A preguiça, muitas vezes vista como algo simples ou até inofensivo, é tratada nas Escrituras como um perigo real, tanto na área material quanto na espiritual. A Palavra de Deus alerta que a negligência pode nos conduzir à ruína, à pobreza e também à estagnação na fé. Neste estudo, veremos como a preguiça afeta o corpo e o espírito, e como Deus nos chama à diligência e à vigilância.
A
Preguiça na Área Física: O Caminho da Negligência
O livro de Provérbios é um verdadeiro “prato cheio” quando se trata
do tema da preguiça. São várias as passagens que abordam esse comportamento:
a)
Provérbios 6:6-11
"Vai
ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio..."
A formiga é usada como exemplo de diligência e disciplina. Ela
trabalha mesmo sem supervisão, ou seja, não precisa de alguém que lhe diga o
que fazer ou quando fazer. Ela se antecipa às necessidades futuras. Em
contraste, o preguiçoso é caracterizado pelo sono excessivo, pela
procrastinação e pela falta de iniciativa. O resultado? Pobreza e escassez.
b)
Provérbios 24:30-34
"Passei
pelo campo do preguiçoso... tudo estava cheio de espinhos..."
Esse trecho mostra as consequências da preguiça contínua: decadência
e abandono. O campo do preguiçoso representa tudo o que é negligenciado por
falta de esforço, sejam responsabilidades familiares, profissionais ou sociais.
Vale lembrar que a Bíblia não condena o descanso, mas sim a preguiça
crônica, aquela que recusa o esforço necessário para suprir as próprias
necessidades ou contribuir com a sociedade.
c)
Provérbios 13:4
"O
preguiçoso deseja e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta."
O preguiçoso vive de sonhos, mas não realiza nada porque não age.
"O
desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam trabalhar. Todo o dia
cobiça, mas o justo dá e nada retém." Provérbios 21:25-26
O preguiçoso sofre por aquilo que deseja, mas não se dispõe a
trabalhar para alcançar. Enquanto isso, o justo, por sua diligência, tem o
suficiente para dar com generosidade.
d)
Provérbios 10:4
"O
que trabalha com mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a
enriquecer-se."
Mão remissa significa mãos frouxas, relaxadas, preguiçosas. Esse
tipo de atitude conduz à pobreza. Em contraste, o diligente é alguém esforçado,
dedicado, determinado e disciplinado. Suas mãos o enriquecem. Em outras
palavras, quem deseja prosperar deve trabalhar com empenho.
e)
Provérbios 15:19
"O
caminho do preguiçoso é como que cercado de espinhos, mas a vereda dos retos é
plana."
Para o preguiçoso, a vida é cheia de dificuldades, pois ele vê
obstáculos em tudo. Para os retos, que agem com responsabilidade e integridade,
o caminho é mais leve.
f)
Provérbios 19:15
"A
preguiça faz cair em profundo sono, e o ocioso vem a padecer fome."
A preguiça provoca apatia e cansaço mesmo sem esforço. E a
inatividade prolongada leva à pobreza e à necessidade.
g)
Eclesiastes 10:18
"Pela
muita preguiça desaba o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa."
Mesmo uma preguiça moderada pode causar transtornos, como as
goteiras de uma casa malcuidada. Mas a preguiça extrema resulta em desastres
maiores, como o desabamento do teto. Esse versículo mostra que a negligência
crescente traz prejuízos cada vez mais graves.
h) 2
Tessalonicenses 3:10
"Porque,
quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também
não coma."
Aqui, o recado é direto à igreja e suas práticas de assistência: os
recursos devem ser destinados àqueles que realmente precisam, e não aos que se
recusam a trabalhar. Quem não quer trabalhar já escolheu sua recompensa: se não
trabalha, também não coma.
2. A
Preguiça Espiritual: A Mornidão que Adoece a Alma
Alguém morno na fé, ou seja, que não é nem quente nem frio, é alguém
com preguiça espiritual. É possível que a pessoa seja muito diligente no
trabalho, nas atividades físicas e na rotina diária, mas, ao mesmo tempo, seja
espiritualmente negligente. A Bíblia nos orienta a sermos diligentes principalmente
na fé, fervorosos e não mornos.
Romanos
12:11
"No
zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao
Senhor."
Devemos servir ao Senhor com o coração fervoroso, cheios de
entusiasmo, e não de forma remissa, isto é, negligente, relaxada e preguiçosa.
Hebreus
6:11-12
"Desejamos,
porém, continue cada um de vós mostrando até o fim a mesma diligência para a
plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores
dos que, pela fé e longanimidade, herdam as promessas."
Deus nos chama à diligência espiritual. A indolência aqui refere-se
ao desânimo e à apatia diante das coisas de Deus. Quando nos tornamos passivos
em relação à oração, à leitura da Palavra e ao serviço cristão, nosso espírito
enfraquece.
