sexta-feira, 24 de outubro de 2025

EFÉSIOS 1:15-19

Oração de Paulo pela Igreja em Éfeso

Nas mensagens anteriores, vimos Paulo narrando como Deus preparou todo o plano da salvação, envolvendo a eleição e a predestinação, e como Jesus Cristo foi o agente que cumpriu esse plano perfeito, realizando a redenção e garantindo nossa herança eterna (Ef 1:3-14). Ao final desses versos, observamos também a atuação do Espírito Santo, o terceiro da Trindade, que continua agindo até hoje como o meio pelo qual somos alcançados pela graça de Deus. É Ele quem convence, transforma e sela os escolhidos, fazendo-os ouvir e crer na Palavra da verdade: o evangelho da salvação (Ef 1:13-14).

A gratidão e intercessão de Paulo

15 Por isso, também eu, tendo ouvido da fé que há entre vós no Senhor Jesus e do amor para com todos os santos, 16 não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações (Ef 1:15-16).

Paulo foi o fundador da igreja em Éfeso (At 19:1-10) e também de outras igrejas nas regiões próximas. Essas comunidades enfrentavam perseguições e dificuldades por causa da fé, o que certamente gerava entre alguns desânimo, especialmente por saberem que o próprio Paulo, seu fundador e líder espiritual, estava preso (Ef 3:1; 4:1; Fp 1:12-14).

Mesmo assim, Paulo recebeu boas notícias a respeito da fé e do amor dos efésios, fé no Senhor Jesus e amor para com todos os santos. Essa combinação é a marca dos verdadeiros crentes: fé em Cristo e amor fraternal (1Ts 1:3; Cl 1:4; Jo 13:35).

Esses frutos espirituais mostravam a Paulo que, de fato, aqueles irmãos eram os escolhidos de Deus, selados com o Espírito Santo (Ef 1:13). A fé genuína e o amor mútuo eram evidências de que o Espírito de Deus havia operado neles, garantindo que nada os poderia separar do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8:38-39).

Por isso, Paulo declara: “não cesso de dar graças por vós”. Isso não significa que ele passava o tempo todo orando apenas por eles, mas que, constantemente, ao lembrar-se dos efésios, dava graças a Deus por suas vidas (1Ts 5:17-18; Fp 1:3-5). Sua gratidão se expressava em oração intercessória contínua, mostrando o amor pastoral e a comunhão espiritual que mantinha com aquela igreja, mesmo estando preso.

O conteúdo da oração

Nos versos seguintes (Ef 1:17-19), Paulo revela o conteúdo dessa oração: ele pede que Deus conceda aos efésios espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento de Cristo, iluminando os olhos do coração para compreenderem a esperança, a riqueza e o poder que pertencem aos que creem.

Mas o ponto central aqui (vs. 15-16) é a gratidão perseverante de Paulo. Ele não se deixa abater pelas circunstâncias nem pelas prisões, mas continua servindo a Deus com alegria, intercedendo pelos irmãos e reconhecendo a obra do Espírito Santo neles.

Oração por sabedoria e revelação espiritual

17  para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele,

Nos versículos anteriores, Paulo expressou sua gratidão a Deus pela fé e amor dos irmãos em Éfeso (Ef 1:15-16). Agora, ele revela o conteúdo de sua oração: pede que Deus conceda aos cristãos espírito de sabedoria e de revelação para que cresçam no pleno conhecimento de Cristo.

O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo

Paulo inicia sua oração dizendo: “o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória”.
É importante lembrar que Jesus Cristo é Deus verdadeiro e homem verdadeiro. Como Deus, Ele é um com o Pai (
Jo 10:30), mas como homem, sujeitou-se à vontade do Pai e, nessa condição, Deus Pai é o Deus de Jesus Cristo (Jo 20:17).

A expressão “Pai da glória” é uma forma hebraica de afirmar que Deus é o Pai supremo, cheio de glória e majestade, o Criador e sustentador de todas as coisas (Sl 24:10; 1Cr 29:11).

A prática da oração constante

Paulo está falando de oração (Ef 1:16-17). E o exemplo que ele dá tem uma aplicação prática para todos os cristãos: não há um local específico onde se deve orar.

Mesmo estando preso e acorrentado a um soldado romano (At 28:16, 30), Paulo não deixava de orar. Ele sabia que nunca estava sozinho, pois o Senhor estava com ele (2Tm 4:17). Assim, ensina-nos que não há desculpas para não orarmos, devemos orar em qualquer lugar e em qualquer circunstância (Fp 4:6; 1Ts 5:17).

Além disso, suas orações não se limitavam a pedidos pessoais. Ele intercedia por outras pessoas, agradecia por seus irmãos e orava em favor da igreja (Rm 1:9-10; Cl 1:9). Essa atitude mostra que a oração não é apenas um meio de pedir algo a Deus, mas uma forma de comunhão e serviço espiritual, em que também colocamos diante de Deus as necessidades dos outros.

