso exige esforço ou sacrifício (Provérbios 16:32).

O Que É Autocontrole

No contexto emocional, autocontrole é manter a serenidade; no contexto moral ou espiritual, é resistir ao pecado ou à tentação (Tiago 1:14-15). Em termos práticos, ter autocontrole é, por exemplo:

Não responder com raiva diante de uma provocação (Provérbios 15:1).

Recusar algo prejudicial, mesmo sentindo vontade (1 Coríntios 6:12).

Persistir em uma meta, mesmo com vontade de desistir (Hebreus 12:1).

Resumindo: autocontrole é governar a si mesmo, em vez de ser governado pelas emoções ou impulsos (1 Coríntios 9:25-27).

Fruto do Espírito

O autocontrole é uma das qualidades do fruto do Espírito mencionadas na Bíblia. Ele é essencial para quem busca viver com sabedoria e integridade:

“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.”(Gálatas 5:22-23 – RA)

Ter autocontrole é ter domínio próprio. Paulo explica que, entre vários fruto do Espírito, está o domínio próprio. Quem tem o Espírito Santo de Deus deve saber e aplicar esse domínio sobre si mesmo, controlando impulsos e desejos que, no momento, até podem parecer bons e favoráveis, mas que a médio ou longo prazo trazem consequências ruins (Romanos 13:14). Por exemplo: ceder ao desejo por comida pode trazer satisfação e até energia momentânea, mas se entregar aos vícios e à má alimentação trará prejuízos sérios no futuro (Provérbios 25:28; Filipenses 3:19).

A Importância Prática Do Domínio Próprio

“Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que, por elas, vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo; por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.” (2 Pedro 1:4-10 – RA)

Pedro exorta que o domínio próprio, assim como os outros fruto do Espírito, deve estar evidente na vida do crente. Ele precisa ser cultivado, e isso gera bons fruto e a certeza da salvação (Mateus 7:17-20). Aquele que ainda está escravo do pecado e não consegue se controlar vive no passado, como alguém que se esqueceu que foi purificado, e continua a viver como antes da confissão de seus pecados a Deus (Romanos 6:12-14).

Pedro nos exorta a somar o fruto espiritual à nossa fé. O domínio próprio, quando praticado continuamente, nos tira do mornidão espiritual (Apocalipse 3:16), nos torna frutíferos e nos ajuda a viver de forma agradável a Deus (Efésios 5:8-10). Assim, confirmamos nossa salvação, damos testemunho aos que nos cercam e permanecemos firmes na fé, prontos para qualquer batalha e sem tropeçar (Efésios 6:10-13; Judas 1:24).

“Dissertando ele acerca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro, ficou Félix amedrontado e disse: Por agora, podes retirar-te; e, quando eu tiver vagar, chamar-te-ei.” (Atos 24:25 – RA)

Paulo também pregava sobre o autocontrole. Neste episódio, ele apresenta a Félix que era governador romano da Judeia (Atos 23:24), que aceitar Jesus envolve viver em justiça e domínio próprio. No entanto, Félix ficou amedrontado. Ele não estava disposto a aceitar que a salvação também traz mudanças práticas na vida, exigindo renúncia, disciplina e uma nova conduta (Lucas 9:23; 2 Coríntios 5:17).

Exortações Bíblicas

“25  Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. 26  Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. 27  Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” (1 Coríntios 9:25-27 RA)

Ser disciplinado envolve ter autocontrole. Assim como um atleta se domina em tudo para alcançar uma coroa corruptível, sendo disciplinado nas horas de sono, na alimentação e nas bebidas, nós também devemos exercer o mesmo domínio próprio para alcançar aquilo que é eterno. Devemos ser disciplinados não apenas no sono ou na alimentação, mas também no que vemos, ouvimos e falamos. É necessário ter autocontrole completo sobre nosso corpo.

Paulo também destaca a importância de dominar a si mesmo para não falhar naquilo que se ensina aos outros. É como alguém que adverte contra os pecados sexuais, mas acaba caindo em adultério, ou alguém que prega contra a gula e vive em descontrole. O autocontrole é essencial na vida do crente.