Apocalipse
3:15-16
"Conheço
as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da
minha boca."
A mornidão espiritual é uma forma de preguiça. Não se trata de uma
oposição direta a Deus, mas de ausência de paixão por Ele. É o estado de quem
vive no piloto automático da fé, sem fervor, sem compromisso, sem profundidade.
Romanos
13:11
"...já
é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora mais
perto do que quando no princípio cremos."
Há um chamado urgente nas Escrituras: despertar! O tempo é curto, e
nossa vida espiritual exige vigilância constante. Não podemos dormir
espiritualmente enquanto o tempo se esgota.
1
Timóteo 4:13-15
"Até
à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. [...] Medita
estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja
manifesto.”
Devemos ser diligentes e não preguiçosos no estudo das Escrituras.
Timóteo, como pastor, foi orientado por Paulo a se dedicar à leitura, à
exortação e ao ensino. Mas essa exortação vale também para todo cristão. Não
somos todos pastores ou bispos, mas cada crente deve ser diligente na leitura
da Bíblia para crescer espiritualmente e não ser enganado por falsos mestres.
Como
fugir da preguiça
A resposta é simples: não ficar parado. Acredito que você não queira
ouvir essa resposta, pois ela parece ser genérica. Seria o mesmo que dizer que,
para ter saúde, basta não ficar doente. Embora seja uma afirmação correta, é
preciso aprofundar um pouco mais.
Estudos comprovam que, quanto mais tempo ficamos parados ou
inativos, mais difícil se torna iniciar uma atividade. Quando passamos muito
tempo na frente da TV, deitados ou mesmo sentados com o corpo parado e a mente
distraída, torna-se extremamente difícil iniciar qualquer atividade. Isso
ocorre porque nem sempre fazemos algo porque estamos motivados; muitas vezes, a
motivação surge exatamente porque estamos em movimento. A física já explica
isso: "toda ação gera uma reação". Portanto, não espere "ficar
com vontade para fazer"; apenas faça, e a vontade virá com o movimento.
Existe uma regra por aí que diz: "apenas comece". Isso
porque, muitas vezes, não iniciamos uma tarefa por parecer algo grande ou
difícil demais. Mas o segredo é justamente começar. Existe também a chamada
regra dos "5 minutos": se você estiver com preguiça ou sem
disposição, apenas comece e faça por pelo menos 5 minutos. Após esse início, o
cérebro "engata" no ritmo e prossegue com mais facilidade.
Mas isso não se trata apenas de ditados populares ou estudos
científicos. A Bíblia já nos alerta sobre o problema da inatividade:
Provérbios
20:4 (RA): "O preguiçoso não lavrará por causa do inverno; pelo
que, na sega, buscará e nada encontrará."
Aqui, o preguiçoso evita iniciar por achar o momento desconfortável,
e o resultado é prejuízo. Ou seja, quem espera "sentir vontade" antes
de agir colhe a escassez. O preguiçoso encontra boas desculpas para não
trabalhar, mas, na época da colheita, de nada adianta procurar, pois nada
encontrará.
Eclesiastes
11:4 (RA): "Quem observa o vento nunca semeará, e o que olha
para as nuvens nunca segará."
Ficar esperando a "condição ideal" para começar leva à
paralisia. Deus nos ensina a agir com fé e iniciativa, não apenas quando há
motivação, mas quando é o tempo de fazer.
Provérbios
14:23 (RA): "Em todo trabalho há proveito; meras
palavras, porém, levam à penúria."
O início do trabalho, mesmo que pequeno, traz proveito. O discurso
vazio, a intenção sem ação, o apenas falar e não agir, não leva a lugar algum (
Provérbios
13:4; 21:25-26).
O mesmo vale para a vida espiritual: muitas vezes, não sentimos
vontade de orar, ler a Bíblia ou servir. Mas, se apenas começarmos, o Espírito
Santo nos renova no caminho. Como diz Filipenses 2:13:
"Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo
a sua boa vontade."
Outra forma de evitar sermos dominados pela preguiça é não se
distrair. A distração cria uma zona de conforto e tira nosso foco daquilo que
realmente importa. Hoje, algumas das principais causas de distração são redes
sociais, vídeos curtos, jogos e até mesmo conversas fúteis. Esse tipo de
conteúdo dá ao nosso cérebro uma recompensa imediata: uma sensação de
satisfação sem esforço algum. Com isso, o cérebro passa a buscar mais e mais
esse tipo de dopamina fácil, nos deixando estagnados, desmotivados e sem disposição
para iniciar tarefas significativas.