A gratidão pelo que Deus faz na vida dos outros

A oração de Paulo nos ensina também a agradecer pelas bênçãos concedidas aos outros. Em vez de invejar ou lamentar o sucesso dos irmãos, devemos nos alegrar com eles, reconhecendo a graça de Deus em suas vidas (Rm 12:15; Fp 2:3).

Por exemplo, se Deus abençoa alguém com uma nova casa, um bom emprego ou prosperidade, nossa reação deve ser:

“Senhor, obrigado por abençoar meu irmão. Continue derramando tua graça sobre ele.”

Esse é o verdadeiro espírito cristão: considerar os outros superiores a nós mesmos e viver com humildade diante de Deus (Fp 2:3-4; Tg 4:6).

O pedido de Paulo: sabedoria e revelação

Depois de agradecer e interceder pelos irmãos, Paulo também faz um pedido específico:

Que Deus conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dEle” (Ef 1:17).

Note que Paulo não pede prosperidade, saúde ou livramentos, embora tudo isso seja importante, mas pede algo muito mais valioso: sabedoria para conhecer a Deus.

Aqui, “espírito de sabedoria” não se refere ao Espírito Santo (com letra maiúscula), mas a uma disposição espiritual, uma atitude mental e emocional guiada pelo Espírito de Deus, que leva o crente a viver com discernimento espiritual (Pv 2:6; Tg 1:5).

Esse espírito de sabedoria capacita o cristão a tomar decisões prudentes e bíblicas, não baseadas em impulsos, mas na verdade revelada nas Escrituras (Cl 1:9-10). Assim, mesmo alguém simples, mas cheio dessa sabedoria divina, pode ser mais sábio que os sábios deste mundo (1Co 1:20-25).

O verdadeiro sentido de “revelação”

O “espírito de revelação” que Paulo menciona não significa descobrir novas verdades ou receber novas revelações místicas, como muitas vezes se interpreta erroneamente.

Revelação aqui tem o sentido de compreender mais profundamente as verdades que já foram reveladas por Deus em Sua Palavra. Logo adiante, Paulo fala sobre “iluminação” (Ef 1:18), mostrando que se trata de clareza espiritual e entendimento das Escrituras, não de algo novo ou oculto.

As três fases da obra do Espírito Santo na revelação

A obra do Espírito Santo relacionada à revelação pode ser entendida em três fases:

1.    Revelação – É a ação do Espírito Santo em revelar o que estava oculto no plano de Deus. Foi assim com os profetas e apóstolos. Por exemplo, Isaías viu o Cristo crucificado e os novos céus e nova terra (Is 53; 65:17). Paulo e João também receberam revelações sobre o futuro (Gl 1:11-12; Ap 1:1).

2.    Inspiração – Depois de revelar, o Espírito Santo inspirou esses homens para registrarem fielmente a mensagem divina. Assim nasceram as Escrituras, escritas sem erro e com autoridade divina (2Tm 3:16; 2Pe 1:21).

3.    Iluminação – Hoje, já não há novas revelações ou inspirações infalíveis, pois tudo foi registrado na Bíblia. A função atual do Espírito Santo é iluminar o entendimento dos crentes para compreenderem e aplicarem as verdades já reveladas (Jo 14:26; Jo 16:13; 1Co 2:12).

O pleno conhecimento de Deus

O objetivo de Paulo é que os crentes não fiquem satisfeitos com um conhecimento superficial de Deus, mas busquem o pleno conhecimento (Cl 1:9-10; 2Pe 3:18).

Esse pleno conhecimento não é condição para a salvação, nem é completamente alcançável nesta vida, mas é algo que todo cristão deve desejar e buscar, pois quanto mais conhecemos a Deus, mais o amamos, mais confiamos nEle e mais nos tornamos semelhantes a Cristo (Fp 3:10).

Conclusão

Em resumo, a oração de Paulo nos ensina a:

  • Orar constantemente, em qualquer lugar e circunstância (1Ts 5:17);
  • Agradecer a Deus pelas bênçãos derramadas sobre os outros;
  • Interceder pelos irmãos e pela igreja;
  • Pedir a Deus sabedoria e iluminação espiritual para conhecê-Lo mais profundamente.

Assim, crescemos em graça, fé e amor, refletindo o caráter de Cristo em nossas vidas.

18  iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos 19  e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder;

Iluminados os olhos do vosso coração

Depois de pedir que Deus concedesse espírito de sabedoria e de revelação, Paulo ora para que “os olhos do coração” dos cristãos sejam iluminados (Ef 1:18).

Mas o que significa isso?

