O amor é a essência da vida cristã e a base para o relacionamento com Deus e com o próximo. Mas não estou falando de um amor raso ou superficial, mas de um amor tão profundo que leva alguém a morrer pelo outro, e não apenas por aqueles que já amamos e cuidamos, mas até mesmo por quem nos odeia e nos persegue (Romanos 5:8).
1. O Amor Como Mandamento e
Dom De Deus
Primeiramente,
precisamos entender que amar é, sobretudo, um mandamento e, ao mesmo tempo, um
dom de Deus (Marcos 12:30-31; 1 João 4:7-8). Logo, quando amamos, estamos cumprindo o mandamento dado
por nosso Senhor Jesus (João 13:34), e
ter fé nEle é justamente acreditar em tudo o que Ele fez e praticar o que Ele
nos ensinou (Tiago 2:17). Mas, ao mesmo
tempo em que estamos praticando o mandamento de amar, só podemos fazê-lo porque
nos foi dado esse dom (Romanos 5:5; 2 Timóteo 1:7; Gálatas
5:22; 1 João 4:19). Assim, não podemos amar o
próximo sem o dom de Deus, e também não amaremos ao próximo apenas por termos
esse dom; devemos exercitá-lo, colocá-lo em prática (1 João 3:18).
Jesus afirmou que os
dois maiores mandamentos são amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo (Mateus 22:37-39).
Posteriormente, Ele deu um novo mandamento:
“amar ao próximo como Ele nos
amou” (João 13:34).
Esse novo mandamento
nos conduz à prática do verdadeiro amor, pois amar o próximo como amamos a nós
mesmos pode ser problemático. Se não soubermos nos amar corretamente, corremos
o risco de, em vez de amar o próximo, prejudicá-lo, boicotá-lo ou até mesmo
rejeitá-lo, refletindo nele nossas próprias dificuldades emocionais, como
pessimismo, masoquismo ou baixa autoestima. Assim, trataríamos os outros de
forma inadequada, da mesma maneira que nos tratamos.
O oposto também é
verdadeiro: se formos egoístas, interesseiros, avarentos, amantes dos prazeres
do mundo e do dinheiro, amaríamos ao próximo sob essa mesma perspectiva,
ensinando-o e incentivando-o a ser soberbo, controlador, avarento, egoísta, invejoso,
ou seja, direcionaríamos o próximo nos mesmos objetivos errados que temos. No
entanto, quando Jesus nos dá o mandamento de amar ao próximo como Ele nos amou,
temos um exemplo claro, um padrão, um norte, uma régua para medir como devemos
amar as pessoas, baseando-nos no mesmo amor que Cristo teve por nós (Efésios
5:2).
2. O Exemplo do Amor de Deus
São várias as
demonstrações do amor de Deus que podemos citar. Um exemplo é o cuidado que Ele
teve com Noé e sua família, preservando-os do dilúvio e garantindo a
continuidade da humanidade (Gênesis 6:8-9, 18). Também vemos Seu amor por Abraão ao chamá-lo e prometer que faria dele
uma grande nação, abençoando todas as famílias da terra por meio de sua
descendência (Gênesis 12:1-3).
O amor de Deus se
manifesta de maneira especial ao povo de Israel, libertando-o da escravidão no
Egito (Êxodo
3:7-8) e sustentando-o com paciência no deserto,
provendo alimento, água e proteção, mesmo diante de murmurações e rebeldias (Deuteronômio
8:2-4).
Outro exemplo
marcante é o amor demonstrado a Davi por meio do perdão, mesmo após seu grave
pecado contra Deus. Quando Davi se arrependeu, o Senhor o perdoou, mostrando
Sua misericórdia (2 Samuel 12:13).
Além disso, Deus
expressou Seu amor por meio dos profetas, chamando Seu povo ao arrependimento e
à restauração. No livro de Oséias, por exemplo, o amor de Deus é comparado ao
de um marido fiel que deseja restaurar sua esposa infiel (Oséias
2:19-20; 11:1-4).
Por fim, vemos o
cuidado de Deus para com Jonas, mesmo quando ele tentou fugir de Sua missão.
Deus corrigiu o profeta, mas também o preservou e mostrou Seu amor não apenas a
Jonas, mas também ao povo de Nínive, ao conceder-lhes a oportunidade de
arrependimento (Jonas 3:10; 4:11).
