sexta-feira, 18 de abril de 2025

PÁSCOA: ENTRE A VERDADE DA CRUZ E O MITO DO COELHO

O que realmente estamos celebrando na Páscoa? Será que se resume apenas à troca de ovos de chocolate supostamente entregues por um "coelho mágico"? Ou será que estamos deixando de lado o verdadeiro significado dessa data, assim como aconteceu com o Natal, que também foi deturpado por elementos comerciais e fantasiosos?

A ORIGEM DA FANTASIA

A ideia de que coelhos podem pôr ovos — e ainda por cima ovos de chocolate — é, na verdade, o resultado de uma mistura de diversas tradições de culturas antigas, que com o passar dos séculos foram se fundindo e formando o que hoje conhecemos como a “Páscoa moderna”. Essa construção cultural lembra até mesmo um “Frankenstein”, no sentido de algo feito com pedaços de várias partes desconexas.

O COELHO E A DEUSA DA FERTILIDADE

O coelho — ou melhor, a lebre — era um símbolo muito comum em rituais antigos praticados por povos que não seguiam o cristianismo, chamados pagãos. Entre esses povos estavam os germânicos (que viviam onde hoje é a Alemanha e arredores) e os anglo-saxões (povos que viviam na região onde hoje é a Inglaterra). Segundo Beda, o Venerável, historiador do século VIII, a lebre estaria associada a uma deusa germânica da fertilidade chamada Ēostre, que representava a fertilidade e a primavera. Ela era celebrada na época do equinócio da primavera, quando o dia e a noite têm a mesma duração. A lebre se tornou símbolo da fertilidade por ser um animal que se reproduz com muita facilidade.

O OVO COMO SÍMBOLO

O ovo, por sua vez, sempre foi um símbolo de fertilidade e de renovação da vida em várias culturas. Entre os persas e egípcios antigos, por exemplo, os ovos eram trocados durante a primavera como símbolo da criação e do renascimento. Em algumas tradições cristãs orientais, os ovos eram tingidos de vermelho para simbolizar o sangue de Cristo e trocados entre os fiéis como saudação pascal.

Durante a Idade Média, cristãos passaram a abster-se de ovos durante a Quaresma, e quando a Páscoa chegava, os ovos eram novamente consumidos e oferecidos como presentes, simbolizando o fim do jejum e a celebração da ressurreição de Cristo.

A CHEGADA DO CHOCOLATE

Somente nos séculos XVIII e XIX, especialmente na França e na Alemanha, os confeiteiros começaram a fabricar ovos ocos de chocolate, combinando o símbolo tradicional do ovo com a popularização do doce trazido das Américas no século XVI. A prática ganhou força com o tempo, especialmente na França e Alemanha, como uma forma de unir o simbolismo do ovo com algo mais atrativo e doce.

O COELHO QUE BOTA OVOS?

A história do “coelho que bota ovos” parece surgir de tradições alemãs, especialmente entre luteranos do século XVII, que falavam do “Osterhase”, uma lebre mítica que colocava ovos coloridos para as crianças bem-comportadas. Os imigrantes alemães levaram essa tradição para os Estados Unidos, onde ela foi ganhando força e, com o tempo, se tornou popular também em outros países — muito incentivada, é claro, pelo comércio.

Hoje, não só os ovos são feitos de chocolate, como os próprios coelhos também (risos). A indústria alimentícia e o comércio viram nessa mistura simbólica uma oportunidade perfeita para vender produtos temáticos na Páscoa, o que colaborou ainda mais para o afastamento do verdadeiro significado da data.

ENTÃO, O QUE SIGNIFICA PRESENTEAR COM OVOS NA PÁSCOA?

Originalmente, o ato de presentear com ovos representava o renascimento, a fertilidade e a esperança de uma nova vida. Com o tempo, esse gesto foi sendo ressignificado para os cristãos como um símbolo da ressurreição de Jesus Cristo, que venceu a morte e trouxe nova vida a todos os que nele creem (João 11:25; 1 Pedro 1:3).

Entretanto, é importante lembrar que a verdadeira Páscoa cristã não tem relação com coelhos, ovos ou chocolate. Ela é a celebração da morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29), conforme tipificado na Páscoa judaica (Êxodo 12), quando os hebreus foram libertos da escravidão do Egito.

Mas... o que isso tem a ver com a fé cristã?

Nada. Absolutamente nada.

Esse é um exemplo claro do que a Bíblia chama de “fábulas” — histórias inventadas, simbologias vazias e tradições humanas que desviam o foco da verdade do evangelho. O apóstolo Paulo fez alertas firmes quanto a isso:

“Não se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que mais promovem discussões do que o serviço de Deus na fé.” (1Timóteo 1:4)

“Rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade.” (1Timóteo 4:7)

“Haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina, pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças... e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” (2Timóteo 4:3-4)

“...para que sejam sadios na fé e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade.” (Tito 1:13-14)

FÁBULAS MODERNAS QUE DISTORCEM A VERDADE

As “fábulas” que Paulo combate em suas cartas são, essencialmente, ensinos que desviam do foco da verdade do evangelho — não importando se vêm do judaísmo, do paganismo ou da criatividade humana. Elas geralmente:

• São curiosas, mas inúteis espiritualmente;

• Geram mais discussões do que edificação;

• Tiraram o foco de Cristo e colocam o foco em tradições ou experiências.

Então, quando falamos de “coelhos que botam ovos de chocolate na Páscoa”, por exemplo, estamos exatamente diante de uma “fábula moderna”: uma construção fantasiosa que não edifica, não é verdadeira, e ainda desvia completamente a atenção da ressurreição de Cristo — o verdadeiro motivo da celebração.