A Bíblia muitas vezes descreve o coração como o centro do ser humano, o lugar onde residem o entendimento, a vontade, as emoções e a consciência (Pv 4:23; Mt 15:19; Hb 4:12). É com o coração que cremos (Rm 10:10) e é por ele que compreendemos as coisas espirituais.

Porém, o pecado cegou o coração humano. O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus (1Co 2:14). Por isso, Paulo pede a Deus que ilumine os olhos do coração, para que o cristão possa enxergar claramente as verdades espirituais e alcançar o pleno conhecimento de Deus.

Observe que os crentes de Éfeso já eram salvos, selados com o Espírito Santo (Ef 1:13) e batizados em Cristo, mas ainda assim Paulo ora para que cresçam no entendimento espiritual. Isso mostra que a vida cristã não termina na conversão, ela é um processo de crescimento contínuo, e devemos buscar cada vez mais o conhecimento e a profundidade em Deus (Cl 1:9-10; 2Pe 3:18).

As três verdades que Paulo deseja que compreendamos

Paulo destaca três aspectos fundamentais que dependem dessa iluminação espiritual:

1.    A esperança do seu chamamento

2.    A riqueza da glória da sua herança nos santos

3.    A suprema grandeza do seu poder para com os que creem

1. A esperança do seu chamamento

Paulo ora para que saibamos “qual é a esperança do seu chamamento” (Ef 1:18).

Deus não apenas convida, Ele chama eficazmente (Rm 8:30; 2Tm 1:9). Seu chamado é irresistível, pois procede de Sua vontade eterna.

No início de Efésios 1, aprendemos que Deus elegeu (Ef 1:4), predestinou (Ef 1:5) e planejou toda a salvação em Cristo. Jesus, o Filho, cumpriu o plano, redimindo o povo escolhido (Ef 1:7), e o Espírito Santo selou esse povo como propriedade de Deus (Ef 1:13-14).

Quando Paulo fala da “esperança do chamamento”, ele se refere à certeza de que Deus cumprirá todas as Suas promessas. O chamado divino traz esperança, porque quem chama é fiel para completar a boa obra (Fp 1:6).

Fomos chamados das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2:9); fomos libertos da escravidão do pecado e tornados filhos de Deus (Jo 8:34-36; Rm 8:15). Essa é a nossa esperança, a certeza de que Aquele que nos chamou também nos conduzirá até o fim, dando-nos a vida eterna (Jo 10:28-29).

2. A riqueza da glória da sua herança nos santos

Paulo também ora para que entendamos “qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18).

Aqui, ele não está falando da nossa herança, mas da herança de Deus.

Nós somos a herança de Deus (Dt 32:9; Ef 1:11). O povo que Ele salvou e redimiu é Sua posse preciosa, o tesouro pelo qual Cristo morreu (Tt 2:14).

Essa herança é gloriosa e rica, pois consiste na comunhão dos santos, a Igreja. Quando entendemos que fazemos parte dessa herança, passamos a valorizar mais o corpo de Cristo (1Co 12:27), a comunhão dos irmãos e o privilégio de congregar (Hb 10:24-25).

Em vez de sermos críticos, distantes ou desigrejados, passamos a reconhecer que a Igreja, mesmo com suas imperfeições humanas, é o povo glorioso de Deus, comprado pelo sangue de Cristo (At 20:28).

3. A suprema grandeza do seu poder para com os que creem

Por fim, Paulo deseja que compreendamos “a suprema grandeza do seu poder para com os que creem”, segundo “a eficácia da força do seu poder” (Ef 1:19).

Esse poder é o mesmo poder que Deus exerceu em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos (Ef 1:20).

Deus agiu com poder para realizar o Seu plano. Paulo mostra, logo no início do capítulo 2 de Efésios, o tamanho desse poder ao descrever a nossa antiga condição espiritual:

“Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2:1-3).

Ou seja, antes da ação poderosa de Deus, estávamos completamente perdidos, espiritualmente mortos, escravizados pelo pecado, submissos às paixões carnais e à influência de Satanás. Não havia em nós capacidade ou vontade de buscar a Deus, vivíamos segundo o curso deste mundo, afastados da vida que vem de Deus (Romanos 3:10-12; Efésios 4:18).

Mas é nesse cenário de total miséria espiritual que se manifesta “a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos” (Efésios 1:19). Pois “Deus, sendo rico em misericórdia, e por causa do grande amor com que nos amou, estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos” (Efésios 2:4-5).

Esse é o PODER que Paulo deseja que conheçamos, o poder que vivifica os mortos espirituais, que tira o homem das trevas e o transporta para o reino do Filho do Seu amor (Colossenses 1:13). É o poder que muda a natureza humana, que gera fé onde havia incredulidade, e que sustenta os crentes até o fim.