“7  Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância; 8  antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si, 9  apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.” (Tito 1:7-9 RA)

Uma das várias características que um bispo (pastor) deve possuir para exercer seu ministério é o domínio de si, ou seja, autocontrole, justamente para não cair no erro de viver de forma contrária àquilo que prega. Isso está em harmonia com o ensino de Paulo sobre o fruto do Espírito, onde o domínio próprio é essencial na vida cristã (Gálatas 5:22-23).

Um verdadeiro sábio é reconhecido por viver conforme ensina. Aquilo que ele prega é aquilo que ele vive (Tiago 3:13).

É claro que não precisamos ser totalmente “perfeitos” aos olhos do mundo, e nem conseguiremos ser, para começar a evangelizar (Romanos 3:23). No entanto, devemos ser sinceros e íntegros em nossa caminhada (Salmos 15:2). Por isso, não devemos falar como se estivéssemos apresentando a nós mesmos. Paulo disse: “nós não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor” (2 Coríntios 4:5). Dessa forma, as pessoas não olharão para nossas imperfeições, mas para Aquele que é perfeito.

Use o púlpito ou o altar não para falar da sua vida ou do que você fez durante a semana, mas para falar de Cristo, de personagens bíblicos e das Suas testemunhas (Atos 1:8; 1 Coríntios 2:2). O ministério não é sobre autopromoção, mas sobre conduzir as pessoas a conhecerem a verdade que está em Jesus (João 14:6).

“Quanto aos homens idosos, que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância.” (Tito 2:2 RA)

Aqui temos outra recomendação, desta vez dirigida diretamente aos homens mais velhos: que sejam temperantes. Essa palavra também pode ser compreendida como moderados, ou seja, alguém que tem domínio próprio, que não vive por impulsos, mas com equilíbrio. Ser moderado significa não ser exagerado em atitudes, reações ou hábitos, e manter-se controlado em todas as áreas da vida.

Por exemplo, um homem moderado:

  • Não se ira facilmente, nem age com dureza ou grosseria (Tiago 1:19-20).
  • Não se entrega aos excessos do vinho, da comida ou dos prazeres (Provérbios 23:20-21; Efésios 5:18).
  • Não é extremista em opiniões, mas busca ouvir, ponderar e agir com sabedoria (Provérbios 15:1-2; Filipenses 4:5).
  • Não é ganancioso ou avarento, mas sabe se contentar com o que tem (1 Timóteo 6:6-8).

A moderação é uma virtude essencial na vida cristã, pois demonstra maturidade espiritual. Paulo inclui a moderação como parte do fruto do Espírito, quando fala sobre o domínio próprio (Gálatas 5:22-23), e também orienta: “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens” (Filipenses 4:5).

Além disso, os homens mais velhos, por causa da experiência de vida, são chamados a ser exemplo para os mais jovens, vivendo com sobriedade e constância na fé e no amor (Tito 2:2; 1 Pedro 5:3). A moderação, portanto, não é sinal de fraqueza, mas de força interior e sabedoria, qualidades esperadas de quem já percorreu boa parte da caminhada cristã.

 

“Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade.” (Provérbios 16:32 RA)

Este verso exalta a grande virtude de ser longânimo, ou seja, paciente, alguém que sabe esperar com calma e suportar adversidades com espírito firme (Efésios 4:2). Ter domínio próprio é mais valioso, segundo a sabedoria bíblica, do que ser um herói de guerra, um conquistador ou um soldado poderoso.

Para o autor de Provérbios, Salomão, considerado o homem mais sábio da Bíblia (1 Reis 4:29-31), é preferível controlar a si mesmo do que conquistar cidades. Isso nos mostra que a verdadeira força não está no poder externo, mas na capacidade de governar o próprio coração e impulsos (Provérbios 25:28).

Enquanto um guerreiro pode dominar exércitos, o homem que domina a si mesmo:

  • Não responde com ira, mas com brandura (Provérbios 15:1).
  • Não age por impulso, mas reflete antes de agir (Tiago 1:19).
  • Não se vinga, mas entrega tudo nas mãos de Deus (Romanos 12:19).
  • Controla sua língua e emoções, evitando causar danos (Tiago 3:2-6).

