Oração de Paulo pela Igreja em Éfeso
Nas mensagens anteriores, vimos Paulo narrando como Deus
preparou todo o plano da salvação, envolvendo a eleição e a predestinação,
e como Jesus Cristo foi o agente que cumpriu esse plano perfeito,
realizando a redenção e garantindo nossa herança eterna (Ef 1:3-14). Ao
final desses versos, observamos também a atuação do Espírito Santo, o
terceiro da Trindade, que continua agindo até hoje como o meio pelo qual
somos alcançados pela graça de Deus. É Ele quem convence, transforma e sela
os escolhidos, fazendo-os ouvir e crer na Palavra da verdade: o evangelho da
salvação (Ef 1:13-14).
A gratidão e intercessão de Paulo
Paulo foi o fundador da igreja em Éfeso (At 19:1-10) e
também de outras igrejas nas regiões próximas. Essas comunidades enfrentavam perseguições
e dificuldades por causa da fé, o que certamente gerava entre alguns desânimo,
especialmente por saberem que o próprio Paulo, seu fundador e líder espiritual,
estava preso (Ef 3:1; 4:1; Fp 1:12-14).
Mesmo assim, Paulo recebeu boas notícias a respeito da fé
e do amor dos efésios, fé no Senhor Jesus e amor para com todos os santos. Essa
combinação é a marca dos verdadeiros crentes: fé em Cristo e amor
fraternal (1Ts
1:3; Cl 1:4; Jo 13:35).
Esses frutos espirituais mostravam a Paulo que, de fato, aqueles
irmãos eram os escolhidos de Deus, selados com o Espírito Santo (Ef 1:13). A fé genuína e o amor
mútuo eram evidências de que o Espírito de Deus havia operado neles, garantindo
que nada os poderia separar do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8:38-39).
Por isso, Paulo declara: “não cesso de dar graças por vós”.
Isso não significa que ele passava o tempo todo orando apenas por eles, mas
que, constantemente, ao lembrar-se dos efésios, dava graças a Deus por
suas vidas (1Ts
5:17-18; Fp 1:3-5). Sua gratidão se expressava em oração intercessória
contínua, mostrando o amor pastoral e a comunhão espiritual que mantinha
com aquela igreja, mesmo estando preso.
Nos versos seguintes (Ef 1:17-19), Paulo revela o conteúdo dessa oração: ele pede que Deus
conceda aos efésios espírito de sabedoria e de revelação no pleno
conhecimento de Cristo, iluminando os olhos do coração para compreenderem a
esperança, a riqueza e o poder que pertencem aos que creem.
Mas o ponto central aqui (vs. 15-16) é a gratidão
perseverante de Paulo. Ele não se deixa abater pelas circunstâncias nem
pelas prisões, mas continua servindo a Deus com alegria, intercedendo pelos
irmãos e reconhecendo a obra do Espírito Santo neles.
Oração por sabedoria e revelação espiritual
Nos versículos anteriores, Paulo expressou sua gratidão a
Deus pela fé e amor dos irmãos em Éfeso (Ef
1:15-16). Agora, ele revela o conteúdo de sua oração: pede que Deus
conceda aos cristãos espírito de sabedoria e de revelação para que
cresçam no pleno conhecimento de Cristo.
O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo
Paulo inicia sua oração dizendo: “o Deus de nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai da glória”.
É importante lembrar que Jesus Cristo é Deus verdadeiro e homem verdadeiro.
Como Deus, Ele é um com o Pai (Jo 10:30), mas como homem, sujeitou-se à vontade do Pai e, nessa
condição, Deus Pai é o Deus de Jesus Cristo (Jo 20:17).
A expressão “Pai da glória” é uma forma hebraica de
afirmar que Deus é o Pai supremo, cheio de glória e majestade, o Criador
e sustentador de todas as coisas (Sl 24:10; 1Cr 29:11).
Paulo está falando de oração (Ef
1:16-17). E o exemplo que ele dá tem uma aplicação prática para todos
os cristãos: não há um local específico onde se deve orar.
Mesmo estando preso e acorrentado a um soldado romano (At 28:16, 30), Paulo não deixava de
orar. Ele sabia que nunca estava sozinho, pois o Senhor estava com ele (2Tm 4:17). Assim, ensina-nos que não
há desculpas para não orarmos, devemos orar em qualquer lugar e em qualquer
circunstância (Fp 4:6; 1Ts 5:17).