O fato de crermos, permanecermos firmes e continuarmos sendo transformados é resultado direto da eficácia da força desse poder. É por isso que nossa salvação não depende da nossa força, mas da fidelidade de Deus, que “há de completar a boa obra que começou em nós até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6).

Nada pode impedir o cumprimento do plano de Deus, e é nesse poder irresistível e eficaz que se baseia nossa segurança eterna.

Nada além do supremo poder de Deus poderia tirar o homem da morte espiritual e torná-lo participante da herança dos santos na luz (Cl 1:12-13).

Esse mesmo poder é o que nos sustenta na fé até o fim (1Pe 1:5). Por isso, cremos na segurança eterna do crente: quem foi chamado e salvo pelo poder de Deus não pode ser perdido, pois é Deus quem preserva o que Ele mesmo regenerou (Rm 8:38-39; Jo 6:37-39).

Aplicações práticas

1.    Tenha uma vida de oração constante, como Paulo, pedindo a Deus iluminação espiritual e crescimento no conhecimento dEle (Cl 1:9).

2.    Tire os olhos das circunstâncias e contemple a suprema eficácia do poder de Deus, que atua em sua vida.

3.    Se ainda luta contra pecados persistentes, lembre-se: não há nada que o poder de Deus não possa vencer em você.

4.    Busque revelação no sentido correto, não de segredos místicos, mas de iluminação para compreender a profundidade das Escrituras (Sl 119:18; Jo 16:13).

5.    Reflita: se você é crente há anos, quando foi a última vez que aprendeu algo novo sobre Deus? Que o Senhor ilumine os olhos do seu coração para crescer cada dia mais no conhecimento e na graça de Cristo (2Pe 3:18).

Conclusão

A oração de Paulo é uma das mais belas expressões da vida espiritual madura:

  • Ele ora por iluminação e não por bens materiais;
  • Busca o pleno conhecimento de Deus, não o conforto terreno;
  • E nos ensina que a verdadeira sabedoria está em ver com os olhos do coração, guiados pelo Espírito Santo.

Que essa seja também a nossa oração diária:

“Senhor, ilumina os olhos do meu coração, para que eu conheça a esperança do teu chamamento, a riqueza da tua herança e a grandeza do teu poder.”

sábado, 11 de outubro de 2025

Efésios 1:1-14 — Uma aula bíblica sobre eleição, predestinação e salvação

A carta aos efésios foi escrita por Paulo enquanto estava preso. Mesmo nessa condição, sua maior preocupação não era consigo, mas com a igreja em Éfeso, que se mostrava aflita quanto ao futuro diante da situação do apóstolo. Por isso, Paulo escreve para fortalecê-los na fé e lembrá-los de que tudo estava dentro do plano de Deus. Ele destaca que suas tribulações não eram motivo de desânimo, mas sim de glória, pois faziam parte da obra de Cristo entre os gentios.

“Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória.” (Efésios 3:13, RA)

Assim, a carta não apenas traz consolo, mas também revela verdades profundas sobre a unidade da igreja em Cristo, a nova vida no Espírito e a grandeza das bênçãos espirituais que temos n’Ele.

 

“1 ¶ Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus, 2  graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

PREDESTINAÇÃO

Na saudação inicial, o apóstolo Paulo deixa claro que é “apóstolo por vontade de Deus”. Ele reconhece a soberania divina em sua chamada e ministério, sabendo por experiência própria que, se não fosse a intervenção de Deus, ainda seria Saulo, perseguidor da Igreja (Atos 9:1-6).

Esse reconhecimento aponta para a doutrina bíblica da predestinação, que, embora muitas vezes considerada polêmica, é afirmada tanto por Paulo quanto por Pedro. Paulo ensina que fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4-5; Romanos 8:29-30), e Pedro também escreve sobre os eleitos “segundo a presciência de Deus Pai” (1 Pedro 1:1-2).

A doutrina da predestinação é sim muito polêmica no meio cristão, mas ela é bíblica e apóstolos como Pedro e o próprio Paulo acreditavam e pregavam sobre isso (Efésios 1:4-5; Romanos 8:29-30; 1 Pedro 1:1-2). Não somente Pedro e Paulo, mas o próprio Jesus Cristo também ensinou sobre a escolha soberana de Deus (João 6:44; João 15:16; Mateus 11:27), e essa doutrina atravessa toda a Escritura, desde o Antigo Testamento até Apocalipse (Deuteronômio 7:7-8; Jeremias 1:5; Malaquias 1:2-3; Tiago 1:18; 2 João 1:1; Apocalipse 17:14).

Assim, a própria vida de Paulo é testemunho da graça soberana de Deus, que transforma um inimigo da fé em um apóstolo de Cristo, mostrando que a escolha e o chamado pertencem exclusivamente ao Senhor (Gálatas 1:15-16; 1 Coríntios 1:1).