Exemplos Bíblicos Positivos E Negativos sobre Autocontrole

Essa virtude é constantemente exaltada nas Escrituras como marca de sabedoria e maturidade espiritual (Gálatas 5:22-23). Podemos encontrar também personagens bíblicos que tiveram domínio próprio, bem como outros que “escorregaram” e sofreram consequências ruins pela falta dessa virtude:

  • José, resistindo à mulher de Potifar (Gênesis 39:7-12);
  • Moisés, que perdeu o controle e feriu a rocha (Números 20:10-12);
  • Davi, que teve autocontrole e não matou Saul, mesmo tendo oportunidade (1 Samuel 24);
  • Sansão, que foi dominado por seus desejos e paixões, entregando seu segredo a Dalila e perdendo sua força, sua liberdade e sua visão (Juízes 16:1-21);
  • E o próprio Jesus, que demonstrou domínio próprio ao permanecer calado diante dos que o acusavam injustamente (Mateus 26:62-63; 27:12-14; Isaías 53:7), no deserto, quando foi tentado por Satanás (Mateus 4:1-11), e também na cruz, quando poderia invocar legiões de anjos, mas escolheu se entregar em obediência à vontade do Pai (Mateus 26:53-54).

Conclusão E Aplicação

Em um mundo que admira força bruta, coragem militar e conquistas externas, Deus valoriza o homem que conquista a si mesmo. “Melhor é o longânimo do que o herói de guerra, e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade”. Esse sim, segundo a Bíblia, é o verdadeiro vencedor.

Em resumo, o autocontrole não é apenas uma virtude moral, mas uma evidência da presença do Espírito Santo em nós. É Ele quem nos capacita a negar a nós mesmos, tomar a cruz e seguir a Cristo dia após dia (Lucas 9:23). Não conseguimos dominar nossos impulsos apenas com força de vontade, mas pela graça que nos é dada em Jesus.

Não estamos sozinhos nessa luta interior. A Palavra de Deus afirma que o Espírito Santo habita em todo aquele que crê (Romanos 8:9), e é por meio dEle que conseguimos produzir fruto espirituais, como o domínio próprio.

Paulo declara em Filipenses 2:13 que "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade", e em Romanos 8:13 afirma: “...se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis”. Isso mostra que não apenas precisamos do Espírito para vencer a nós mesmos, como também é impossível fazer isso sem Ele.

Portanto, busquemos viver cheios do Espírito (Efésios 5:18), pois onde Ele reina, há domínio próprio, e onde há domínio próprio, há liberdade (2 Coríntios 3:17) e vida abundante (João 10:10). Que nossa oração diária seja: “Senhor, enche-me do teu Espírito e ajuda-me a vencer a mim mesmo.”

 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Perigo da Preguiça, Física e Espiritual

A preguiça, muitas vezes vista como algo simples ou até inofensivo, é tratada nas Escrituras como um perigo real, tanto na área material quanto na espiritual. A Palavra de Deus alerta que a negligência pode nos conduzir à ruína, à pobreza e também à estagnação na fé. Neste estudo, veremos como a preguiça afeta o corpo e o espírito, e como Deus nos chama à diligência e à vigilância.

A Preguiça na Área Física: O Caminho da Negligência

O livro de Provérbios é um verdadeiro “prato cheio” quando se trata do tema da preguiça. São várias as passagens que abordam esse comportamento:

a) Provérbios 6:6-11

"Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio..."

A formiga é usada como exemplo de diligência e disciplina. Ela trabalha mesmo sem supervisão, ou seja, não precisa de alguém que lhe diga o que fazer ou quando fazer. Ela se antecipa às necessidades futuras. Em contraste, o preguiçoso é caracterizado pelo sono excessivo, pela procrastinação e pela falta de iniciativa. O resultado? Pobreza e escassez.

b) Provérbios 24:30-34

"Passei pelo campo do preguiçoso... tudo estava cheio de espinhos..."