Na mesma data em que este estudo estava sendo redigido, a Prefeitura de Pouso Alegre, por meio do Informativo nº 015/2025 (acesse o documento aqui), direcionado a professores e gestores escolares, orientou expressamente que as atividades de Páscoa nas escolas não devem fazer qualquer referência direta à crucificação, ressurreição ou a elementos litúrgicos da fé cristã. O documento afirma que esses conteúdos pertencem à religiosidade particular e, por isso, devem ser evitados nas escolas públicas.

Em seu lugar, sugere-se o uso de símbolos lúdicos como coelhos, ovos, cores e brincadeiras — todos desvinculados de qualquer significado espiritual — para estimular a imaginação e a ludicidade das crianças, promovendo valores “universais” como solidariedade, partilha e respeito. O foco, segundo o documento, é transformar a Páscoa em uma ocasião puramente cultural e pedagógica, sem qualquer associação com Jesus Cristo ou com a fé cristã, que é a raiz histórica da data.

Isso escancara uma tendência moderna e institucionalizada de substituir a verdade espiritual por tradições vazias, sem qualquer ligação com Deus ou com o evangelho. A tentativa de manter a “tradição da Páscoa”, mas sem Cristo, é justamente o que Paulo alertou em suas cartas: fábulas que afastam o coração da verdade e criam um cenário onde o essencial é ignorado em favor do superficial (1 Timóteo 1:4; 2 Timóteo 4:4).

A celebração da ressurreição de Jesus não deve ser substituída por personagens fictícios ou por valores diluídos. Se Cristo não está no centro, então não há Páscoa verdadeira.

O VERDADEIRO SENTIDO DA PÁSCOA

Cristo é a nossa verdadeira Páscoa (1 Coríntios 5:7), e o maior presente que podemos celebrar é a vida eterna que temos nele. A alegria da ressurreição vai muito além de tradições e símbolos culturais — ela é uma realidade espiritual que transforma o coração.

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (João 11:25)

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” (1 Pedro 1:3)

Portanto, que nesta Páscoa, possamos lembrar e proclamar com fé e gratidão: Cristo ressuscitou! Ele vive, e por isso vivemos também.

A ORIGEM DA PÁSCOA

Muitos cristãos afirmam, com razão, que na Páscoa celebramos a ressurreição de Jesus Cristo. Essa é, de fato, a perspectiva cristã da Páscoa. No entanto, é importante compreender que a Páscoa já era celebrada muito antes da crucificação e ressurreição de Jesus. Ele mesmo celebrou a Páscoa com seus discípulos antes de ser entregue à morte (Lucas 22:7-20).

A Páscoa tem suas raízes no Antigo Testamento. Era uma celebração ordenada por Deus ao povo de Israel em memória de sua libertação do Egito, onde foram escravizados por cerca de 400 anos (Êxodo 12:40-41). Quando Deus chamou Moisés para libertar os israelitas (Êxodo 3), o faraó resistiu, e Deus enviou uma série de pragas sobre o Egito. A última delas seria a morte dos primogênitos (Êxodo 11).

Foi então que Deus deu uma orientação decisiva: cada família israelita deveria sacrificar um cordeiro e marcar com o sangue as ombreiras e a verga das portas. Ao ver o sangue, o anjo da morte "passaria por cima" da casa — e assim os primogênitos seriam poupados (Êxodo 12:1-30). A palavra "Páscoa" vem justamente do hebraico Pessach, que significa "passar por cima".

Essa noite marcou o início da libertação do povo, que sairia do Egito rumo à Terra Prometida. A partir de então, a Páscoa foi instituída como uma celebração anual de memória e gratidão pela salvação concedida por Deus (Êxodo 12:14; Levítico 23:4-5).

CRISTO: NOSSA PÁSCOA

Jesus Cristo foi crucificado exatamente durante o período da Páscoa judaica (Mateus 26:2), e isso não é uma coincidência. Ele é o verdadeiro Cordeiro de Deus, aquele cujo sangue nos livra da condenação eterna (João 1:29; 1 Coríntios 5:7). Assim como o sangue do cordeiro poupou os lares dos hebreus, o sangue de Cristo nos salva da morte espiritual e da escravidão do pecado.

Portanto, a ressurreição de Jesus aconteceu na data em que os judeus celebravam a libertação do Egito — mas agora, toda a humanidade pode celebrar a libertação do pecado e da morte eterna por meio da cruz e do túmulo vazio.

“Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos.” (Romanos 6:6)

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36)

Essa é a verdadeira Páscoa dos cristãos: a celebração da nova vida em Cristo. Não se trata de coelhos, ovos ou símbolos vazios, mas de um evento que mudou o curso da história — e de nossas vidas: Jesus venceu a morte, e por isso temos vida!

Que nesta Páscoa, possamos ir além das fábulas modernas e retornar à essência da fé. Que possamos ensinar nossos filhos, familiares e amigos que o verdadeiro sentido da Páscoa está em Jesus — o Cordeiro que foi morto, mas ressuscitou gloriosamente ao terceiro dia.

“Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado.” (1 Coríntios 5:7)

“Ele não está aqui, mas ressuscitou.” (Lucas 24:6)

Aleluia! Cristo vive — e, por Ele, nós também viveremos!

terça-feira, 15 de abril de 2025

A SEMANA DA PÁSCOA: O QUE É TRADIÇÃO E O QUE É ESCRITURA?

Para os católicos, a Semana Santa inicia-se no domingo anterior à Páscoa, ou seja, 7 dias antes de sua ressurreição (Mateus 28:1; Marcos 16:2; Lucas 24:1; João 20:1). Nesse primeiro domingo, celebram o Domingo de Ramos, celebrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém ( Mateus 21:1-11; Marcos 11:1-11; Lucas 19:28-44; João 12:12-19).