Além disso, suas orações não se limitavam a pedidos pessoais.
Ele intercedia por outras pessoas, agradecia por seus irmãos e orava em
favor da igreja (Rm 1:9-10; Cl 1:9). Essa atitude mostra que a oração não é apenas um meio de
pedir algo a Deus, mas uma forma de comunhão e serviço espiritual, em
que também colocamos diante de Deus as necessidades dos outros.
A gratidão pelo que Deus faz na vida dos outros
A oração de Paulo nos ensina também a agradecer pelas bênçãos
concedidas aos outros. Em vez de invejar ou lamentar o sucesso dos irmãos,
devemos nos alegrar com eles, reconhecendo a graça de Deus em suas vidas (Rm 12:15;
Fp 2:3).
Por exemplo, se Deus abençoa alguém com uma nova casa, um bom
emprego ou prosperidade, nossa reação deve ser:
“Senhor, obrigado por abençoar meu irmão. Continue derramando
tua graça sobre ele.”
Esse é o verdadeiro espírito cristão: considerar os outros
superiores a nós mesmos e viver com humildade diante de Deus (Fp 2:3-4;
Tg 4:6).
O
pedido de Paulo: sabedoria e revelação
Depois de agradecer e interceder pelos irmãos, Paulo também faz um
pedido específico:
Que Deus conceda “espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dEle” (Ef
1:17).
Note que Paulo não pede prosperidade, saúde ou livramentos, embora
tudo isso seja importante, mas pede algo muito mais valioso: sabedoria
para conhecer a Deus.
Aqui, “espírito de sabedoria” não se refere ao Espírito Santo
(com letra maiúscula), mas a uma disposição espiritual, uma atitude
mental e emocional guiada pelo Espírito de Deus, que leva o crente a viver
com discernimento espiritual (Pv 2:6; Tg 1:5).
Esse espírito de sabedoria capacita o cristão a tomar decisões
prudentes e bíblicas, não baseadas em impulsos, mas na verdade revelada nas
Escrituras (Cl 1:9-10). Assim, mesmo alguém
simples, mas cheio dessa sabedoria divina, pode ser mais sábio que os sábios
deste mundo (1Co 1:20-25).
O
verdadeiro sentido de “revelação”
O “espírito de revelação” que Paulo menciona não significa descobrir
novas verdades ou receber novas revelações místicas, como muitas
vezes se interpreta erroneamente.
Revelação aqui tem o sentido de compreender mais
profundamente as verdades que já foram reveladas por Deus em Sua Palavra.
Logo adiante, Paulo fala sobre “iluminação” (Ef 1:18), mostrando que se trata de
clareza espiritual e entendimento das Escrituras, não de algo
novo ou oculto.
As
três fases da obra do Espírito Santo na revelação
A obra do Espírito Santo relacionada à revelação pode ser
entendida em três fases:
1. Revelação – É a ação do Espírito Santo em revelar o que estava oculto no
plano de Deus. Foi assim com os profetas e apóstolos. Por exemplo, Isaías viu o
Cristo crucificado e os novos céus e nova terra (Is 53;
65:17). Paulo e João também receberam revelações sobre o futuro (Gl
1:11-12; Ap 1:1).
2. Inspiração – Depois de revelar, o Espírito Santo inspirou esses
homens para registrarem fielmente a mensagem divina. Assim nasceram as
Escrituras, escritas sem erro e com autoridade divina (2Tm 3:16;
2Pe 1:21).
3. Iluminação – Hoje, já não há novas revelações ou inspirações infalíveis,
pois tudo foi registrado na Bíblia. A função atual do Espírito Santo é iluminar
o entendimento dos crentes para compreenderem e aplicarem as verdades já
reveladas (Jo 14:26; Jo 16:13; 1Co 2:12).
O
pleno conhecimento de Deus
O objetivo de Paulo é que os crentes não fiquem satisfeitos com
um conhecimento superficial de Deus, mas busquem o pleno conhecimento
(Cl 1:9-10; 2Pe 3:18).