Esse trecho mostra as consequências da preguiça contínua: decadência e abandono. O campo do preguiçoso representa tudo o que é negligenciado por falta de esforço, sejam responsabilidades familiares, profissionais ou sociais.

Vale lembrar que a Bíblia não condena o descanso, mas sim a preguiça crônica, aquela que recusa o esforço necessário para suprir as próprias necessidades ou contribuir com a sociedade.

c) Provérbios 13:4

"O preguiçoso deseja e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta."

O preguiçoso vive de sonhos, mas não realiza nada porque não age.

"O desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam trabalhar. Todo o dia cobiça, mas o justo dá e nada retém." Provérbios 21:25-26

O preguiçoso sofre por aquilo que deseja, mas não se dispõe a trabalhar para alcançar. Enquanto isso, o justo, por sua diligência, tem o suficiente para dar com generosidade.

d) Provérbios 10:4

"O que trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se."

Mão remissa significa mãos frouxas, relaxadas, preguiçosas. Esse tipo de atitude conduz à pobreza. Em contraste, o diligente é alguém esforçado, dedicado, determinado e disciplinado. Suas mãos o enriquecem. Em outras palavras, quem deseja prosperar deve trabalhar com empenho.

e) Provérbios 15:19

"O caminho do preguiçoso é como que cercado de espinhos, mas a vereda dos retos é plana."

Para o preguiçoso, a vida é cheia de dificuldades, pois ele vê obstáculos em tudo. Para os retos, que agem com responsabilidade e integridade, o caminho é mais leve.

f) Provérbios 19:15

"A preguiça faz cair em profundo sono, e o ocioso vem a padecer fome."

A preguiça provoca apatia e cansaço mesmo sem esforço. E a inatividade prolongada leva à pobreza e à necessidade.

g) Eclesiastes 10:18

"Pela muita preguiça desaba o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa."

Mesmo uma preguiça moderada pode causar transtornos, como as goteiras de uma casa malcuidada. Mas a preguiça extrema resulta em desastres maiores, como o desabamento do teto. Esse versículo mostra que a negligência crescente traz prejuízos cada vez mais graves.

h) 2 Tessalonicenses 3:10

"Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma."

Aqui, o recado é direto à igreja e suas práticas de assistência: os recursos devem ser destinados àqueles que realmente precisam, e não aos que se recusam a trabalhar. Quem não quer trabalhar já escolheu sua recompensa: se não trabalha, também não coma.

2. A Preguiça Espiritual: A Mornidão que Adoece a Alma

Alguém morno na fé, ou seja, que não é nem quente nem frio, é alguém com preguiça espiritual. É possível que a pessoa seja muito diligente no trabalho, nas atividades físicas e na rotina diária, mas, ao mesmo tempo, seja espiritualmente negligente. A Bíblia nos orienta a sermos diligentes principalmente na fé, fervorosos e não mornos.

Romanos 12:11

"No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor."

Devemos servir ao Senhor com o coração fervoroso, cheios de entusiasmo, e não de forma remissa, isto é, negligente, relaxada e preguiçosa.

Hebreus 6:11-12

"Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando até o fim a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores dos que, pela fé e longanimidade, herdam as promessas."

Deus nos chama à diligência espiritual. A indolência aqui refere-se ao desânimo e à apatia diante das coisas de Deus. Quando nos tornamos passivos em relação à oração, à leitura da Palavra e ao serviço cristão, nosso espírito enfraquece.

Apocalipse 3:15-16

"Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca."

A mornidão espiritual é uma forma de preguiça. Não se trata de uma oposição direta a Deus, mas de ausência de paixão por Ele. É o estado de quem vive no piloto automático da fé, sem fervor, sem compromisso, sem profundidade.

Romanos 13:11

"...já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio cremos."

Há um chamado urgente nas Escrituras: despertar! O tempo é curto, e nossa vida espiritual exige vigilância constante. Não podemos dormir espiritualmente enquanto o tempo se esgota.

1 Timóteo 4:13-15

"Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. [...] Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto.”