SANTOS

Paulo estava nesse momento já preso e envia uma carta aos santos que vivem em Éfeso. A palavra “santos”, assim como em várias outras passagens bíblicas, refere-se àqueles que foram santificados em Cristo Jesus (1 Coríntios 1:2). Ser santo significa ser separado, consagrado para Deus. Todo aquele que pertence a Cristo é separado do mundo (João 15:19).

Não por acaso, a Bíblia nos ensina que em Cristo somos novas criaturas (2 Coríntios 5:17), chamados a nos revestir do novo homem (Efésios 4:24), cobrindo nossa antiga nudez com a justiça de Deus. Além disso, somos instruídos a buscar a santificação constantemente (Hebreus 12:14), ou seja, a nos aperfeiçoar na justiça e no caminho que Deus nos mostra, para que nos tornemos cada vez mais semelhantes a seu Filho Jesus Cristo (Romanos 8:29).

Logo, ser santo é todo aquele temente a Deus, todo aquele que foi salvo mediante a fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8). Não se trata apenas daqueles que foram canonizados pela Igreja Católica, mas sim de todo aquele que está separado por Deus e para Deus. Todos os que foram predestinados para a salvação (Efésios 1:4-5) são santos, chamados e escolhidos por Ele, separados para viver em comunhão com o Senhor.

 

3 ¶ Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,

BENDITO

O termo “bendito” é usado exclusivamente para Deus no Novo Testamento (Romanos 1:25; 2 Coríntios 1:3; 1 Pedro 1:3), para destacar que Ele é a fonte de todas as bênçãos e digno de ser adorado. Trata-se de um louvor, um reconhecimento de que somente Ele é a origem de toda dádiva.

Contudo, isso não significa que apenas o Pai recebe adoração. Deus é trino: Pai, Filho e Espírito Santo, compartilhando a mesma natureza divina. Assim:

  • O Pai é o autor do plano eterno de eleição e bênção (Efésios 1:4-5).
  • O Filho executa a redenção por meio de sua morte e ressurreição (Efésios 1:7).
  • O Espírito Santo aplica essas bênçãos aos crentes, sendo o selo da promessa (Efésios 1:13-14).

Em termos de adoração, o Pai, o Filho e o Espírito recebem a mesma glória, pois compartilham a mesma essência divina (João 10:30; João 5:23). No céu, a visão é clara: o mesmo louvor é dirigido tanto ao Pai quanto ao Cordeiro:

“Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5:13).

Logo, reconhecer Deus como bendito é render-Lhe louvor com entendimento. Ao adorarmos o Pai, o Filho e o Espírito, adoramos o único Deus verdadeiro, que nos abençoou em Cristo com toda sorte de bênçãos espirituais.

BENÇÃO ESPIRITUAL

Quando Paulo fala em “bênção espiritual”, ele não está se referindo a prosperidade, saúde ou bens terrenos, perceba que ele também fala “nas regiões celestiais”, ou seja, está relacionada às realidades concedidas pelo Espírito Santo, que são eternas e ligadas à nossa comunhão com Deus.

Nos versículos seguintes de Efésios 1, ele descreve algumas dessas bênçãos:

  • Eleição e predestinação: fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4-5).
  • Redenção e perdão: recebemos a salvação por meio do sangue de Cristo (Efésios 1:7).
  • Revelação da vontade de Deus: conhecemos o mistério do Seu plano divino (Efésios 1:9).
  • Herança eterna: temos direito à herança em Cristo (Efésios 1:11).
  • O Espírito Santo como selo: garantia de que pertencemos a Deus e de que nossa salvação está segura (Efésios 1:13-14).

Paulo ensina que “bênção espiritual” são todos os benefícios que Deus concede em Cristo, pelo Espírito Santo, e que dizem respeito à nossa salvação, santificação e herança eterna, muito além de bênçãos materiais. Para receber essas bênçãos, é necessário estar unido a Cristo, pois elas só são possíveis nele. Fora dEle não há salvação nem vida espiritual (João 14:6; Atos 4:12). Estar “em Cristo” significa estar ligado a Ele pela fé, participando de Sua vida, morte e ressurreição (Romanos 6:3-5).

Assim, Paulo mostra que o cristão não depende de circunstâncias terrenas para se considerar abençoado, porque em Cristo já possui tudo o que é essencial para a vida espiritual e para a eternidade (2 Pedro 1:3). Além disso, essas bênçãos não podem ser corrompidas pelo tempo, pelas circunstâncias ou pelo mundo, pois são preservadas por Deus como herança incorruptível (1 Pedro 1:3-4).

 

4  assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor

Essa é a primeira bênção espiritual que Paulo menciona: a eleição. Fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo, de modo que ninguém possa dizer que essa escolha se baseou em algo que faríamos ou deixaríamos de fazer (Romanos 9:11-12).