Esse pleno conhecimento não é condição para a salvação, nem é
completamente alcançável nesta vida, mas é algo que todo cristão deve
desejar e buscar, pois quanto mais conhecemos a Deus, mais o amamos, mais
confiamos nEle e mais nos tornamos semelhantes a Cristo (Fp 3:10).
Conclusão
Em resumo, a oração de Paulo nos ensina a:
- Orar constantemente, em
qualquer lugar e circunstância (1Ts 5:17);
- Agradecer a Deus pelas
bênçãos derramadas sobre os outros;
- Interceder pelos irmãos e
pela igreja;
- Pedir a Deus sabedoria e
iluminação espiritual para conhecê-Lo mais profundamente.
Assim, crescemos em graça, fé e amor, refletindo o caráter de
Cristo em nossas vidas.
18 iluminados os olhos do vosso coração, para
saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua
herança nos santos 19 e qual a suprema
grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do
seu poder;
Iluminados
os olhos do vosso coração
Depois de pedir que Deus concedesse espírito de sabedoria e de
revelação, Paulo ora para que “os olhos do coração” dos cristãos sejam iluminados
(Ef
1:18).
Mas o que significa isso?
A Bíblia muitas vezes descreve o coração como o centro do
ser humano, o lugar onde residem o entendimento, a vontade, as emoções e a
consciência (Pv
4:23; Mt 15:19; Hb 4:12). É com o coração que cremos (Rm 10:10) e é por ele que compreendemos
as coisas espirituais.
Porém, o pecado cegou o coração humano. O homem natural não
compreende as coisas do Espírito de Deus (1Co 2:14). Por isso, Paulo pede a Deus que ilumine os olhos do
coração, para que o cristão possa enxergar claramente as verdades
espirituais e alcançar o pleno conhecimento de Deus.
Observe que os crentes de Éfeso já eram salvos, selados
com o Espírito Santo (Ef
1:13) e batizados em Cristo, mas ainda assim Paulo ora para
que cresçam no entendimento espiritual. Isso mostra que a vida cristã
não termina na conversão, ela é um processo de crescimento contínuo, e
devemos buscar cada vez mais o conhecimento e a profundidade em Deus (Cl 1:9-10; 2Pe 3:18).
As
três verdades que Paulo deseja que compreendamos
Paulo destaca três aspectos fundamentais que dependem
dessa iluminação espiritual:
1. A
esperança do seu chamamento
2. A
riqueza da glória da sua herança nos santos
3. A
suprema grandeza do seu poder para com os que creem
1. A
esperança do seu chamamento
Paulo ora para que saibamos “qual é a esperança do seu
chamamento” (Ef
1:18).
Deus não apenas convida, Ele chama eficazmente (Rm 8:30; 2Tm 1:9). Seu chamado é
irresistível, pois procede de Sua vontade eterna.
No início de Efésios 1, aprendemos que Deus elegeu (Ef 1:4), predestinou (Ef 1:5) e planejou toda a
salvação em Cristo. Jesus, o Filho, cumpriu o plano, redimindo o povo escolhido
(Ef 1:7), e o Espírito Santo selou
esse povo como propriedade de Deus (Ef 1:13-14).
Quando Paulo fala da “esperança do chamamento”, ele se
refere à certeza de que Deus cumprirá todas as Suas promessas. O chamado
divino traz esperança, porque quem chama é fiel para completar a boa obra
(Fp 1:6).
Fomos chamados das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2:9); fomos libertos da
escravidão do pecado e tornados filhos de Deus (Jo 8:34-36; Rm 8:15). Essa é a nossa esperança,
a certeza de que Aquele que nos chamou também nos conduzirá até o fim,
dando-nos a vida eterna (Jo
10:28-29).
2. A
riqueza da glória da sua herança nos santos
Paulo também ora para que entendamos “qual a riqueza da
glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18).
Aqui, ele não está falando da nossa herança, mas da herança
de Deus.
Nós somos a herança de Deus (Dt 32:9; Ef 1:11). O povo que Ele salvou e
redimiu é Sua posse preciosa, o tesouro pelo qual Cristo morreu (Tt 2:14).
Essa herança é gloriosa e rica, pois consiste na comunhão
dos santos, a Igreja. Quando entendemos que fazemos parte dessa herança,
passamos a valorizar mais o corpo de Cristo (1Co 12:27), a comunhão dos irmãos e o
privilégio de congregar (Hb
10:24-25).