Mas, em uma única
atitude, já podemos enxergar Seu grande amor ao ver que Deus enviou Seu próprio
Filho, Jesus, para morrer pelos pecadores (Romanos 5:8). Esse amor é incondicional e se manifesta na graça e na
misericórdia que recebemos diariamente (Lamentações 3:22-23). Além disso, Ele nos adotou como filhos por meio de Cristo,
um ato de amor que nos dá identidade e herança espiritual (1 João
3:1; Efésios 1:5).
a. O Exemplo do Amor de Cristo
Cristo nos mostrou o
verdadeiro amor de várias formas:
- Sacrifício na cruz –
Jesus deu a própria vida por nós, demonstrando o maior ato de amor (João 15:13; 1 João 3:16).
- Perdão aos pecadores –
Mesmo na cruz, Jesus intercedeu pelos que o crucificavam, ensinando-nos a
amar até os inimigos (Lucas 23:34).
- Serviço humilde –
Ele lavou os pés dos discípulos, mostrando que o verdadeiro amor se
expressa em humildade e serviço (João
13:14-15).
- Compadecimento
pelos necessitados – Jesus teve
compaixão dos famintos, dos enfermos e dos aflitos, demonstrando que o
amor se expressa no cuidado com o próximo (Mateus 9:36; Marcos
1:41).
3. O Perdão como Expressão do
Amor
Como já vimos, o
amor é um mandamento (João 13:34). Ninguém
ama automaticamente; é preciso praticá-lo. O amor apenas por palavras não é
válido (1 João 3:18), pois ele se
manifesta através de ações. Uma das ações que mais provam o amor é o perdão.
O perdão é um
reflexo do amor divino. Deus nos perdoou em Cristo, e devemos perdoar uns aos
outros da mesma maneira (Colossenses 3:13).
Jesus ensinou que devemos perdoar ilimitadamente (Mateus 18:21-22) e advertiu que quem não perdoa também não será perdoado (Mateus
6:14-15).
Sobre o que Jesus
disse em Mateus 6:14-15, Ele não está
negando a graça ou estabelecendo condições para a salvação. Em vez disso, Ele
revela que alguém que realmente experimentou o perdão de Deus naturalmente
perdoará os outros.
Se alguém diz ter
recebido o perdão divino, mas se recusa a perdoar, isso pode indicar que ainda
não compreendeu verdadeiramente a graça de Deus. O próprio Jesus ilustra esse
princípio na parábola do credor incompassivo (Mateus 18:21-35). Nela, um servo que foi perdoado de uma grande dívida se
recusa a perdoar uma pequena dívida de outro servo. No final, ele é castigado,
pois sua falta de perdão demonstrava que não valorizava a misericórdia
recebida.
4. O Amor e o Perdão na
Prática
a- Perdoar de Coração: Não
basta apenas dizer que perdoamos; o perdão deve ser sincero (Mateus 18:35).
b- Evitar a Amargura: A falta
de perdão gera raiz de amargura, que contamina a alma (Hebreus 12:15).
c- Amar os Inimigos: Jesus
ensinou a amar e orar por aqueles que nos perseguem (Mateus 5:44).
d- Promover a Reconciliação:
Sempre que possível, devemos buscar paz e harmonia (Romanos 12:18).
Como vimos acima,
sempre que possível, devemos buscar a paz e a harmonia. Isso significa que a
decisão parte de nós, ou seja, devemos tomar a iniciativa de ir até a pessoa e
perdoá-la. Podemos pensar: "Ah, mas se foi ele quem errou, ele é quem
deve vir até mim pedir perdão."
Pois bem, essa é a
lógica do mundo, que tenta nos fazer acreditar que essa é a atitude correta. No
entanto, esse não é o princípio divino nem o comportamento digno de filhos de
Deus. Podemos ver isso em várias passagens além de Romanos
12:18.
5. O perdão independe do
pedido do outro
Um exemplo claro de
que o próximo não precisa pedir perdão para que o perdoemos é o ensinamento de
Jesus, que mostra que devemos perdoar independentemente de a outra pessoa
reconhecer sua falha:
Marcos 11:25 – "E, quando
estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que
vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas."
Isso demonstra que o
perdão é uma decisão pessoal, tomada diante de Deus, sem esperar que o ofensor
venha pedir.