O propósito da eleição é que sejamos santos e irrepreensíveis. Isso significa que fomos escolhidos para viver em santidade, e não para usar a predestinação como desculpa para a negligência espiritual ou para alegar que, por já termos sido escolhidos, não precisamos nos preocupar com a vida cristã (1 Pedro 1:15-16). A verdadeira segurança da eleição está no fruto da santidade.

Não somos perfeitos, mas, em meio a um mundo caído, somos chamados a ser diferentes, retos e obedientes a Deus (Filipenses 2:15; Colossenses 1:22). Ele nos escolheu para sermos santos, e é esse testemunho que confirma em nós a certeza da predestinação (2 Pedro 1:10).

 

5  nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,

A segunda bênção espiritual que Paulo apresenta é a predestinação. Muitos podem pensar que há injustiça em Deus ao escolher alguns e não outros, mas a Escritura nos mostra que a eleição e a predestinação são atos de misericórdia, e não de injustiça. Afinal, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Romanos 3:23), e, portanto, todos merecem a condenação. Porém, Deus, em Seu amor, escolheu para Si um povo para ser santo e irrepreensível (Romanos 9:14-16).

A eleição (Efésios 1:4) é o ato de escolher, e a predestinação é a garantia de que aqueles escolhidos alcançarão o chamado de Deus. É um ato de amor, não de arbitrariedade. Ele poderia condenar toda a humanidade, mas, em vez disso, decidiu salvar, por graça, um povo exclusivo para Si (1 Pedro 2:9).

Paulo também destaca que fomos predestinados para a adoção de filhos. Ninguém nasce filho de Deus; pelo contrário, nascemos como filhos da desobediência e filhos da ira (Efésios 2:2-3). Mas, por meio de Jesus Cristo, recebemos o privilégio da adoção e podemos ser chamados filhos de Deus (João 1:12-13; Gálatas 4:4-5; Romanos 8:15-17).

Tudo isso acontece “segundo o beneplácito de Sua vontade”, isto é, porque Deus quis. Ele é soberano e plenamente livre em Suas decisões (Daniel 4:35; Salmos 115:3). Contudo, não devemos ter receio disso, pois a natureza de Deus é santa, justa e misericordiosa (Salmos 145:17; Tiago 1:17). Ele jamais agirá por tirania ou injustiça, mas sempre de acordo com o Seu caráter perfeito e amoroso.

 

6  para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7  no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça,

Paulo continua mostrando as bênçãos espirituais em Cristo e destaca agora a graça. Essa graça é gratuita, abundante e imerecida (Romanos 3:24; Tito 3:5-7). Tudo o que Deus fez, desde a eleição até a redenção, tem um propósito: “para louvor da glória de Sua graça”. Isso significa que a salvação não tem como objetivo central exaltar o homem, mas glorificar a Deus. A graça recebida nos leva a engrandecer a Deus, reconhecendo que tudo vem d’Ele, é realizado por Ele e existe para Ele (Romanos 11:36; 1 Coríntios 1:29-31).

Aqui, Paulo “muda a câmera” da contemplação do Pai para o Filho. Ele O chama de o Amado, pois Jesus ocupa um lugar especial no coração do Pai (Mateus 3:17; João 17:24). É por meio d’Ele que o plano divino é executado.

Porém, havia um problema: embora escolhidos e predestinados, ainda estávamos em pecado. Como poderíamos ser recebidos como filhos de Deus? A resposta está em Cristo: nele temos a redenção. A redenção significa libertação mediante pagamento de preço, e esse preço foi o sangue de Jesus (1 Pedro 1:18-19; Hebreus 9:12,22).

Através de Seu sangue, experimentamos a remissão dos pecados, isto é, o perdão completo, o cancelamento da dívida que nos separava de Deus (Colossenses 2:13-14). Esse perdão só é possível porque Aquele que é 100% Deus se fez 100% homem (João 1:14; Filipenses 2:6-8), derramando Seu sangue na cruz para nos purificar (1 João 1:7).

Tudo isso é resultado da imensurável riqueza da graça de Deus, que age de forma abundante, misericordiosa e gratuita sobre nós (Efésios 2:7-9). Assim, não há espaço para vanglória humana, mas apenas para reconhecer e proclamar o louvor da glória da Sua graça.

 

8  que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, 9  desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo,

De fato, o apóstolo Paulo deixa claro que o “mistério” outrora oculto foi plenamente revelado em Cristo. Ele escreve que Deus “nos desvendou o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (Ef 1:9). Esse mistério consiste em “fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1:10).

Em outras palavras, tudo o que estava encoberto nas antigas alianças, nas profecias e nas sombras da Lei, agora foi revelado em Cristo. O plano eterno de Deus era reunir todas as coisas sob o governo e a autoridade de Seu Filho. Assim, não há mais um mistério oculto a ser revelado: Cristo é a plena revelação de Deus aos homens.