Devemos ser diligentes e não preguiçosos no estudo das Escrituras. Timóteo, como pastor, foi orientado por Paulo a se dedicar à leitura, à exortação e ao ensino. Mas essa exortação vale também para todo cristão. Não somos todos pastores ou bispos, mas cada crente deve ser diligente na leitura da Bíblia para crescer espiritualmente e não ser enganado por falsos mestres.

Como fugir da preguiça

A resposta é simples: não ficar parado. Acredito que você não queira ouvir essa resposta, pois ela parece ser genérica. Seria o mesmo que dizer que, para ter saúde, basta não ficar doente. Embora seja uma afirmação correta, é preciso aprofundar um pouco mais.

Estudos comprovam que, quanto mais tempo ficamos parados ou inativos, mais difícil se torna iniciar uma atividade. Quando passamos muito tempo na frente da TV, deitados ou mesmo sentados com o corpo parado e a mente distraída, torna-se extremamente difícil iniciar qualquer atividade. Isso ocorre porque nem sempre fazemos algo porque estamos motivados; muitas vezes, a motivação surge exatamente porque estamos em movimento. A física já explica isso: "toda ação gera uma reação". Portanto, não espere "ficar com vontade para fazer"; apenas faça, e a vontade virá com o movimento.

Existe uma regra por aí que diz: "apenas comece". Isso porque, muitas vezes, não iniciamos uma tarefa por parecer algo grande ou difícil demais. Mas o segredo é justamente começar. Existe também a chamada regra dos "5 minutos": se você estiver com preguiça ou sem disposição, apenas comece e faça por pelo menos 5 minutos. Após esse início, o cérebro "engata" no ritmo e prossegue com mais facilidade.

Mas isso não se trata apenas de ditados populares ou estudos científicos. A Bíblia já nos alerta sobre o problema da inatividade:

Provérbios 20:4 (RA): "O preguiçoso não lavrará por causa do inverno; pelo que, na sega, buscará e nada encontrará."

Aqui, o preguiçoso evita iniciar por achar o momento desconfortável, e o resultado é prejuízo. Ou seja, quem espera "sentir vontade" antes de agir colhe a escassez. O preguiçoso encontra boas desculpas para não trabalhar, mas, na época da colheita, de nada adianta procurar, pois nada encontrará.

Eclesiastes 11:4 (RA): "Quem observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará."

Ficar esperando a "condição ideal" para começar leva à paralisia. Deus nos ensina a agir com fé e iniciativa, não apenas quando há motivação, mas quando é o tempo de fazer.

Provérbios 14:23 (RA): "Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria."

O início do trabalho, mesmo que pequeno, traz proveito. O discurso vazio, a intenção sem ação, o apenas falar e não agir, não leva a lugar algum ( Provérbios 13:4; 21:25-26).

O mesmo vale para a vida espiritual: muitas vezes, não sentimos vontade de orar, ler a Bíblia ou servir. Mas, se apenas começarmos, o Espírito Santo nos renova no caminho. Como diz Filipenses 2:13: "Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade."

Outra forma de evitar sermos dominados pela preguiça é não se distrair. A distração cria uma zona de conforto e tira nosso foco daquilo que realmente importa. Hoje, algumas das principais causas de distração são redes sociais, vídeos curtos, jogos e até mesmo conversas fúteis. Esse tipo de conteúdo dá ao nosso cérebro uma recompensa imediata: uma sensação de satisfação sem esforço algum. Com isso, o cérebro passa a buscar mais e mais esse tipo de dopamina fácil, nos deixando estagnados, desmotivados e sem disposição para iniciar tarefas significativas.

Nosso cérebro se acostuma a esses estímulos rápidos e começa a rejeitar tarefas que exigem esforço contínuo, como trabalho, estudo ou mesmo oração. Cada vez que você se distrai, é necessário um tempo para "voltar aos trilhos". Se as distrações são constantes, você nunca alcança a profundidade de foco que permite progresso real. Distrações frequentes fazem sua mente operar de forma superficial. Quanto mais fragmentado o foco, mais preguiça e desânimo você sentirá ao tentar realizar algo que exija concentração.

