O que realmente estamos celebrando na Páscoa? Será que se resume apenas à troca de ovos de chocolate supostamente entregues por um "coelho mágico"? Ou será que estamos deixando de lado o verdadeiro significado dessa data, assim como aconteceu com o Natal, que também foi deturpado por elementos comerciais e fantasiosos?
A ORIGEM DA FANTASIA
A ideia de que coelhos podem pôr ovos — e ainda por cima ovos de
chocolate — é, na verdade, o resultado de uma mistura de diversas tradições de
culturas antigas, que com o passar dos séculos foram se fundindo e formando o
que hoje conhecemos como a “Páscoa moderna”. Essa construção cultural lembra
até mesmo um “Frankenstein”, no sentido de algo feito com pedaços de várias
partes desconexas.
O COELHO E A DEUSA DA FERTILIDADE
O coelho — ou melhor, a lebre — era um símbolo muito comum em
rituais antigos praticados por povos que não seguiam o cristianismo, chamados
pagãos. Entre esses povos estavam os germânicos (que viviam onde hoje é a
Alemanha e arredores) e os anglo-saxões (povos que viviam na região onde hoje é
a Inglaterra). Segundo Beda, o Venerável, historiador do século VIII, a lebre
estaria associada a uma deusa germânica da fertilidade chamada Ēostre, que
representava a fertilidade e a primavera. Ela era celebrada na época do
equinócio da primavera, quando o dia e a noite têm a mesma duração. A lebre se
tornou símbolo da fertilidade por ser um animal que se reproduz com muita
facilidade.
O OVO COMO SÍMBOLO
O ovo, por sua vez, sempre foi um símbolo de fertilidade e de
renovação da vida em várias culturas. Entre os persas e egípcios antigos, por
exemplo, os ovos eram trocados durante a primavera como símbolo da criação e do
renascimento. Em algumas tradições cristãs orientais, os ovos eram tingidos de
vermelho para simbolizar o sangue de Cristo e trocados entre os fiéis como
saudação pascal.
Durante a Idade Média, cristãos passaram a abster-se de ovos durante
a Quaresma, e quando a Páscoa chegava, os ovos eram novamente consumidos e
oferecidos como presentes, simbolizando o fim do jejum e a celebração da
ressurreição de Cristo.
A CHEGADA DO CHOCOLATE
Somente nos séculos XVIII e XIX, especialmente na França e na
Alemanha, os confeiteiros começaram a fabricar ovos ocos de chocolate,
combinando o símbolo tradicional do ovo com a popularização do doce trazido das
Américas no século XVI. A prática ganhou força com o tempo, especialmente na
França e Alemanha, como uma forma de unir o simbolismo do ovo com algo mais
atrativo e doce.
O COELHO QUE BOTA OVOS?
A história do “coelho que bota ovos” parece surgir de tradições
alemãs, especialmente entre luteranos do século XVII, que falavam do
“Osterhase”, uma lebre mítica que colocava ovos coloridos para as crianças
bem-comportadas. Os imigrantes alemães levaram essa tradição para os Estados
Unidos, onde ela foi ganhando força e, com o tempo, se tornou popular também em
outros países — muito incentivada, é claro, pelo comércio.
Hoje, não só os ovos são feitos de chocolate, como os próprios
coelhos também (risos). A indústria alimentícia e o comércio viram nessa
mistura simbólica uma oportunidade perfeita para vender produtos temáticos na
Páscoa, o que colaborou ainda mais para o afastamento do verdadeiro significado
da data.
ENTÃO, O QUE SIGNIFICA PRESENTEAR COM OVOS NA
PÁSCOA?
Originalmente, o ato de presentear com ovos representava o
renascimento, a fertilidade e a esperança de uma nova vida. Com o tempo, esse
gesto foi sendo ressignificado para os cristãos como um símbolo da ressurreição
de Jesus Cristo, que venceu a morte e trouxe nova vida a todos os que nele
creem (João 11:25; 1 Pedro 1:3).
Entretanto, é importante lembrar que a verdadeira Páscoa cristã não
tem relação com coelhos, ovos ou chocolate. Ela é a celebração da morte e
ressurreição de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João
1:29), conforme tipificado na Páscoa judaica (Êxodo 12), quando os hebreus
foram libertos da escravidão do Egito.
Mas... o que isso tem a ver com a fé cristã?
Nada. Absolutamente nada.
Esse é um exemplo claro do que a Bíblia chama de “fábulas” — histórias
inventadas, simbologias vazias e tradições humanas que desviam o foco da
verdade do evangelho. O apóstolo Paulo fez alertas firmes quanto a isso:
“Não se ocupem com fábulas e genealogias
sem fim, que mais promovem discussões do que o serviço de Deus na fé.”
(1Timóteo 1:4)
“Rejeita as fábulas profanas e de velhas
caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade.” (1Timóteo 4:7)
“Haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina, pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias
cobiças... e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.”
(2Timóteo 4:3-4)
“...para que sejam sadios na fé e não se
ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da
verdade.” (Tito 1:13-14)
FÁBULAS MODERNAS QUE DISTORCEM A VERDADE
As “fábulas” que Paulo combate em suas cartas são, essencialmente,
ensinos que desviam do foco da verdade do evangelho — não importando se vêm do
judaísmo, do paganismo ou da criatividade humana. Elas geralmente:
• São curiosas, mas inúteis espiritualmente;
• Geram mais discussões do que edificação;
• Tiraram o foco de Cristo e colocam o foco
em tradições ou experiências.