“1 ¶ Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: 2  Ide à aldeia que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta e, com ela, um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos. 3  E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviará. 4  Ora, isto aconteceu para se cumprir o que foi dito por intermédio do profeta: 5  Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga. 6  Indo os discípulos e tendo feito como Jesus lhes ordenara, 7  trouxeram a jumenta e o jumentinho. Então, puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elas Jesus montou. 8  E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada. 9  E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! 10  E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, e perguntavam: Quem é este? 11  E as multidões clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia!” (Mateus 21:1-11 RA)

Aqueles ramos que vemos os católicos carregarem são em referência a essa passagem (João 12:13), aqueles tapetes gigantes feitos com serragem colorida de madeira também são em referência a essa passagem em que as pessoas espalhavam suas vestes e ramos das árvores pela estrada para que Jesus passasse por ela (Mateus 21:8).

O clamor que as pessoas faziam: HOSANA, trata-se de uma palavra hebraica, é uma interjeição que pode ser traduzida como "Salva, por favor!" ou "Salva-nos agora!" (Mateus 21:9). É uma expressão de súplica, um pedido por ajuda ou livramento, que foi direcionado a Jesus Cristo, mostrando que aquelas pessoas sabiam que Ele, Jesus, aquele que estava montado em um jumentinho, era o Senhor e Salvador de todos (João 12:13).

A Igreja Católica tem tradições religiosas durante toda essa semana, apesar de não ser possível encontrar na Bíblia esses eventos de forma cronológica de maneira exata, eles celebram a segunda-feira santa como sendo o dia em que Jesus expulsa os vendedores do templo (João 2:13-22). Terça-feira santa é vista como o dia em que Jesus é confrontado pelos líderes do templo pela sua atitude no dia anterior (Mateus 21:23-27). Na quarta-feira santa, destaca-se a traição de Judas (Mateus 26:14-16), a conspiração dos mestres da lei contra Jesus (Mateus 26:3-4), e também a preparação de Jesus a seus discípulos para os dias que viriam, incluindo sua prisão, julgamento e crucificação (Mateus 26:17-75).

Na quinta-feira santa, esse sendo um dos dias mais importantes antes da morte dEle, os católicos celebram a última ceia de Jesus, onde ele parte o pão e o cálice e pede aos apóstolos que façam isso em memória dEle (Lucas 22:19-20). Os católicos acreditam que na Eucaristia, o pão e o vinho se tornam o corpo e o sangue de Cristo, e é um sacramento central da fé católica (1 Coríntios 10:16).

Nesse dia também, algumas lideranças católicas celebram o LAVA-PÉS, simbolizando a humildade e amor ao próximo, onde uma pessoa lava os pés de outras 12 pessoas simulando o que Jesus fez naquela mesma noite (João 13:1-17).

Sexta-feira Santa, Este é o dia da Paixão do Senhor, um dia de jejum e penitência em que se recorda a crucificação de Jesus (Mateus 27:32-56). Na Sexta-feira Santa, especificamente, os católicos são encorajados a observar um jejum rigoroso. Não se deve tomar café da manhã e deve-se evitar qualquer tipo de prazer, incluindo namoro. Além disso, não se deve beber cerveja, cachaça ou qualquer bebida alcoólica. O vinho é a única bebida permitida.

Sábado Santo, também conhecido como Sábado de Aleluia, é um dia de oração e expectativa, marcando a vigília pascal, uma das celebrações mais significativas no calendário litúrgico dos católicos. É um momento de espera simbolizando a descida de nosso Senhor e Salvador ao mundo dos mortos, onde Ele venceu o poder da morte ao ressuscitar e libertar os cativos (Apocalipse 1:17-18, Colossenses 2:15, Efésios 4:8-10).

Finalmente então, no domingo de Páscoa, celebra-se a Ressurreição de nosso Salvador Jesus Cristo, o dia mais importante de todos, pois foi nesse dia que ele venceu a morte e agora vivo pode nos dar a mesma vida (Mateus 28:6; Marcos 16:6; Lucas 24:6; João 20:9, João 11:25).

Todas essas tradições acima descritas são originais e praticadas pela Igreja Católica. A maioria delas, porém, não é adotada pelas igrejas protestantes. Os protestantes surgiram no século XVI, com a Reforma iniciada por Martinho Lutero. O termo "protestante" passou a ser usado para identificar aqueles que se opunham a determinadas práticas e doutrinas da Igreja Católica que consideravam contrárias às Escrituras Sagradas — como a venda de indulgências e a idolatria. Os reformadores denunciaram a deturpação da mensagem do Evangelho provocada por essas práticas, reafirmando a centralidade da adoração exclusiva a Deus e a salvação pela graça, mediante a fé em Cristo. Esses princípios permanecem essenciais para as igrejas evangélicas até os dias de hoje.

Mas não é por isso que tudo o que a Igreja Católica pratica está errado. Um exemplo é a Ceia do Senhor, que é uma prática baseada na passagem bíblica em Lucas 22:19-20, onde Jesus pediu aos apóstolos para realizarem em Sua memória, e eles continuaram a fazê-lo, conforme registrado nos Atos dos Apóstolos 2:42, 1 Coríntios 11:23-26, 1 Coríntios 10:16-17. Inclusive os protestantes também praticam essa Ceia em memória de Jesus.

Mas algumas tradições são exclusivas dos católicos, estabelecidas pelos Papas, como a questão de se abster-se de carne na semana santa, não há referência bíblica para isso.