Paulo reforça essa verdade em outras cartas: “o mistério que esteve oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos, aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:26-27).

Desse modo, o mistério da vontade de Deus foi revelado não apenas como um conhecimento intelectual, mas como uma realidade espiritual que une judeus e gentios em um só corpo (Ef 3:6), mostrando que todas as promessas e propósitos divinos convergem em Cristo (2Co 1:20).

 

10  de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra;

O versículo 10 mostra o propósito supremo do plano divino: fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as do céu como as da terra. Isso significa que toda a criação, espiritual e material, será reunida e harmonizada sob o governo de Cristo, que é o centro e o alvo de toda a obra de Deus.

Paulo chama esse tempo de “a dispensação da plenitude dos tempos”, ou seja, o momento determinado por Deus em que Seu plano de redenção se cumpre plenamente em Cristo (Gl 4:4). Tudo o que foi fragmentado pelo pecado será restaurado, e Cristo reinará sobre todas as coisas (Fp 2:9-11).

O objetivo final de tudo isso é “para louvor da sua glória” (Ef 1:12). Toda a criação existe para refletir a majestade e a perfeição de Deus. O homem, como parte da criação, encontra seu verdadeiro sentido e propósito quando vive para glorificar o Criador. Assim, o fim último da história não é o homem, mas Deus, que será exaltado em tudo o que criou e redimiu por meio de Cristo.

 

11  nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,

Deus predestinou todas as coisas de acordo com a sua própria vontade. Ou seja, se a pergunta for: “Por que é assim?” ou “Por que tem que ser assim?”, a resposta é: por causa da vontade de Deus. Ele é o único ser verdadeiramente livre; toma as decisões conforme o que lhe apraz, de acordo com o que Ele considera bom ou não. Ninguém é capaz de aconselhá-lo, pois Ele está acima de tudo e de todos (Romanos 11:34; Isaías 40:13).

Somos predestinados segundo o conselho da Sua vontade. Quando Deus realiza algo, Ele não consulta anjos, nem homens, consulta apenas a Sua própria vontade. E isso não torna Deus tirano ou injusto; pelo contrário: Sua natureza é boa, santa e justa; logo, Sua vontade também é boa, santa, justa, verdadeira e repleta de amor e misericórdia (Salmos 145:17; Deuteronômio 32:4).

Resumindo todo o plano da salvação de forma simples e didática, poderíamos imaginar algo assim:
Deus dizendo ao Filho — “Quero um povo para o meu nome, para louvor e glória, santo e irrepreensível.”
Mas esse povo é pecador. Então Jesus responde: “Eu irei resgatar esse povo para Ti com o meu sangue.”
E o Pai, por sua vez, declara: “Em troca, Eu te darei esse povo como herança.” (
João 6:37-39; João 17:6, 9, 24; Tito 2:14).

Assim, somos a herança de Jesus Cristo. Mesmo que, humanamente, não “valêssemos nada”, Deus não pensou assim. Ele nos escolheu e nos fez herança para o Seu Filho (Efésios 1:18; Colossenses 1:12).

O salário, ou a recompensa, pelo Calvário que Cristo passou, a recompensa pela Sua morte, e morte de cruz, a recompensa pela Sua humilhação e sofrimento, é: eu e você.
Isso mesmo, a recompensa por tudo o que Ele fez é eu e você (
Filipenses 2:8-9; Isaías 53:11; Hebreus 12:2).

Por isso, nos cabe ainda mais viver de modo digno dessa chamada, apresentando-nos a Ele santos e irrepreensíveis no dia em que Deus colocará todas as coisas debaixo do domínio de Seu Filho Jesus (Efésios 1:10, 22; Colossenses 1:22).

 

12  a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13  em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;

Tudo isso é para sermos o louvor da sua glória.
Os que de antemão esperavam em Cristo eram, como Paulo, os judeus, que aguardavam o Messias prometido nas Escrituras. Eles esperavam o cumprimento das promessas de Deus, e agora, em Cristo, essa promessa se cumpre não apenas para eles, mas também para os gentios, que igualmente ouviram a palavra da verdade, isto é, o evangelho da salvação, e, crendo, foram selados com o Espírito Santo da promessa (
Romanos 1:16; Gálatas 3:14; Atos 10:45).

Aqui o apóstolo começa a destacar a atuação da terceira pessoa da Trindade: o Espírito Santo.
Mas como é possível que, mesmo dois mil anos após o sacrifício de Cristo, ainda sejamos tocados e salvos pela graça de Deus? A resposta é simples: Graças ao agir do Espírito Santo por meio da pregação do evangelho (
Romanos 10:14-17).