Então, quando falamos de “coelhos que botam ovos de chocolate na
Páscoa”, por exemplo, estamos exatamente diante de uma “fábula moderna”: uma
construção fantasiosa que não edifica, não é verdadeira, e ainda desvia
completamente a atenção da ressurreição de Cristo — o verdadeiro motivo
da celebração.
Na mesma data em que este estudo estava sendo redigido, a Prefeitura
de Pouso Alegre, por meio do Informativo nº 015/2025 (acesse o documento aqui), direcionado a
professores e gestores escolares, orientou expressamente que as atividades de
Páscoa nas escolas não devem fazer qualquer referência direta à
crucificação, ressurreição ou a elementos litúrgicos da fé cristã. O
documento afirma que esses conteúdos pertencem à religiosidade particular e,
por isso, devem ser evitados nas escolas públicas.
Em seu lugar, sugere-se o uso de símbolos lúdicos como coelhos,
ovos, cores e brincadeiras — todos desvinculados de qualquer significado
espiritual — para estimular a imaginação e a ludicidade das crianças,
promovendo valores “universais” como solidariedade, partilha e respeito. O
foco, segundo o documento, é transformar a Páscoa em uma ocasião puramente
cultural e pedagógica, sem qualquer associação com Jesus Cristo ou com a fé
cristã, que é a raiz histórica da data.
Isso escancara uma tendência moderna e institucionalizada de
substituir a verdade espiritual por tradições vazias, sem qualquer ligação com
Deus ou com o evangelho. A tentativa de manter a “tradição da Páscoa”, mas sem
Cristo, é justamente o que Paulo alertou em suas cartas: fábulas que afastam
o coração da verdade e criam um cenário onde o essencial é ignorado em favor do
superficial (1 Timóteo
1:4; 2 Timóteo 4:4).
A celebração da ressurreição de Jesus não deve ser substituída por
personagens fictícios ou por valores diluídos. Se Cristo não está no centro,
então não há Páscoa verdadeira.
O VERDADEIRO SENTIDO DA PÁSCOA
Cristo é a nossa verdadeira Páscoa (1 Coríntios 5:7), e o maior presente que podemos
celebrar é a vida eterna que temos nele. A alegria da ressurreição vai muito
além de tradições e símbolos culturais — ela é uma realidade espiritual que
transforma o coração.
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (João 11:25)
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva
esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” (1 Pedro
1:3)
Portanto, que nesta Páscoa, possamos lembrar e proclamar com fé e
gratidão: Cristo ressuscitou! Ele vive, e por isso vivemos também.
A ORIGEM DA PÁSCOA
Muitos cristãos afirmam, com razão, que na Páscoa celebramos a
ressurreição de Jesus Cristo. Essa é, de fato, a perspectiva cristã da Páscoa.
No entanto, é importante compreender que a Páscoa já era celebrada muito antes
da crucificação e ressurreição de Jesus. Ele mesmo celebrou a Páscoa com seus
discípulos antes de ser entregue à morte (Lucas 22:7-20).
A Páscoa tem suas raízes no Antigo Testamento. Era uma celebração
ordenada por Deus ao povo de Israel em memória de sua libertação do Egito, onde
foram escravizados por cerca de 400 anos (Êxodo 12:40-41). Quando Deus chamou Moisés para libertar os israelitas (Êxodo
3), o faraó resistiu, e Deus enviou uma série de pragas
sobre o Egito. A última delas seria a morte dos primogênitos (Êxodo 11).
Foi então que Deus deu uma orientação decisiva: cada família
israelita deveria sacrificar um cordeiro e marcar com o sangue as ombreiras e a
verga das portas. Ao ver o sangue, o anjo da morte "passaria por
cima" da casa — e assim os primogênitos seriam poupados (Êxodo
12:1-30). A palavra "Páscoa" vem justamente
do hebraico Pessach, que significa "passar por cima".
Essa noite marcou o início da libertação do povo, que sairia do
Egito rumo à Terra Prometida. A partir de então, a Páscoa foi instituída como
uma celebração anual de memória e gratidão pela salvação concedida por Deus (Êxodo
12:14; Levítico 23:4-5).
CRISTO: NOSSA PÁSCOA
Jesus Cristo foi crucificado exatamente durante o período da Páscoa
judaica (Mateus
26:2), e isso não é uma coincidência. Ele é o
verdadeiro Cordeiro de Deus, aquele cujo sangue nos livra da condenação
eterna (João 1:29; 1 Coríntios 5:7). Assim como
o sangue do cordeiro poupou os lares dos hebreus, o sangue de Cristo nos salva
da morte espiritual e da escravidão do pecado.
Portanto, a ressurreição de Jesus aconteceu na data em que os judeus
celebravam a libertação do Egito — mas agora, toda a humanidade pode
celebrar a libertação do pecado e da morte eterna por meio da cruz e do
túmulo vazio.
“Sabemos
que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado
seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos.” (Romanos 6:6)
“Se,
pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36)
Essa é a verdadeira Páscoa dos cristãos: a celebração da nova
vida em Cristo. Não se trata de coelhos, ovos ou símbolos vazios, mas de um
evento que mudou o curso da história — e de nossas vidas: Jesus venceu a
morte, e por isso temos vida!
Que nesta Páscoa, possamos ir além das fábulas modernas e retornar à
essência da fé. Que possamos ensinar nossos filhos,
familiares e amigos que o verdadeiro sentido da Páscoa está em Jesus — o
Cordeiro que foi morto, mas ressuscitou gloriosamente ao terceiro dia.
“Porque
Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado.” (1 Coríntios 5:7)
“Ele
não está aqui, mas ressuscitou.” (Lucas 24:6)
Aleluia! Cristo vive — e, por Ele, nós também viveremos!
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