Vejo frequentemente a prática da piedade sendo confundida com "tristeza" no dia em que Jesus morreu na cruz. É claro que ninguém, nem mesmo Deus, celebra a morte de seu próprio filho. No entanto, Ele não está morto; Ele ressuscitou (1 Coríntios 15:3-4), e essa morte foi essencial para a nossa salvação (Romanos 5:8).

Alegria! Pode até parecer que devemos ficar tristes com a morte de Jesus, mas Ele morreu para que tenhamos alegria. Ele sabia de tudo, não foi traído, pois já sabia e escolheu o que o trairia (João 13:11). Não foi morto, pois Ele se entregou (João 10:18). Ninguém poderia impedir o que Jesus veio fazer. Pedro até tentou convencê-Lo, mas foi duramente advertido e ainda chamado de Satanás (Mateus 16:23), pois o plano, apesar de ter tido um desfecho horrível, foi necessário para nos dar vida.

segunda-feira, 10 de março de 2025

O MUNDO REJEITA O CRISTÃO

Essa afirmação pode parecer difícil para aqueles que acreditam que o amor de Deus une a todos e, por isso, o mundo o aceitaria. No entanto, quando vivemos no verdadeiro amor de Deus e na verdade do evangelho, percebemos que aqueles que não compartilham da fé cristã tendem a nos rejeitar. Essa rejeição não ocorre de forma externa apenas, mas é sentida no convívio diário.

Muitos recém-convertidos notam que seus amigos ou círculo social começam a tratá-los com indiferença, desprezo ou até mesmo deboche pelo fato de terem aceitado Jesus como Senhor de suas vidas. Contudo, essa experiência não é exclusiva de alguns cristãos, mas algo que todos enfrentam em algum momento, pois aqueles que vivem distantes da verdade tendem a rejeitar aqueles que pertencem a Cristo.

Jesus já nos alertava sobre isso:

"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim" (João 15:18-20).

O apóstolo João também reforça essa realidade: "Não vos maravilheis, irmãos, se o mundo vos odeia" (1 João 3:13).

O próprio Cristo foi rejeitado, e não falo do fato de terem “cancelado” ele, não me refiro a rejeição que fizeram ao condenarem a cruz, falo da rejeição que teve até por sua própria família e conterrâneos (Marcos 6:1-6, Marcos 3:21, João 7:5). Portanto, essa rejeição que sofremos não deve nos surpreender, mas sim nos fortalecer na fé, pois é um sinal de que seguimos os passos de Cristo.

A luz incomoda as trevas

A vida de quem segue a Cristo muitas vezes expõe o pecado dos outros, o que pode causar desconforto. Aquele que vive na mentira foge da luz para que ela não revele o mal que pratica; já aqueles que vivem na verdade procuram a luz para que seja visto claramente que suas ações são feitas de acordo com a vontade de Deus (João 3:19-21).

Quando um crente vive conforme a Palavra, aqueles que não querem mudar se afastam, debocham e o insultam (1 Pedro 4:3-4).

O exemplo de Noé deixa isso claro: ele viveu praticamente sem amigos ou parentes, contando apenas com sua família, pois o mundo se afastava dele. Isso não significa que Noé se afastava do mundo, pois ele pregava sobre a justiça de Deus, mas ninguém além de sua família o ouviu (2 Pedro 2:5).

Jesus avisou que sua vinda seria em um momento em que o mundo estivesse vivendo como nos dias de Noé (Mateus 24:37-39). Portanto, não devemos nos desanimar se estivermos na contramão do que o mundo pratica, mas, sim, permanecer esperançosos, pois estamos no caminho correto, assim como Noé estava.

Sua fé e obediência a Deus o separaram do mundo.

Isso não significa que devemos morar no mato, isolados de todos, ou que não devemos mais receber visitas e visitar nossos parentes. Pelo contrário, não devemos nos isolar. Mesmo enfrentando rejeição, somos chamados a amar e testemunhar (Mateus 5:14-16).

O apóstolo Paulo procurava estar com todos, não se comportando pecaminosamente, mas adaptando-se, no que dizia respeito à fé, àqueles que estavam ao seu redor, sem comprometer sua fidelidade a Deus:

“Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.” (1 Coríntios 9:22 RA).

Paulo não estava sugerindo que se comportava de maneira pecaminosa ou hipócrita para agradar diferentes grupos de pessoas. Pelo contrário, ele se adaptava culturalmente a cada contexto para facilitar a pregação do evangelho, sem comprometer sua fé ou seus princípios cristãos.

Com os judeusEle seguia costumes judaicos para não causar escândalo entre eles, como vemos em Atos 16:3, onde circuncidou Timóteo para facilitar a pregação entre os judeus. Também em Atos 21:23-26, ele participou de um ritual no templo para mostrar respeito à Lei.

Com os gentiosEle não os obrigava a seguir tradições judaicas, como vemos em Gálatas 2:3-5. Em Atos 17:22-31, no discurso em Atenas, Paulo usa referências culturais e filosóficas gregas para apresentar o evangelho.

Com os fracos na féEle evitava fazer algo que escandalizasse aqueles que tinham uma consciência mais sensível, como em 1 Coríntios 8:13, onde diz que, se comer carne levasse alguém a tropeçar, ele preferia nunca mais comer carne.

Nesse mesmo contexto, quando estivermos reunidos com parentes e amigos que não são cristãos, podemos agir da seguinte forma:

I-  Manter o Respeito e o Amor

Mesmo que tenham valores ou comportamentos diferentes, é importante evitar julgamentos severos e agir com paciência e compaixão (Colossenses 4:5-6).