Outro grande exemplo
é o próprio Jesus na cruz:
Lucas 23:34 – "Contudo,
Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem."
Jesus perdoou
aqueles que o crucificaram, mesmo sem que eles tivessem pedido perdão.
Da mesma forma,
Estêvão, ao ser apedrejado, seguiu o exemplo de Cristo:
Atos 7:60 – "Então,
ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! E, com
estas palavras, adormeceu."
Estêvão perdoou seus
algozes sem esperar que eles reconhecessem o erro.
6. Quando o objetivo é a
restauração do relacionamento
Se, além de perdoar,
o objetivo for restaurar um relacionamento, devemos tomar a iniciativa e
procurar a pessoa. A Bíblia nos orienta a buscar a reconciliação:
Mateus 5:23-24 – "Se,
pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem
alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta."
Se soubermos que há
algo mal resolvido, devemos buscar a reconciliação antes de continuar nossa
adoração.
Jesus também ensina
que, se alguém pecou contra nós, devemos procurá-lo e tentar resolver
diretamente:
Mateus 18:15 – "Se teu
irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão."
7. E se a pessoa não aceitar o
perdão?
Se a pessoa não
aceitar o perdão, ainda assim devemos perdoar, pois o perdão não depende da
resposta do outro, mas da nossa obediência a Deus (Romanos
12:18). Jesus ensinou que perdoar é essencial para
nossa comunhão com Deus (Marcos 11:25), e
guardar rancor pode nos prejudicar espiritualmente (Efésios 4:31-32;
Hebreus 12:15). O perdão não significa concordar com o
erro nem manter um relacionamento tóxico (Provérbios 22:24-25; Mateus
10:14), mas sim libertar nosso coração da mágoa e viver
em paz (Colossenses 3:13; Romanos 12:18).
8. Benefícios do Amor e do
Perdão
As consequências de
amar e perdoar não se restringem apenas a obedecer a Deus; essas atitudes
trazem benefícios para aqueles que aprendem a amar e perdoar de coração.
Quem ama e perdoa experimenta
a paz de Deus.
A essência de Deus é
o amor (1
João 4:8), e Ele nos chama a amar como Ele ama. O
perdão também vem d'Ele, pois foi Ele quem nos perdoou primeiro (Efésios
4:32). Quando escolhemos amar e perdoar, nos alinhamos
com o caráter de Deus e experimentamos Sua paz.
Guardar rancor e
mágoa gera sofrimento interior, causando ansiedade e inquietação (Hebreus
12:15). No entanto, quando perdoamos, nos livramos
desse peso e abrimos espaço para a paz de Deus.
O Espírito Santo
produz em nós amor, paciência e paz (Gálatas 5:22). Ao praticarmos o amor e o perdão, tornamo-nos receptivos à
ação do Espírito Santo, que nos enche da paz divina. Quem vive no perdão não
carrega culpa nem ressentimento e, por isso, experimenta a paz que vem de Deus.
Relacionamentos Restaurados:
O amor e o perdão
são fundamentais para restaurar e fortalecer os relacionamentos. A Bíblia
ensina que "o amor cobre multidão de pecados" (1
Pedro 4:8), o que significa que, quando amamos
verdadeiramente, somos capazes de superar falhas e imperfeições nos outros,
promovendo a reconciliação.
O perdão evita que
ressentimentos e mágoas corroam os laços entre as pessoas, permitindo que
relacionamentos quebrados sejam restaurados. Em vez de alimentar conflitos, o
amor age como um bálsamo, trazendo cura e união.
Reflexo de Cristo:
Perdoar e amar é
imitar a Cristo, refletindo Sua luz ao mundo (João 13:34-35). Jesus nos ensinou a amar como Ele amou, perdoando até mesmo
aqueles que O crucificaram (Lucas 23:34).
Ao perdoarmos,
rejeitamos ressentimentos e fortalecemos nossos relacionamentos, vivendo em
unidade e paz, como Deus deseja (Colossenses 3:13; João 17:21). Dessa forma, mostramos ao mundo a essência do evangelho e
glorificamos a Deus.
O amor e o perdão
são fundamentais para a vida cristã. Deus nos chama a viver em amor e a perdoar
como Ele nos perdoou. Quando praticamos esses princípios, vivemos em harmonia e
testemunhamos o verdadeiro evangelho ao mundo.
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