A Bíblia não usa a palavra "distração" como usamos hoje, mas alerta contra a divisão do coração, a ansiedade pelas muitas coisas e o espírito inquieto, que são equivalentes:

Lucas 10:40-42 (RA): "Marta, porém, andava distraída em muitos serviços... Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada."

Marta estava ocupada demais com o que não era essencial. Naquele momento, a distração era o trabalho, os afazeres domésticos. Mesmo um trabalho digno não é mais importante do que um momento com Jesus. A distração a impedia de perceber o valor daquele momento.

Eclesiastes 5:1 (RA): "Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos..."

Ouvir exige atenção. Mas o sacrifício vazio, sem foco e sem coração, é rejeitado por Deus. Se você está indo a uma igreja para cultuar a Deus, ouça com atenção a palavra que está sendo pregada. Para Deus, mais importante é ouvir com o coração aberto do que ofertar de maneira errada e desobedecer à sua vontade.

2 Timóteo 2:4 (RA): "Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra."

Essa passagem reforça que o cristão está em missão constante, como um soldado de Cristo. Ele não pode se dar ao luxo de viver distraído ou preso às ocupações deste mundo que desviam seu foco. "Embaraçar-se" significa envolver-se em distrações, excessos e cuidados terrenos que impedem a prontidão espiritual e o avanço da missão confiada por Deus.

Essa missão inclui:

  • Permanecer firmes na fé, com a armadura de Deus (Efésios 6:10-18);
  • Anunciar o evangelho e fazer discípulos (Mateus 28:19-20);
  • Viver de modo santo e irrepreensível, agradando ao Senhor que nos alistou (1 Tessalonicenses 4:1).

Portanto, manter o coração livre de embaraços e o olhar fixo em Jesus (Hebreus 12:2) é essencial para permanecer útil e ativo no serviço espiritual. Distrações constantes, sejam elas físicas, emocionais ou digitais, são como laços que nos tiram de combate. O bom soldado não negocia sua missão.

Aplicação prática

Assim como a preguiça física conduz à pobreza e à ruína, a preguiça espiritual leva à esterilidade da fé e ao afastamento gradual de Deus. Um cristão apático não cresce, não frutifica e corre o risco de desviar-se da verdade sem sequer perceber.

Apocalipse 3:15-16 (RA):

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.”

Essa forte repreensão revela o quanto Deus rejeita a indiferença espiritual. A mornidão representa uma vida cristã sem compromisso genuíno, acomodada, sem fervor, sem arrependimento e sem frutos. Cristo prefere uma postura definida: ou arrependimento sincero e zelo fervoroso (quente), ou uma rejeição clara da fé (frio). A neutralidade é intolerável no Reino de Deus.

Diante disso, seguem algumas orientações práticas para evitar sermos dominados pela preguiça espiritual e pela apatia:

a. Evite começar o dia com distrações

Ao acordar e imediatamente acessar redes sociais, você condiciona seu cérebro a buscar recompensas fáceis. Isso compromete sua atenção e energia ao longo de todo o dia. Comece o dia com sobriedade, oração e foco.

b. Estabeleça tempos de foco real

Separe blocos de tempo (comece com 15 a 30 minutos) para se concentrar sem distrações, sem celular por perto. Isso treina a mente para resistir à dispersão e ao imediatismo.

c. Ore pedindo atenção e sobriedade

Distrações nem sempre são pecaminosas em si, mas podem se tornar laços invisíveis que nos afastam da produtividade e, sobretudo, da comunhão com Deus. A oração nos ajuda a discernir o que realmente importa.

d. Organize sua rotina com propósito

Não viva por impulso ou no improviso. Planeje momentos específicos para trabalhar com excelência e buscar a Deus com seriedade. Uma vida intencional é uma vida frutífera.

e. Lute contra a procrastinação espiritual

Leia a Bíblia mesmo quando não sentir vontade. Ore mesmo quando parecer difícil. O crescimento espiritual exige disciplina antes do prazer.

“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar.” 1 Pedro 5:8 (RA):

O alerta é claro: descuido e distração abrem brechas para o inimigo. Vigilância e sobriedade são armas contra a preguiça espiritual.