II-  Evitar Polêmicas Desnecessárias

Nem toda conversa precisa virar um debate sobre fé. Paulo sabia quando era o momento certo de falar e quando era melhor apenas demonstrar o evangelho pelo comportamento (1 Tessalonicenses 4:11-12). Se surgirem discussões sobre religião, devemos falar com sabedoria e mansidão, sem tentar impor nossa fé (2 Timóteo 2:24-25).

III-  Participar do Convívio Sem Comprometer a Fé

Assim como Paulo participava dos costumes judaicos sem abrir mão da verdade do evangelho, nós também podemos participar de eventos familiares, festas ou encontros sem nos envolvermos em práticas que vão contra nossa fé. Por exemplo, estar presente em um almoço de família é algo positivo, mas isso não significa que devemos participar de conversas ou comportamentos que desagradam a Deus.

IV-  Ser Exemplo Através das Atitudes

O testemunho cristão no dia a dia fala mais alto do que palavras. Se a família vê paciência, bondade, humildade e honestidade em nossa vida, isso causa impacto (Mateus 5:16). Pequenas atitudes, como ajudar em casa, demonstrar gratidão e ser paciente em momentos de conflito, podem ser formas eficazes de evangelismo.

V-  Saber Quando Falar do Evangelho

Paulo sabia adaptar sua abordagem para cada grupo, e isso também se aplica ao falar de Cristo para familiares. Algumas pessoas podem estar abertas a ouvir sobre Deus, enquanto outras rejeitam de imediato. Orar por discernimento e aguardar o momento certo é essencial (1 Pedro 3:15).

VI-  Não Ter Medo de Ser Diferente

Paulo se adaptava culturalmente para alcançar as pessoas, mas nunca comprometia sua fé. Da mesma forma, ao conviver com parentes não cristãos, podemos ser amigáveis e participativos sem sentir a necessidade de agir como eles para sermos aceitos. Muitas vezes, isso significa recusar certas conversas, comportamentos ou práticas que vão contra os princípios bíblicos, mesmo que isso nos torne diferentes. Permanecer firme na fé, com amor e respeito, é um testemunho poderoso e pode até despertar o interesse dos outros pelo evangelho.

Uma nova família na FÉ

Ainda que alguns se afastem, Deus nos dá uma nova família na fé (Marcos 10:29-30). Por isso, é importante termos comunhão não apenas com aqueles que não são cristãos, mas, principalmente, com a verdadeira família na fé, com aqueles que verdadeiramente são nossos irmãos e irmãs (Hebreus 10:24-25).

O desafio de perseverar

Não devemos nos conformar ao mundo para sermos aceitos (Romanos 12:2). O mundo pode nos pressionar a seguir suas normas, suas práticas e suas ideias, mas, como cristãos, somos chamados a viver de acordo com os padrões de Deus, que muitas vezes estão em desacordo com o que o mundo considera normal. Não devemos abrir mão de nossa fé ou de nossos valores para agradar aqueles que ainda vivem na mentira, pois, ao fazê-lo, comprometemos nosso testemunho e nossa integridade espiritual.

A aprovação de Deus deve ser nossa maior prioridade, pois sua aceitação é eterna e verdadeira, enquanto a aprovação dos homens é temporária e superficial (Gálatas 1:10). Somos chamados a agradar a Deus, não aos homens, sabendo que, ao buscarmos a Sua vontade, Ele nos conduzirá ao melhor caminho, mesmo que isso nos coloque em desacordo com o mundo ao nosso redor.

A jornada cristã, muitas vezes, envolve rejeição e desafios, como Jesus e os apóstolos experimentaram. No entanto, devemos permanecer firmes na fé, como Noé, sabendo que estamos no caminho certo, mesmo quando estamos em desacordo com o mundo. Somos chamados a ser luz sem nos isolarmos, demonstrando o amor de Cristo em nossas atitudes, como Paulo fez. A aprovação de Deus deve ser nossa prioridade, pois Ele nos oferece uma nova família na fé, que nos fortalece. Não devemos nos conformar aos padrões do mundo, mas seguir a vontade de Deus, com confiança de que Sua recompensa é eterna.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Na Lei Não Existe Misericórdia

A Lei de Deus, composta pelos Dez Mandamentos e cerca de 600 ordenanças, é uma manifestação de Sua santidade e perfeição. Contudo, a Lei, em si mesma, não oferece misericórdia. Ela revela o caráter santo de Deus e a incapacidade humana de atingir esse padrão sem o auxílio divino. Este estudo busca explorar como a Lei expõe a necessidade de salvação e aponta para Cristo como o único mediador entre Deus e os homens.

1. A Lei e Sua Função

A Lei foi dada para revelar a santidade de Deus e expor o pecado humano. Como Paulo afirma:

"Porquanto ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado" (Romanos 3:20, RA).

A Lei é santa, justa e boa (Romanos 7:12), mas ela não pode salvar. Em vez disso, ela funciona como um espelho que reflete a santidade de Deus e revela a pecaminosidade humana.

2. A Maldição da Lei

Viver debaixo da Lei significa estar sujeito à maldição, porque a transgressão de um único mandamento traz condenação:

"Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las" (Gálatas 3:10, RA).

"Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos" (Tiago 2:10, RA).

A gravidade do pecado e suas consequências são exemplificadas em Adão, cuja desobediência trouxe a maldição sobre toda a humanidade. Por um único pecado, a condenação entrou no mundo, causando toda a desgraça que vemos até hoje:

"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12, RA).

Esse mesmo princípio se aplica à redenção. Assim como um só pecado trouxe a condenação, um único ato de justiça em Cristo trouxe a salvação:

"Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos" (Romanos 5:19, RA).