Deus não apenas escolheu e predestinou, Ele também determinou os meios pelos quais os eleitos seriam alcançados. O Espírito Santo atua mediante a pregação da Palavra, chamando o povo de Deus, regenerando os corações e selando-os com a promessa divina (João 16:8-13; Tito 3:5).

O Espírito é chamado de “Espírito da promessa” porque já havia sido prometido no Antigo Testamento, conforme as palavras dos profetas Isaías, Ezequiel e Joel:

“Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos” (Ezequiel 36:27);

“O Espírito do Senhor repousará sobre Ele” (Isaías 11:2);

“Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Joel 2:28).

O Espírito Santo sela o nosso coração. É como se, após crermos em Cristo, essa fé fosse impressa dentro de nós de forma definitiva, um selo que não pode ser rompido. Esse selo é a marca que confirma a nossa pertença a Deus (2 Coríntios 1:22; Efésios 4:30).

Há um texto que diz: “Se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mateus 24:24). Isso mostra que o selo do Espírito Santo impede que os verdadeiros filhos de Deus sejam enganados. O crente genuíno pode até ser confundido por um momento, mas o Espírito que nele habita o conduz à verdade. Ele desconfia, examina as Escrituras e permanece firme na verdade (João 16:13; 1 João 2:27).

Diante disso, como continuar acreditando que podemos perder a salvação?

Paulo afirma que fomos escolhidos, predestinados e selados, tudo pela soberania e poder de Deus, e tudo segundo a Sua vontade (Efésios 1:4-5; Romanos 8:29-30).

Se a salvação não depende de mérito humano, mas é obra completa de Deus, como poderia ser perdida?

Como o próprio apóstolo declara:

“Porque estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem poderes, nem coisas do presente, nem do porvir, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38-39).

Nada pode nos separar do amor de Deus, porque aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus (Filipenses 1:6).

 

14  o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.

O apóstolo Paulo nos ensina que o Espírito Santo é o penhor da nossa herança. A palavra “penhor” significa garantia.

Por exemplo: quando alguém está sem dinheiro, mas possui um bem valioso, como um relógio, pode penhorá-lo como garantia de que cumprirá o compromisso assumido. Assim também, o Espírito Santo é a garantia de Deus de que Ele cumprirá tudo o que prometeu aos seus filhos (2 Coríntios 1:22; 2 Coríntios 5:5).

O Espírito Santo é o sinal visível e presente de que Deus já iniciou a obra da salvação em nós e de que a levará até o fim (Filipenses 1:6; Romanos 8:30). Enquanto vivemos neste mundo, já podemos experimentar a presença do Espírito Santo quando sentimos a comunhão entre os santos, a santidade, a alegria e o amor que vêm de Deus (Romanos 14:17; Gálatas 5:22-23). Mas tudo isso é apenas o penhor, uma amostra do que ainda virá. O melhor ainda está por vir, quando Cristo vier nos resgatar completamente e consumar a nossa redenção (Romanos 8:23; 1 Tessalonicenses 4:16-17; Apocalipse 21:3-4).

Concluindo, não pense que doutrinas como eleição, predestinação e perseverança dos santos são invenções humanas ou ideias modernas. Como vimos ao longo deste estudo, elas são doutrinas bíblicas, reveladas nas próprias Escrituras (Efésios 1:4-5,11; Romanos 8:29-30; João 6:37-39).

É verdade que muitos reconhecem que esses ensinos estão na Bíblia, mas admitem não compreendê-los plenamente, e isso é normal. A salvação não depende de compreender todos os mistérios da eleição, mas sim de crer de coração em Jesus Cristo como Senhor e Salvador (Romanos 10:9-10).

Nosso papel é orar e buscar entendimento em Deus, para que possamos defender a verdade contra aqueles que colocam o homem como o centro da salvação, como se tudo dependesse da vontade humana, quando, na realidade, tudo depende do Deus soberano (João 1:12-13; Romanos 9:15-16).

E longe de ser uma doutrina desanimadora, essa é uma mensagem de esperança e confiança. Quando missionários deixam suas casas e viajam para os lugares mais remotos, como o interior da selva amazônica, fazem isso com a convicção de que há ali um povo eleito, predestinado por Deus, que será alcançado pelo meio estabelecido por Ele: a pregação do evangelho (Marcos 16:15; Romanos 10:14-15).

Aqueles que crerem nesse evangelho serão selados pelo Espírito Santo da promessa, que é a garantia da sua salvação, até o dia em que o Senhor Jesus vier em glória para buscar todos aqueles que o Pai lhe deu (João 17:6, 9, 24; Efésios 4:30).

Tudo isso acontece para o louvor da Sua glória, pois a salvação, do início ao fim, pertence unicamente a Deus (Jonas 2:9; Apocalipse 7:10).