Nosso cérebro se acostuma a esses estímulos rápidos e começa a
rejeitar tarefas que exigem esforço contínuo, como trabalho, estudo ou mesmo
oração. Cada vez que você se distrai, é necessário um tempo para "voltar
aos trilhos". Se as distrações são constantes, você nunca alcança a
profundidade de foco que permite progresso real. Distrações frequentes fazem
sua mente operar de forma superficial. Quanto mais fragmentado o foco, mais
preguiça e desânimo você sentirá ao tentar realizar algo que exija concentração.
A Bíblia não usa a palavra "distração" como usamos hoje,
mas alerta contra a divisão do coração, a ansiedade pelas muitas coisas e o
espírito inquieto, que são equivalentes:
Lucas
10:40-42 (RA): "Marta, porém, andava distraída em muitos
serviços... Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada."
Marta estava ocupada demais com o que não era essencial. Naquele
momento, a distração era o trabalho, os afazeres domésticos. Mesmo um trabalho
digno não é mais importante do que um momento com Jesus. A distração a impedia
de perceber o valor daquele momento.
Eclesiastes
5:1 (RA): "Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus;
chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos..."
Ouvir exige atenção. Mas o sacrifício vazio, sem foco e sem coração,
é rejeitado por Deus. Se você está indo a uma igreja para cultuar a Deus, ouça
com atenção a palavra que está sendo pregada. Para Deus, mais importante é
ouvir com o coração aberto do que ofertar de maneira errada e desobedecer à sua
vontade.
2
Timóteo 2:4 (RA): "Nenhum soldado em serviço se embaraça
com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a
guerra."
Essa passagem reforça que o cristão está em missão constante, como
um soldado de Cristo. Ele não pode se dar ao luxo de viver distraído ou preso
às ocupações deste mundo que desviam seu foco. "Embaraçar-se"
significa envolver-se em distrações, excessos e cuidados terrenos que impedem a
prontidão espiritual e o avanço da missão confiada por Deus.
Essa missão inclui:
- Permanecer
firmes na fé, com a armadura de Deus (Efésios 6:10-18);
- Anunciar
o evangelho e fazer discípulos (Mateus 28:19-20);
- Viver
de modo santo e irrepreensível, agradando ao Senhor que nos alistou (1
Tessalonicenses 4:1).
Portanto, manter o coração livre de embaraços e o olhar fixo em
Jesus (Hebreus
12:2) é essencial para permanecer útil e ativo no
serviço espiritual. Distrações constantes, sejam elas físicas, emocionais ou
digitais, são como laços que nos tiram de combate. O bom soldado não negocia
sua missão.
Aplicação
prática
Assim como a preguiça física conduz à pobreza e à ruína, a preguiça
espiritual leva à esterilidade da fé e ao afastamento gradual de Deus. Um
cristão apático não cresce, não frutifica e corre o risco de desviar-se da
verdade sem sequer perceber.
Apocalipse
3:15-16 (RA):
“Conheço
as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da
minha boca.”
Essa forte repreensão revela o quanto Deus rejeita a indiferença
espiritual. A mornidão representa uma vida cristã sem compromisso genuíno,
acomodada, sem fervor, sem arrependimento e sem frutos. Cristo prefere uma
postura definida: ou arrependimento sincero e zelo fervoroso (quente), ou uma
rejeição clara da fé (frio). A neutralidade é intolerável no Reino de Deus.
Diante disso, seguem algumas orientações práticas para evitar sermos
dominados pela preguiça espiritual e pela apatia:
a.
Evite começar o dia com distrações
Ao acordar e imediatamente acessar redes sociais, você condiciona
seu cérebro a buscar recompensas fáceis. Isso compromete sua atenção e energia
ao longo de todo o dia. Comece o dia com sobriedade, oração e foco.
b.
Estabeleça tempos de foco real
Separe blocos de tempo (comece com 15 a 30 minutos) para se
concentrar sem distrações, sem celular por perto. Isso treina a mente para
resistir à dispersão e ao imediatismo.
c. Ore
pedindo atenção e sobriedade
Distrações nem sempre são pecaminosas em si, mas podem se tornar
laços invisíveis que nos afastam da produtividade e, sobretudo, da comunhão com
Deus. A oração nos ajuda a discernir o que realmente importa.
d.
Organize sua rotina com propósito
Não viva por impulso ou no improviso. Planeje momentos específicos
para trabalhar com excelência e buscar a Deus com seriedade. Uma vida
intencional é uma vida frutífera.
e.
Lute contra a procrastinação espiritual
Leia a Bíblia mesmo quando não sentir vontade. Ore mesmo quando
parecer difícil. O crescimento espiritual exige disciplina antes do prazer.
“Sede
sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão
que ruge, procurando alguém para devorar.” 1 Pedro 5:8 (RA):
O alerta é claro: descuido e distração abrem brechas para o inimigo.
Vigilância e sobriedade são armas contra a preguiça espiritual.