Portanto, enquanto a Lei expõe a maldição gerada pelo pecado, ela também aponta para a necessidade de Cristo, cuja obediência perfeita trouxe vida e reconciliação a todos que creem:

"Pois, se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo" (Romanos 5:17, RA).

Isso demonstra que a Lei, embora santa e justa, não possui misericórdia. Ela apenas revela o quanto Deus é santo e o quanto o homem, sem a intervenção divina, está condenado.

3. A Necessidade de um Salvador

Desde a queda de Adão e Eva, o pecado separou a humanidade de Deus. A desobediência deles resultou em maldição e expulsão do paraíso (Gênesis 3:17-24). Essa condição revelou a necessidade de um Salvador prometido:

"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3:15, RA).

A Lei apontava continuamente para a vinda de Cristo, pois nenhum sacrifício ou esforço humano podia eliminar o pecado. O sistema sacrificial era uma sombra do que seria realizado na cruz (Hebreus 10:1-4).

4. A Graça e a Misericórdia em Cristo

Para ficarmos livres da maldição da lei, precisamos abandonar a antiga aliança e nos ligar à nova aliança, a Graça, pois não é possível andar nas duas alianças ao mesmo tempo:

“De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.” (Gálatas 5:4 RA)

Enquanto a Lei condena, Cristo trouxe a graça e a verdade:

"Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo" (João 1:17, RA).

Jesus cumpriu a Lei em nosso lugar e ofereceu-se como sacrifício perfeito, satisfazendo as exigências da justiça divina:

"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)" (Gálatas 3:13, RA).

Por meio de Sua obra na cruz, fomos libertos da condenação imposta pela Lei e reconciliados com Deus:

"Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8:1, RA).

5. A Vida Sob a Graça

Cristo nos chama a viver sob Sua autoridade, rejeitando o jugo da Lei como meio de justificação. Devemos andar no Espírito, que nos capacita a viver em obediência e amor a Deus:

"Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça" (Romanos 6:14... RA).

Conclusão

A Lei de Deus é perfeita, mas incapaz de salvar. Ela foi dada para expor a necessidade de um Salvador, que é Jesus Cristo. Nele encontramos a misericórdia e a graça que a Lei, por si só, não oferece. Por isso, somos chamados a viver sob a autoridade de Cristo, confiando na Sua obra redentora e no poder do Espírito Santo para nos transformar.

Reflexão Final: Você ainda vive sob o peso da condenação ou já se entregou à graça e misericórdia de Cristo? Aceite hoje o chamado para viver sob a autoridade d'Aquele que é o único capaz de nos salvar.

Textos Complementares para Estudo:

  • Êxodo 20:1-17 (Os Dez Mandamentos)
  • Romanos 7:7-25 (A luta contra o pecado sob a Lei)
  • Hebreus 10:1-18 (O sacrifício de Cristo e o fim dos sacrifícios da Lei)
  • Gálatas 5:1-6 (A liberdade em Cristo).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL E A INFLUÊNCIA FAMILIAR NA CAMINHADA CRISTÃ

Este estudo aborda um ponto chave: a individualidade da responsabilidade de cada um perante Deus. Por mais que possamos acreditar que alguma bênção ou maldição pode ser passada de geração para geração, assim como civilizações bíblicas antigas acreditavam, cada um é responsável pela sua própria salvação. A decisão de seguir ou não a Deus vem de cada indivíduo.

É verdade que uma criança muito bem assistida sobre quem é Deus terá maior facilidade de seguir o mesmo caminho de seus pais e não se desviar dele mesmo quando for velha, mas isso não é uma garantia. Este mandamento dado aos pais não assegura que os filhos seguirão a mesma fé. Neste estudo, abordaremos temas como responsabilidade individual diante de Deus, o impacto das escolhas dos pais sobre os filhos e exemplos bíblicos de famílias em que a fé foi um elemento central.

1. Ensinar o Caminho do Senhor aos Filhos

Em Provérbios 22:6, a Bíblia instrui:

"Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele" (Provérbios 22:6, RA).

Este versículo destaca a importância da educação espiritual desde cedo. Embora os filhos tenham livre-arbítrio, os pais são chamados a plantar sementes de fé que podem produzir frutos duradouros. A educação deve ser constante, incansável, prática e centrada na Palavra de Deus:

"Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais da tua casa e nas tuas portas" (Deuteronômio 6:6-9, RA).

Haverá um momento em que a criança bem instruída no caminho do Senhor irá questionar a fé, refletir e avaliar tudo o que aprendeu. Então, passará a caminhar não mais pela fé de seus pais, mas seguira por sua própria fé. Essa escolha será dela, pois os pais não podem tomar essa decisão por ela.

Este fato nos ensina a não julgar outras famílias cristãs que possuem filhos desviados da verdade, atribuindo-lhes falha na educação. Lembremos que a fé é pessoal e individual. Se, por algum motivo, alguns filhos escolherem um caminho diferente, essa será uma decisão deles.

Os pais devem cercá-los de todo o cuidado e repreensão possível, protegendo-os de ataques externos que possam moldar suas mentes, assim como de amizades e influências que possam desviá-los da verdade. Devem ensinar incessantemente a Palavra de Deus, mas, no fim, a decisão de seguir ou não a mesma fé dos pais ainda será dos filhos.

2. Fé que Impacta Toda a Casa

É verdade que a fé de uma pessoa pode trazer bênçãos para toda a sua família. Exemplos:

1.    O Centurião de Cafarnaum (Mateus 8:5-13; Lucas 7:1-10): Sua fé resultou na cura de seu servo.

2.    O Carcereiro de Filipos (Atos 16:25-34): Ao crer no Senhor Jesus, ele e toda a sua casa foram salvos e batizados.

Esses relatos mostram que a fé de um indivíduo pode ser um canal para a manifestação do poder de Deus na família. No entanto, é importante compreender que a fé e a salvação são pessoais e intransferíveis (Ezequiel 18:20).