Em vez de sermos críticos, distantes ou desigrejados, passamos a
reconhecer que a Igreja, mesmo com suas imperfeições humanas, é o povo
glorioso de Deus, comprado pelo sangue de Cristo (At 20:28).
3. A
suprema grandeza do seu poder para com os que creem
Por fim, Paulo deseja que compreendamos “a suprema grandeza
do seu poder para com os que creem”, segundo “a eficácia da força do seu
poder” (Ef
1:19).
Esse poder é o mesmo poder que Deus exerceu em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos (Ef 1:20).
Deus agiu com poder para realizar o Seu plano. Paulo mostra,
logo no início do capítulo 2 de Efésios, o tamanho desse poder ao descrever a
nossa antiga condição espiritual:
“Estando
vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora
atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos
outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais”
(Efésios 2:1-3).
Ou seja, antes da ação poderosa de Deus, estávamos completamente
perdidos, espiritualmente mortos, escravizados pelo pecado, submissos às
paixões carnais e à influência de Satanás. Não havia em nós capacidade ou
vontade de buscar a Deus, vivíamos segundo o curso deste mundo, afastados da
vida que vem de Deus (Romanos
3:10-12; Efésios 4:18).
Mas é nesse cenário de total miséria espiritual que se manifesta
“a
suprema grandeza do seu poder para com os que cremos” (Efésios 1:19). Pois “Deus,
sendo rico em misericórdia, e por causa do grande amor com que nos amou,
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela
graça sois salvos” (Efésios 2:4-5).
Esse é o PODER que Paulo deseja que conheçamos, o poder que
vivifica os mortos espirituais, que tira o homem das trevas e o transporta para
o reino do Filho do Seu amor (Colossenses
1:13). É o poder que muda a natureza humana, que gera fé onde havia
incredulidade, e que sustenta os crentes até o fim.
O fato de crermos, permanecermos firmes e continuarmos sendo
transformados é resultado direto da eficácia da força desse poder. É por isso
que nossa salvação não depende da nossa força, mas da fidelidade de Deus, que
“há de completar a boa obra que começou em nós até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6).
Nada pode impedir o cumprimento do plano de Deus, e é nesse
poder irresistível e eficaz que se baseia nossa segurança eterna.
Nada além do supremo poder de Deus poderia tirar o homem
da morte espiritual e torná-lo participante da herança dos santos na luz (Cl 1:12-13).
Esse mesmo poder é o que nos sustenta na fé até o fim (1Pe 1:5). Por isso, cremos na segurança
eterna do crente: quem foi chamado e salvo pelo poder de Deus não pode
ser perdido, pois é Deus quem preserva o que Ele mesmo regenerou (Rm 8:38-39; Jo 6:37-39).
Aplicações
práticas
1. Tenha uma vida de oração constante, como Paulo, pedindo a Deus
iluminação espiritual e crescimento no conhecimento dEle (Cl 1:9).
2. Tire os olhos das circunstâncias e contemple a suprema
eficácia do poder de Deus, que atua em sua vida.
3. Se ainda luta contra pecados persistentes, lembre-se: não há nada que
o poder de Deus não possa vencer em você.
4. Busque revelação no sentido correto, não de segredos místicos,
mas de iluminação para compreender a profundidade das Escrituras (Sl 119:18; Jo 16:13).
5. Reflita: se você é crente há anos, quando foi a última vez que aprendeu
algo novo sobre Deus? Que o Senhor ilumine os olhos do seu coração para crescer
cada dia mais no conhecimento e na graça de Cristo (2Pe 3:18).
Conclusão
A oração de Paulo é uma das mais belas expressões da vida
espiritual madura:
- Ele ora por iluminação
e não por bens materiais;
- Busca o pleno
conhecimento de Deus, não o conforto terreno;
- E nos ensina que a
verdadeira sabedoria está em ver com os olhos do coração, guiados
pelo Espírito Santo.
Que essa seja também a nossa oração diária:
“Senhor, ilumina os olhos do meu coração, para que eu conheça a
esperança do teu chamamento, a riqueza da tua herança e a grandeza do teu
poder.”