Perceba que a fé do centurião trouxe cura ao seu servo doente, mas não garantiu a ele a sua salvação. Sua saúde física foi restaurada, mas não significa que a fé de seu patrão salvou também a sua alma. Esse servo, posteriormente, pode reconhecer o milagre e compreender a salvação pela fé em Jesus Cristo e teve a opção de aceitá-lo ou não como seu único e suficiente Salvador (Romanos 10:9). O mesmo ocorreu com o carcereiro de Filipos: ele não salvou sua família por sua própria fé, mas, através dele, todos foram alcançados, ouviram a mensagem do evangelho e decidiram crer em Cristo para serem salvos (João 1:12).

Isso também pode ser observado em uma família onde ninguém era cristão e o relacionamento com Deus era apenas superficial, baseado em regras e dogmas, sem uma verdadeira comunhão com o Deus da Bíblia. Mas então, uma pessoa dessa família tem um encontro real com o evangelho, busca e teme a Deus e recebe a revelação da salvação pela fé em Cristo Jesus. Seu relacionamento com Deus, sua caminhada com Jesus e seu estudo das Escrituras acabam influenciando sua família. Com o tempo, sua esposa também aceita Jesus como seu único e suficiente Salvador (Atos 2:38). Depois, seu cunhado e sua cunhada também aceitam, e, por fim, seus próprios pais reconhecem que Jesus é o único que pode salvar suas almas (João 14:6).

Assim, como aconteceu com o carcereiro de Filipos, a fé desse indivíduo impactou toda a sua casa. No entanto, é essencial entender que cada pessoa precisou confessar sua fé em Cristo e aceitá-lo como Salvador (Romanos 10:13). A salvação não ocorre por se beneficiar da fé de outro, mas pela decisão pessoal de crer naquele que se entregou na cruz para perdoar nossos pecados (Efésios 2:8-9).

3. Responsabilidade Individual Diante de Deus

A Bíblia é clara ao ensinar que cada pessoa será julgada por suas próprias ações. Em Ezequiel 18:20, Deus declara:

"A alma que pecar, essa morrerá. O filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele."

Essa mesma ideia é reforçada em Jeremias 31:29-30, corrigindo a crença de que filhos sofrem pelos pecados dos pais. Jesus também aborda a responsabilidade individual em João 9:1-3, ao refutar que a cegueira de um homem fosse resultado do pecado dele ou de seus pais.

Samuel foi um exemplo de uma criança obediente e dedicada ao Senhor. Desde cedo, serviu no tabernáculo, demonstrando respeito e compromisso com Deus (1 Samuel 2:18; 1 Samuel 3:1). Sua vida contrastava com a dos filhos de Eli, Hofni e Finéias, que eram desobedientes, corruptos e desprezavam os sacrifícios do Senhor (1 Samuel 2:12-17). Ambos morreram em juízo divino (1 Samuel 4:11).

Porém, mesmo Samuel sendo um homem temente a Deus e que seguia o caminho que o agradava, enfrentou desafios em sua própria família. Seus filhos, Joel e Abias, nomeados como juízes, não seguiram seu exemplo, buscando ganhos desonestos, aceitando subornos e pervertendo a justiça (1 Samuel 8:1-3). Esse comportamento contribuiu para que o povo pedisse um rei, alegando que seus filhos não eram dignos de liderar (1 Samuel 8:5).

Esse contraste destaca que a obediência a Deus não é automaticamente transmitida de uma geração para outra. Mesmo com um pai piedoso, a decisão de seguir ou não os caminhos de Deus é pessoal.

Tanto é verdade que podemos encontrar diversas situações na Bíblia: há homens que seguiram o caminho da verdade, mesmo tendo exemplos ruins de seus pais mas também há aqueles que desprezaram o caminho da verdade, apesar de terem bons exemplos paternos e, por fim, há aqueles que, mesmo tendo seguido durante toda a vida um caminho que desagradava a Deus, no final retornaram ao caminho correto, seguindo o exemplo de seus pais e lembrando-se de tudo o que lhes foi ensinado.

Abaixo veremos uma lista detalhada dos exemplos citados acima:

a)   Filhos que Permaneceram Fiéis Apesar da Desobediência dos Pais

1.    EzequiasMesmo tendo Acaz como pai — um rei ímpio que promoveu idolatria (2 Crônicas 28:1 e que por sua vez era filho de Davi e não segui o exemplo de seu pai), Ezequias fez o que era reto diante de Deus e liderou uma reforma espiritual (2 Reis 18:1-7).

2.    Josias – Filho de Amom, um rei ímpio (2Rs 21:19-22), Josias buscou ao Senhor ainda jovem, liderando uma reforma espiritual em Judá (2 Reis 22:1-2; 2 Crônicas 34:1-7).

3.    Jônatas – Mesmo sendo filho do rebelde rei Saul, Jônatas permaneceu fiel a Deus e reconheceu a unção de Davi como futuro rei de Israel (1 Samuel 18:1-4; 19:4-5; 20:30-34).

4.    Samuel – Criado no templo por Eli, viu o mau exemplo dos filhos de Eli (1Sm 2:17-22), mas permaneceu fiel ao Senhor, tornando-se um grande profeta (1 Samuel 3:19-21).

5.    Gideão – Filho de Joás (2 Crônicas 24:24), Deus o escolheu para libertar Israel da opressão, (Juízes 6:25-29); Gideão foi juiz em Israel durante 40 anos. 

b)   Filhos que Foram Desobedientes Apesar da Obediência dos Pais 

1.    Os filhos de Samuel Joel e Abias não seguiram o exemplo de seu pai e se corromperam, aceitando suborno e pervertendo o direito (1 Samuel 8:1-3).

2.    Manassés, filho de Ezequias – Enquanto Ezequias foi um rei justo, Manassés promoveu idolatria, construiu altares a falsos deuses e sacrificou seus próprios filhos (2 Reis 21:1-9), mas isso não foi o fim, veja mais adiante.

3.    Os filhos de Josias Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias não seguiram o exemplo piedoso de seu pai Josias e levaram Judá à ruína (2 Reis 23:31-37; 24:1-20).

4.    Os filhos de Davi Amnom cometeu um ato abominável contra Tamar (2 Samuel 13:1-14), Absalão se rebelou e tentou usurpar o trono (2 Samuel 15:1-12) e Adonias tentou se coroar rei sem a bênção de Deus (1 Reis 1:5-10).

Especificamente no caso de Davi, o comportamento de seus descendentes mostra como a educação que ele deu a seus filhos foi deficiente. Davi era, sim, considerado um homem segundo o coração de Deus (1 Samuel 13:14; Atos 13:22), mas isso não o tornava perfeito. A instrução dos filhos no caminho do Senhor não garante que eles continuarão a segui-lo ao atingirem a maturidade, mas a falta dessa educação certamente os afasta ainda mais do caminho que agrada a Deus (Provérbios 22:6):

I. Davi não repreendeu Adonias

"Nunca seu pai o tinha contrariado, dizendo: Por que fizeste assim? Além disso, era ele muito formoso de aparência e havia nascido depois de Absalão."
(1 Reis 1:6)

Este versículo mostra que Davi nunca disciplinou Adonias, permitindo que ele crescesse sem correção, o que pode ter contribuído para sua tentativa de usurpar o trono.

II. A falta de ação de Davi contra Amnom

"Ouvindo, pois, o rei Davi todas estas coisas, muito se lhe acendeu a ira."
(2 Samuel 13:21)

Depois que Amnom violentou Tamar, sua própria irmã, Davi ficou irado, mas não tomou nenhuma atitude contra ele. Sua inação provavelmente contribuiu para a revolta de Absalão, que acabou matando Amnom (2 Samuel 13:28-29).

III. A relação distante entre Davi e Absalão

"Assim ficou Absalão dois anos em Jerusalém, sem ver a face do rei."
(2 Samuel 14:28)

Mesmo após permitir o retorno de Absalão do exílio, Davi se recusou a vê-lo por dois anos, demonstrando uma relação distante. Esse afastamento pode ter alimentado o ressentimento de Absalão, que posteriormente tentou tomar o trono de seu pai (2 Samuel 15:1-12).

Esses textos indicam que Davi, apesar de ser um homem segundo o coração de Deus, não foi um pai presente na correção de seus filhos, o que teve consequências trágicas para sua família e para o reino de Israel.

5. Lidando com a Rebeldia dos Filhos

Embora nem sempre os filhos sigam os ensinamentos recebidos, os pais devem perseverar na oração e confiar na graça de Deus. Apesar de encontrarmos na bíblia exemplos de filhos que não seguiram pelo mesmo caminho piedoso a exemplo de seus pais, podemos encontrar também exemplos de filhos que, mesmo após uma vida inteira em pecado, retornaram ao caminho correto ensinado por seus pais. Podemos ver isso acontecer na história do filho pródigo contada por Jesus (Lc 15:15-32), mas um exemplo marcante é o de Ezequias e Manassés:

  • Ezequias foi um dos reis mais piedosos de Judá, liderando uma grande reforma espiritual e confiando em Deus (2 Reis 18:3-6).
  • Manassés, seu filho, tornou-se um dos reis mais ímpios, promovendo idolatria e feitiçaria. Contudo, no final de sua vida, ele se arrependeu e buscou ao Senhor (2 Crônicas 33:1-16).

Esse contraste mostra que cada indivíduo tem liberdade de escolha, mas também traz esperança de que eles lembrem do que seus pais o ensinaram e tenham sua vida restaurada em Deus.

Conclusão

Embora a responsabilidade individual perante Deus seja clara (Ezequiel 18:20), os pais possuem um papel importante em ensinar aos filhos os caminhos que agradam a Deus e também em adverti-los sobre as consequências daqueles que vivem em desacordo com a vontade divina (Deuteronômio 6:6-7).

O estudo nos dá a consciência de que não há garantia de que nossos filhos seguirão os mesmos caminhos que trilhamos, pois eles alcançarão a maturidade e terão a escolha de seguir ou não tudo o que lhes ensinamos. No entanto, exemplos bíblicos nos dão esperança e nos motivam a não nos cansarmos de transmitir a nossos filhos os ensinamentos bíblicos, diariamente e de forma constante, por diferentes meios (Provérbios 22:6).

Além disso, é essencial protegê-los contra influências externas, sem ignorar que elas existem, pois mais cedo ou mais tarde tentarão corrompê-los. O mais sábio, portanto, é preparar os filhos desde cedo, alertando-os sobre como essas influências agem e as consequências de abandonar a Deus para seguir os valores do mundo (1 Coríntios 15:33; Romanos 12:2). Dessa maneira, temos a esperança de que, mesmo quando envelhecerem, eles não se desviarão do caminho do Senhor (Provérbios 22:6).

Aproveite e leia o estudo: 

BASE BÍBLICA PARA A EDUCAÇÃO CRISTÃ DOS FILHOS